Por: Altair Santos
Ícone mundial da arquitetura moderna, e em plena atividade aos 103 anos de idade, Oscar Niemeyer lançou em agosto de 2011 um livro que reúne os principais projetos que fez de templos religiosos. As Igrejas de Oscar Niemeyer traz imagens coloridas de 16 catedrais, igrejas e capelas. Em comum, elas têm suas estruturas erguidas em concreto armado. O material inspira toda a obra do arquiteto.

Oscar Niemeyer: projetos de igrejas inspirados pela fé no concreto como o principal material de trabalho
Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares foi o pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado, sobre o qual definiu sua obra. “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”, disse , em uma de suas memoráveis frases.
Formado em arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes, Oscar Niemeyer iniciou a consolidação de sua vasta obra com um símbolo da religiosidade: a igreja da Pampulha, que faz parte de um complexo arquitetônico construído entre 1940 e 1944 em Belo Horizonte, a pedido do então prefeito da capital mineira, Juscelino Kubitschek.
A ruptura de conceitos em relação às construções tradicionais de igrejas levou o arquiteto a ganhar notoriedade e a ousar ainda mais. Nos anos 1950, durante a construção de Brasília, projetos seus deram origem à catedral da nova capital, à capela do Palácio da Alvorada e à capela Nossa Senhora de Fátima. Anos mais tarde, ainda no Distrito Federal, ele teve executados seus projetos da Igreja Ortodoxa (1986) e da Catedral Militar (1992).
Niemeyer, que sempre se declarou ateu convicto e comunista, faz em As Igrejas de Oscar Niemeyer um relato do que o influenciou a projetar igrejas. “Nasci em uma família muito religiosa. Meu avô era religioso. Na casa onde eu morei, tinha cinco janelas, uma delas transformada em oratório pela minha avó. Tinha missa lá em casa. Era uma coisa muito natural”, conta.
Por isso, o arquiteto não para de receber propostas para elaborar projetos de igrejas. Os mais recentes são: uma mesquita em Argel, capital da Argélia; uma capela em Potsdam, na Alemanha, e a Catedral do Cristo Rei, em Belo Horizonte. Da concepção à materialização das obras, Niemeyer conta com a fundamental parceria do engenheiro civil José Carlos Sussekind, que desde 1978 substitui o já falecido Joaquim Cardozo. Essa simbiose entre arquiteto e engenheiro já rendeu até um livro: Conversa de Amigos – Correspondência entre Oscar Niemeyer e José Carlos Sussekind.
As Igrejas de Oscar Niemeyer é a terceira obra literária assinada pelo arquiteto. Além dela e o da parceria com José Carlos Sussekind, ele já havia lançado seu livro de memórias, em 1999: As Curvas do Tempo. Niemeyer também inspira outros autores, como o arquiteto gaúcho Eduardo Pizzato, que fez uma avaliação técnica dos principais projetos deste símbolo da arquitetura e lançou o trabalho Curvas nas Obras de Oscar Niemeyer, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na obra, há uma frase que define a relação entre Niemeyer e o material que é a essência de seu trabalho: “Ele explora a plasticidade do concreto armado como ninguém”.