Incertezas predominam em cenários da construção civil
Estudo mostra que otimismo do setor esbarra em problemas da política, no ajuste fiscal e no adiamento das reformas
A ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) promoveu dia 8 de agosto o evento “Cenários e Oportunidades para a Construção Civil”. No encontro, a economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ana Maria Castelo apresentou números sobre a realidade da cadeia produtiva da construção civil brasileira, principalmente após a greve dos caminheiros desencadeada em maio de 2018. Além disso, fez um diagnóstico sobre o segundo semestre de 2018 e o que esperar para o ciclo 2019-2021. “As incertezas continuam, mas a confiança tende a ser retomada”, avalia.
Além do impacto causado pela greve dos caminhoneiros, Ana Maria Castelo citou em sua palestra que as perspectivas positivas foram suplantadas pelo adiamento, mais uma vez, de medidas para reativar o crescimento do país. A economista pontuou que 2018 começou com um cenário externo favorável, a inflação dentro da meta, baixa taxa de juros e o setor projetando positivamente o ano. Porém, o otimismo ruiu por causa das incertezas políticas, do quadro fiscal preocupante e das dificuldades de promover reformas em ano eleitoral. Daí, veio a greve dos caminhoneiros, que foi a “cereja no bolo”.
Segundo a economista da FGV, 64% dos empresários do setor da construção civil consideraram que a greve dos caminhoneiros teve efeito negativo em seus negócios. Principalmente, porque os insumos não chegaram à obra, provocando atrasos no cronograma. “A greve causou muitos prejuízos e paralisou obras. Foi um componente importante nessa mudança de humor, mas a principal causa do desalento dos empresários é o ritmo de crescimento”, ressalta. No levantamento apresentado durante a palestra na ABCIC, o fato da economia não avançar preocupa 64,4% dos entrevistados.
Inflação dentro da meta e baixa taxa de juros são a base para a confiança em 2019
Pela ordem, as incertezas políticas também influenciam negativamente nos negócios para 56,4% dos empresários ouvidos, da mesma forma que a falta de confiança no atual governo (45,5%). Com todos esses fatores somados, a projeção é de que o PIB do setor, que começou em 2018 com perspectiva de crescer 1,5%, feche o ano com 0,5% positivo. No curto prazo, diz a economista, o cenário traz preocupações quanto à fraca melhora dos negócios. Por isso, o setor já projeta um novo ciclo a partir de 2019. A confiança, por menor que seja, parte do princípio de que o novo governo herdará uma inflação dentro da meta e baixa taxa de juros.
A Fundação Getúlio Vargas mede mensalmente o índice de confiança da construção. Em agosto, o indicador caiu 1,6, atingindo 79,4 pontos numa escala que vai até 200. O resultado reverteu a alta de 1,7 de julho e alcançou o mesmo patamar de agosto de 2017. Para Ana Maria Castelo, que coordena o estudo, a queda reverte uma tendência de melhora do indicador, que chegou a ser vislumbrada pelas empresas do setor. “O resultado sugere uma piora no cenário de retomada vislumbrado anteriormente pelas empresas da construção”, cita. O temor da economista é que o ano de 2018 termine com “níveis historicamente muito baixos”, o que impactaria na reaceleração do setor a partir de 2019.
Veja estudo apresentado no seminário da ABCIC. Clique aqui.
Entrevistado
Economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ana Maria Castelo, com base em palestra no evento “Cenários e Oportunidades para a Construção Civil”, da ABCIC
Contato: abcic@abcic.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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