Fogo em estruturas de concreto: até quanto elas suportam?
Obras que cumprem normas são projetadas para resistir acima de 1.000° C. Mas tipo de incêndio (interno ou ao ar livre) é que define grau de severidade
Obras que cumprem normas são projetadas para resistir acima de 1.000° C. Mas tipo de incêndio (interno ou ao ar livre) é que define grau de severidade
Por: Altair Santos
Dois incêndios que ocorreram na cidade de São Paulo, em novembro de 2013, levaram ao seguinte questionamento: qual a temperatura máxima a que estruturas de concreto podem ser expostas sem que comprometam a segurança? Para o professor-doutor Valdir Pignatta e Silva, da Universidade de São Paulo (USP) trata-se de uma pergunta cuja resposta depende de como a obra foi executada e de como o fogo a atingiu – se externa ou internamente. No caso do acidente que levou à interdição da ponte estaiada Oreste Quércia, mais conhecida como Estaiadinha, foi um incêndio ao ar livre. Já o auditório do Memorial da América Latina acabou engolido internamente pelo fogo.
Valdir Pignatta e Silva alerta que somente inspeções criteriosas nas duas estruturas atingidas em São Paulo podem definir o grau dos danos causados pelo fogo. Porém, ele esclarece que cada uma reage de uma maneira. A começar pelo tipo de incêndio. “Um incêndio interno pode ter diversos graus de severidade, em vista das muitas variáveis intervenientes no processo. Genericamente, um incêndio ao ar livre é menos danoso”, explica. Outro aspecto relevante é a idade da obra. No caso do auditório do Memorial da América Latina, ele foi construído antes da ABNT NBR 15200:2012 – Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio. Portanto, não seguiu a normalização existente sobre exposição ao fogo.
Vale ressaltar ainda que, em relação às pontes, viadutos e passarelas de concreto, por serem baixíssimas as probabilidades de ocorrência de um incêndio em estruturas dessa natureza, não é costume, nem obrigação legal, dimensioná-las para o caso de incêndio. Por isso, Valdir Pignatta e Silva realça que pontes expostas ao fogo talvez careçam de uma inspeção ainda mais cuidadosa. “Deve-se verificar se houve redução de resistência do concreto e do aço da armadura. Após essa avaliação, se necessário, deve ser refeito o cálculo estrutural e a recuperação da estrutura”, cita.
No caso da ponte estaiada Oreste Quércia, a análise preliminar detectou que houve danos em seis estais que sustentam a estrutura – o laudo definitivo deve sair apenas no final de janeiro de 2014 e até lá ela seguirá interditada para o tráfego de veículos e pedestres. A construção foi atingida por um incêndio durante a desocupação de uma favela que se localizava embaixo da obra. Já o auditório do Memorial da América Latina não tem prazo para que seja emitido o laudo com a causa do acidente. O certo é que sua recuperação, desde que possível, deverá seguir a ABNT NBR 15200:2012. “Quando os engenheiros de estruturas projetam de acordo com a norma, o concreto resiste ao calor, mesmo diante de fogo severo”, afirma Valdir Pignatta e Silva.
O professor-doutor da USP ainda lembra que não há como arbitrar uma temperatura máxima que possa comprometer as estruturas de concreto, pois cada caso é um caso. “Um incêndio interno pode atingir mais de 1.000° Celsius. Se o projeto for bem feito, ou seja, tiver cálculos estruturais acompanhados de cálculos térmicos que definam a temperatura mais elevada que a obra pode suportar, não haverá uma temperatura que leve o concreto a correr risco. No entanto, se o projeto não seguir as normas de engenharia, pode haver riscos devido ao incêndio. Não se pode precisar a que temperatura do incêndio isso poderá ocorrer, pois depende muito da estrutura. Cada caso é um caso. Não há como se arbitrar um valor”, finaliza.
Leia algumas publicações de Valdir Pignatta e Silva sobre segurança de estruturas de concreto em situação de incêndio
Concreto em incêndio (concrete in fire)
Estruturas de aço para arquitetos (steel for architects)
Revista da Estrutura de Aço (Brazilian Journal – steel and composite)
Entrevistado
Engenheiro civil Valdir Pignatta e Silva, professor-doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e autor de sete livros e de mais de 180 artigos publicados, a maioria sobre segurança de estruturas em situação de incêndio
Contato: valpigss@usp.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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