Fachada incendiária causa tragédia em prédio britânico

28 de junho de 2017

Fachada incendiária causa tragédia em prédio britânico

Fachada incendiária causa tragédia em prédio britânico 600 399 Cimento Itambé

Elementos de alumínio revestidos com polietileno, e que recobriam parte externa do edifício em Londres, ajudaram a propagar o fogo

Por: Altair Santos

Investigações preliminares sobre o incêndio no edifício Grenfell Tower, em Londres, e que resultou na morte de 79 pessoas, revelam que o material usado para revestir a fachada do prédio foi o responsável por propagar o fogo que se alastrou pelos 24 pavimentos da obra. A tragédia só não teve maiores proporções porque a estrutura da edificação foi construída 100% em concreto, suportando altas temperaturas e preservando as armaduras, sem causar desabamento.

Edifício Grenfell Tower: prédio de habitação popular em Londres passou por reforma e recebeu fachada que alimentou incêndio

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A resistência do concreto ao fogo é atestada pelo professor-doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Valdir Pignatta e Silva, autor de sete livros e de mais de 180 artigos publicados sobre segurança de estruturas em situação de incêndio. “Quando os engenheiros de estruturas projetam de acordo com a norma, o concreto resiste ao calor, mesmo diante de fogo severo”, diz o especialista. Ou seja, se tivesse um revestimento antifogo, o incêndio que começou por causa de um curto-circuito em uma geladeira poderia ter sido de pequenas proporções no Grenfell Tower.

O edifício passou por retrofit em 2012 e sua fachada foi revestida com o material conhecido como Reynobond PE. Trata-se de painel de alumínio, cuja camada interna é preenchida por polietileno para melhorar seu desempenho térmico e acústico. Foi esse produto que serviu de combustível para que o fogo se propagasse rapidamente pelo prédio localizado na capital britânica. Por precaução, a fabricante do Reynobond PE o retirou do mercado em todo o mundo.

Estima-se que pelo menos 600 prédios na Inglaterra tenham o mesmo tipo de revestimento. Na Alemanha e nos Estados Unidos, o uso do material já era proibido desde 2015. No Brasil, o custo alto do material (cerca de 300 reais o m²), além dos rumores de ter sido reprovado em ensaios de flamabilidade – aliado ao impacto causado pela tragédia na boate Kiss, em 2013, e que matou 242 pessoas em Santa Maria-RS -, limitou o mercado do Reynobond PE. Mesmo assim, é possível vê-lo em fachadas de galpões, indústrias e shopping centers no país.

Revisão das normas técnicas

Prédios que também receberam o revestimento Reynobond PE foram interditados em Londres, por medida de segurança

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Quanto ao Grenfell Tower, os organismos de segurança e engenharia britânicos ainda não decidiram qual vai ser o destino do edifício, mas a imprensa londrina especula que ele será implodido. Construído para servir de habitação popular aos moradores do bairro de Kensington, na região oeste de Londres, o prédio também apresentava graves problemas em sua segurança interna, como ausência de extintores em alguns andares.

Para evitar novas tragédias, o governo britânico e a prefeitura de Londres interditaram todos os outros edifícios habitacionais semelhantes ao Grenfell Tower, e que também receberam o revestimento de Reynobond PE. Os prédios passarão por inspeções e reformas, para que os moradores possam retornar com segurança. Um fundo de 5 milhões de libras – algo como 25 milhões de reais – foi liberado para que toda essa operação seja realizada. O governo do Reino Unido também já determinou que as normas que regulamentam a construção civil britânica sejam revistas, principalmente no que se refere a fachadas de edifícios e resistência ao fogo.

Saiba mais sobre normas contra incêndio em edificações no Brasil.

Entrevistado
– Valdir Pignatta e Silva, professor-doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)
– Complemento do texto com base em reportagens publicadas em jornais britânicos como The Guardian, Daily Mail, The Times e Daily Mirror

Contato
valpigss@usp.br

Crédito Fotos: Time.com e The Guardian

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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