Estudo mostra perfil do trabalhador da construção civil no país
Perfil típico de um trabalhador da construção civil é homem, tem cerca de 41 anos e o ensino fundamental incompleto
A escassez de mão de obra na construção civil é uma preocupação constante e tem sido amplamente debatida em eventos como o Modern Construction Show e Concrete Show. Com o objetivo de compreender melhor o perfil dos trabalhadores do setor e enfrentar esse grande desafio, o SindusCon-SP encomendou um estudo à consultoria Ecconit, intitulado “Caracterização do perfil socioeconômico da mão de obra do setor da construção civil brasileira e paulista”.
“Este estudo traz uma base sólida para enfrentamento da falta de mão de obra. Estamos atuando em diversas frentes para encontrar alternativas para esta questão, como o incentivo à industrialização, a capacitação de profissionais e a busca de novos ingressantes no setor”, Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP.
Perfil demográfico do trabalhador da construção civil
De acordo com o estudo, os profissionais atuantes na construção civil brasileira, incluindo assalariados com ou sem carteira assinada e trabalhadores por conta própria, tanto formais quanto informais, somam 7,065 milhões de pessoas.
Desses, 1,582 milhão estão no estado de São Paulo, conforme dados de 2023. No cenário nacional, o perfil típico do trabalhador do setor é de um homem com aproximadamente 41 anos, que possui ensino fundamental incompleto. A maioria atua de forma autônoma e informal, dedicando cerca de 37,9 horas por semana à atividade e recebendo uma renda média mensal de R$ 2.116,13 no ano passado. As mulheres representam apenas 4,4% desse contingente.
No Estado de São Paulo, o trabalhador médio da construção civil também é homem, porém com cerca de 43 anos e ensino fundamental completo. A maior parte trabalha de maneira autônoma e informal, cumprindo uma jornada semanal de aproximadamente 38,8 horas e registrando uma renda média mensal de R$ 2.552,99 em 2023.
“Ao cruzarmos estes dados do estudo com as informações mais recentes do IBGE, nós vimos um processo de envelhecimento que está ocorrendo em toda a economia – e em várias partes do mundo também. Por conta disso, vemos algumas tendências nas projeções. Se em 2020, temos cerca de 65% da população na faixa etária de 15 a 59 anos, espera-se que em 2070, essa população seja de 50%”, informa Ana Maria Castelo, sócia da Ecconit.
Formalidade x informalidade
Entre 2012 e 2023, a informalidade na construção civil brasileira aumentou de 63,1% para 67%, enquanto a remuneração média se manteve estável, com alta de 0,3% no período, mas cresceu 10,3% em relação a 2019.
Em São Paulo, a informalidade recuou de 63,6% para 62,6%, mas a remuneração média caiu 4,5%, apesar de um aumento de 9,8% em comparação a 2019.
Trabalhadores formais representam 25,5% dos ocupados no setor nacionalmente, com jornada semanal de 41,5 horas e renda média de R$ 2.859,89 em 2023, um aumento de 2,5% desde 2019. As mulheres compõem 9,2% desse grupo. Em São Paulo, os formais são 27,1% dos ocupados, têm média de R$ 3.661,09 (alta de 8,3% desde 2019) e mulheres representam 12,4%.
Desafios
Ana Maria aponta que a cada ciclo de crescimento, a construção enfrenta o desafio da escassez de mão de obra. “Essa é uma questão que está diretamente associada à sua característica principal – ser bastante intensiva em mão de obra. A participação da ocupação na construção é superior à sua participação no PIB. Apesar de ser um fator positivo o fato de o setor empregar muitas pessoas, é também o calcanhar de aquiles”, explica.
Além disso, Ana Maria também pontua que ao longo dos anos, a população ocupada no setor melhorou sua formação e tornou-se mais madura, o que é também consequência da dificuldade em atrair jovens. “Vale ressaltar que o envelhecimento é fenômeno da sociedade brasileira que em 2070 terá 38% de sua população com mais de 60 anos. Por outro lado, apenas 25,4% serão homens entre 15 e 59 anos. É um fenômeno não só presente na construção brasileira, está também presente em outros setores. Só que o setor da construção no Brasil vem enfrentando dificuldades adicionais em virtude características atuais desta área”, destaca.
Dentre outros pontos de atenção elencados por Ana Maria, está a baixa participação das mulheres no setor da construção, além de recursos fundamentais para aumento da produtividade, através de investimentos em maior industrialização. “O uso de processos mais industrializados pode tornar o setor mais atraente para jovens e, principalmente, mulheres. Este é um grupo que possui um potencial muito forte”, indica.
Em sua conclusão, Castelo sugere investimentos na formação e capacitação dos jovens como forma de divulgar as potencialidades do trabalho no setor. “O Brasil tem cerca de 20% da população brasileira de jovens entre 15 e 29 anos que não trabalham nem estudam. Nós temos um grande desafio de tornar o setor atrativo. Isso também está ligado com a industrialização, modernização. Mas isso não basta – como estamos falando de pessoas que não trabalham nem estudam, precisamos investir na qualificação”, conclui.
Fonte
Ana Maria Castelo é sócia da Ecconit. Mestre em economia pela Universidade de São Paulo (USP), desde 2010 é coordenadora de Projetos da Construção na Fundação Getulio Vargas/IBRE onde comanda e desenvolve estudos e análises setoriais. É responsável pela divulgação do INCC-M e da Sondagem da Construção da FGV.
Contato: Assessoria de imprensa Sinduscon-SP: dbarbara@sindusconsp.com.br
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
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