Desabamentos expõem patologias do concreto em Brasília
Patrimônio histórico e cultural da humanidade, capital federal vê legado de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa ruir por falta de manutenção
Patrimônio histórico e cultural da humanidade, capital federal vê legado de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa ruir por falta de manutenção
O conjunto arquitetônico e urbanístico de Brasília, concebido por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, tornou-se patrimônio histórico e cultural da humanidade em 1987. Passados 30 anos, esse legado corre sério risco. As patologias do concreto ameaçam desde a infraestrutura viária da capital federal até as habitações funcionais e os palácios.
No mês de fevereiro de 2018, dois desabamentos ocorridos no intervalo de uma semana mostraram que estruturas de concreto erguidas há quase 60 anos estão seriamente ameaçadas por falta de manutenção. Primeiro, foi a laje de um edifício funcional na asa Norte, que caiu sobre carros; depois, a queda de um viaduto no centro da capital federal.
Para completar, foi detectada uma rachadura na rampa do Palácio do Planalto – um ícone do projeto original de Oscar Niemeyer. Para a presidente do Crea-DF, Fátima Có, a deterioração das estruturas é “uma tragédia anunciada”. “Solicitamos diversas vistorias em áreas críticas do Plano Piloto, mas não fomos atendidos. São estruturas antigas, que não passaram pelas vistorias solicitadas. Podemos dizer que foi uma tragédia anunciada”, diz.
Professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), e Ph.D em patologias do concreto, Paulo Helene já frisou em uma de suas palestras que existe o efeito Rüsch, que é quando as estruturas de concreto “gritam” para demonstrar que estão sob risco. “A fim de detectar a manifestação do material é necessário fiscalizar”, alerta o especialista.
Parece que nem inspeção visual tem sido feita
As patologias do concreto se manifestam de várias formas, e, para evitá-las, a prevenção e a manutenção são os melhores remédios. Para o professor do departamento de engenharia de estruturas da USP, Mounir Khalil El Debs, a percepção é de que o Brasil não está dando a devida atenção às suas estruturas de concreto. “No mínimo, a inspeção visual já dá uma indicação da saúde da obra. Mas nem isso parece que está sendo feito”, destaca.
Na visão do engenheiro Reynaldo Barros, superintendente de Integração do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA/Crea) os vários organismos públicos e privados ligados à engenharia deveriam somar esforços em ações de prevenção e manutenção. Ele pediu uma legislação mais eficaz sobre obras públicas e uma melhor aplicação dos recursos orçamentários. “Precisamos efetivamente de planejamento e precisamos saber priorizar. Não dá pra brincar com engenharia”, destaca.
A inspeção das estruturas e a análise do concreto armado das construções que desabaram em Brasília estão a cargo do departamento de engenharia civil da UnB (Universidade de Brasília). O Crea-DF também acompanha a conclusão dos laudos, que vão decidir por uma destas duas opções, no caso do viaduto que caiu no setor conhecido como Eixão: 1. Reconstruir a parte que desabou e reforçar as demais; 2. Demolir o viaduto e construir um novo. Neste caso, o engenheiro-calculista Bruno Contarini foi acionado para que o projeto de um eventual novo viaduto siga o original e não ameace Brasília de perder o título de patrimônio da humanidade. Se é que já não esteja ameaçado.
Ouça áudio do professor Mounir Khalil El Debs sobre patologias do concreto
Entrevistados
Crea-DF, CONFEA/Crea, UnB (via assessorias de imprensa)
Contato: comunicacao@creadf.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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