Construtoras buscam soluções para minimizar escassez de mão de obra
Estudo da CNI revela que empresas investem em “canteiros-escolas”, na migração de trabalhadores e na valorização salarial para reter os profissionais qualificados.
Estudo da CNI revela que empresas investem em “canteiros-escolas”, na migração de trabalhadores e na valorização salarial para reter os profissionais qualificados
Por: Altair Santos
Recente estudo divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) confirma que o setor da economia que mais encontra dificuldades com a falta de qualificação da mão de obra é a construção civil. Divulgada no final de abril de 2011, a Sondagem Especial da Construção Civil revela que 89% das construtoras instaladas no país enfrentam problemas para contratar trabalhadores, principalmente para os canteiros de obras, como pedreiros e serventes. “Isso é reflexo da baixa qualidade da educação básica, o que gera dificuldade em aprender um ofício e de se adaptar às novas tecnologias. Essa é a origem desse descompasso”, diz o gerente de pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.
Para suprir esse déficit, algumas empresas passaram a instalar “canteiros-escolas” para qualificar os colaboradores. É o que constatou o estudo da Confederação Nacional da Indústria. “As empresas estão contratando pessoas não totalmente qualificadas e ensinando o ofício no próprio canteiro de obras. Outra opção é a migração de trabalhadores, indo principalmente das regiões norte e nordeste para sul e sudeste”, afirmou Renato da Fonseca, alertando que essa é uma tendência constatada nas grandes companhias da construção civil. “As grandes empresas têm unidades em outros lugares e é mais fácil para elas trazerem pessoas de outras regiões”, completa.
Outra constatação feita pelo estudo da CNI é o aumento dos salários e dos benefícios ofertados para segurar os profissionais qualificados. “Grande parte das empresas está aumentando salários e benefícios. Outras pesquisas confirmam isso, como a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE e a da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Então, percebe-se um aumento significativo de salários dos profissionais da construção civil. E faz todo o sentido, pois com a escassez de profissionais qualificados há uma valorização maior dos já qualificados”, analisa o gerente de pesquisa da confederação.
A busca incessante por profissionais com experiência para atuar na construção civil tem causado problemas para as pequenas empresas do setor, que não conseguem oferecer salários para competir com as corporações maiores. “Algumas estão enfrentando uma queda de produção significativa, porque, quando perde um trabalhador ou precisa contratar, a pequena empresa tem que encontrar o trabalhador já qualificado. Ela não tem condições de ficar qualificando a mão de obra que vai usar”, observa Renato da Fonseca. “Isso se reflete na obra, com o atraso do cronograma ou a queda na qualidade do empreendimento”, complementa.
A Sondagem Especial da Construção Civil revela que, por conta do gargalo da falta de mão de obra, 64% das empresas do setor estão qualificando o trabalhador no próprio canteiro. A pesquisa mostra ainda que 45% das construtoras adotaram a política de reter os profissionais através de aumento salarial e oferta de benefícios. Outro detalhe do estudo demonstra que 43% das empresas têm recorrido à terceirização em algumas etapas das obras para suprir a falta de mão de obra. A sondagem da CNI ouviu 385 empresas que empregam acima de 20 trabalhadores. Do total, 191 eram pequenas, 145 médias e 49 grandes corporações.
Mais empregos
Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, o Brasil tem atualmente 147 mil empresas atuando na construção civil. Para 2011, de acordo com recente boletim do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) o setor deve abrir mais 168.340 novos postos de trabalho. Hoje, o país tem 2.964.163 trabalhadores atuando na construção civil. Destes, 171.458 estão no Paraná, 159.331 no Rio Grande do Sul e 108.142 em Santa Catarina.
Para 2011, na região Sul, o Paraná também é o que deve abrir mais vagas: 13.685, diante de 10.950 no Rio Grande do Sul e 5.392 em Santa Catarina. Trata-se do 4.º estado com a melhor projeção de empregos para este ano, ficando atrás de Minas Gerais (24.418), Pernambuco (22.624) e São Paulo (20.660).
Entrevistado
Renato da Fonseca, economista e gerente-executivo da Unidade de Pesquisa, Avaliação e Desenvolvimento da CNI (Confederação Nacional da Indústria)
Contato: rfonseca@cni.org.br
Créditos Fotos: Rose Brasil Rose Brasil/ABr/Carlos Rudney/CNI
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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