Cidadania caminha pelas calçadas

11 de julho de 2013

Cidadania caminha pelas calçadas

Cidadania caminha pelas calçadas 1024 682 Cimento Itambé

Segundo Benedito Abbud, um dos principais especialistas em mobilidade para pedestres do país, poder público deve assumir calçamento nas cidades

Por: Altair Santos

O artigo 5º da Constituição Federal define uma série de direitos do cidadão brasileiro, entre eles o de ir e vir. Por isso, o arquiteto e paisagista Benedito Abbud passou a defender que o poder público assuma integralmente a construção de calçadas no país. Hoje, em boa parte dos municípios brasileiros, sobretudo nas capitais, essa responsabilidade é do morador. O resultado são pavimentos irregulares, sem padronização, o que acaba gerando uma visão negativa do ambiente urbano. “A cidadania passa pelas calçadas, pois consta na constituição o direito de ir e vir com segurança. Se é lei, o poder público é quem deve instalar esses equipamentos e preservá-los”, prega Abbud.

Benedito Abbud: morador não pode ser responsável pela calçada, mas sim o poder público.

No entender do arquiteto, calçadas bem concebidas, sustentáveis e acessíveis propiciam cidades mais civilizadas, com melhor qualidade de vida para seus habitantes e, consequentemente, com mais cidadania. “É através das calçadas que se tem a imagem da cidade“, diz Benedito Abbud, que desde 2006 vem trabalhando com o projeto Calçada Viva. “Ele foi pensado para ser aplicado pelo poder público. Várias prefeituras se interessaram por alguns dos seus aspectos e algumas estão estudando a viabilidade de implantação”, revela. “A ideia é que, em cada cidade, uma equipe de urbanistas pense as calçadas de acordo com a geografia da localidade e até os aspectos culturais e históricos do município”, completa.

No projeto liderado por Abbud, as calçadas devem ser mais largas, com faixas de serviços para arborização, rampas para cadeirantes e piso táctil de orientação e alerta. “A projeção de calçadas vivas incentivaria as pessoas a caminhar mais. Afinal, a maioria das nossas calçadas são ruins, com desníveis, buracos, pisos irregulares, degraus, entre outros obstáculos. Isso causa acidentes. Se é difícil uma pessoa sem limitações físicas andar a pé, imagina os cadeirantes, cegos e até mesmo os idosos e as mães com carrinhos de bebê? As calçadas deveriam ser acessíveis para o uso comum de todos”, afirma o arquiteto.

Além disso, Abbud defende que deve haver um planejamento em conjunto com as Companhias fornecedoras de energia, água, gás e telefone que quebram constantemente o piso das calçadas, resultando em prejuízos estéticos e obstáculos para o passeio (buracos, emendas e caimentos inapropriados). Nesse caso, são indicados produtos e técnicas para as chamadas calçadas inteligentes, que funcionam como uma galeria no subsolo, permitindo que as fiações da rede elétrica, telefônica, de TV, fibras ópticas, rede de água e esgoto sejam embutidas. A medida ajudaria na manutenção dos serviços sem necessidade de quebrar o piso e ainda diminuiria a poluição visual da cidade.

O projeto Calçada Viva segue os seguintes parâmetros:

Abbud defende que calçamento deve ser uniforme em toda a cidade.

– Contribuir para amenizar o ambiente árido de muitas ruas, com projetos paisagísticos para calçadas ajustados à realidade de cada rua, bairro, e inseridos no contexto de uma megalópole numa região de Mata Atlântica.

– Promover a aproximação da comunidade com o meio ambiente natural, com o plantio de ervas e árvores frutíferas naturais de Mata Atlântica nas calçadas, conforme viabilidade.

– Garantir boa acessibilidade para todos no uso dos passeios.

– Aumentar a permeabilidade do solo, colaborando para evitar enchentes e para a reposição dos aquíferos.

– Contribuir para a diminuição da poluição visual e sonora.

– Melhorar a qualidade do ar na cidade, reduzindo os gases tóxicos e nocivos ao clima.

– Melhorar a qualidade de vida da comunidade.

Entrevistado
Benedito Abbud, arquiteto, urbanista e paisagista
Currículo
– Com 40 anos de experiência, Benedito Abbud é formado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na qual foi professor na disciplina de paisagismo de 1980 a 1985. Ministrou aulas, também, na Faculdade de Arquitetura da PUC – Campinas de 1977 a 1981. É pós-graduado e mestre pela FAU-USP
– Em 1981, fundou sua própria empresa, que hoje conta com aproximadamente 5.200 projetos paisagísticos desenvolvidos em todo Brasil e em outros países, como Argentina, Uruguai e Angola. Abbud foi presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap) durante os biênios de 1987-1988 e 1999-2000
Contatos: www.beneditoabbud.com.br / babbud@beneditoabbud.com.br
Crédito: Nicola Labete / Michel Willian / SMCS

Jornalista responsável: Altair santos – MTB 2330
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