Arquitetura de grife assina obras de alta renda no Brasil
Escritórios internacionais conquistam projetos para a classe AAA, mas profissionais brasileiros temem prejuízo ao contexto arquitetônico nacional
Escritórios internacionais conquistam projetos para a classe AAA, mas profissionais brasileiros temem prejuízo ao contexto arquitetônico nacional
Por: Altair Santos
Na língua inglesa, já existe até uma palavra para designá-los: starchitects. Traduzindo: são arquitetos-celebridades, que no Brasil começam a atrair a atenção de construtoras voltadas para a classe AAA. As empresas enxergam na assinatura de um profissional reconhecido internacionalmente um atrativo a mais para se diferenciar da concorrência na disputa por clientes de alta renda. “Isso é uma consequência de o Brasil estar se inserindo no contexto da arquitetura global. No entanto, devemos nos proteger daqueles escritórios altamente comerciais em seus países de origem, os quais entram aqui desencadeando uma competição insana de preço de projetos”, alerta o arquiteto Sérgio Roberto Parada, conselheiro do CAU-DF (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal).
Um dos primeiros a embarcar neste novo segmento do mercado brasileiro foi o espanhol Fermín Vázquez. Ele assina um bairro sustentável de aproximadamente 350 hectares em Brasília e três edifícios em São Paulo: um comercial e dois residenciais. No portfólio do arquiteto está a torre Agbar, arranha-céus de 142 metros de altura construído em Barcelona. Também já tem obras assinadas no Brasil o polonês Daniel Libeskind, que possui em seu currículo projetos como o Ground Zero, em Manhattan, e o Museu Judaico de Berlim. “Este fato ocorre em todos os grandes países e civilizações, ou seja, arquitetos que com suas capacidades criativas espalham seu produto por várias regiões do planeta. O que se deve estar atento é se esse tipo de trabalho irá agregar conhecimento da arquitetura para o nosso contexto brasileiro”, frisa Sérgio Parada.
Os imóveis brasileiros, cujo projeto tem a assinatura de uma celebridade da arquitetura, costumam encarecer entre 30% a 50%, ou seja, o metro quadrado pode passar a custar até R$ 20 mil. “O CAU tem debatido esse tema, e inclusive fiscalizado com mais intensidade. O problema é que, na maioria dos casos de importação de projetos em nosso país, infelizmente a qualidade dos trabalhos são discutíveis”, critica Sérgio Parada, destacando que em outras nações há uma reserva de mercado que dificulta o trabalho de arquitetos brasileiros. “Este caminho inverso é muito pequeno. Diria que é desproporcional à vinda de colegas estrangeiros para elaborar projetos aqui. Além disso, muitos deles nem saem de seus escritórios fora do país para sentir nosso contexto aqui.”
O arquiteto afirma ainda que esse tipo de movimento é bem diferente do experimentado pelo Brasil e, principalmente pelos Estados Unidos, no período pós-Segunda Guerra Mundial. “Naquela época houve uma migração muito grande de profissionais, que, tanto aqui como nos Estados Unidos, criaram escolas com grande conteúdo e pensamentos arquitetônicos. Eles construíram um acervo cultural da arquitetura mundial, e até hoje nos enchem os olhos quando vemos e admiramos suas grandes obras. No entanto, na maioria dos casos de importação de projetos em nosso país, infelizmente não é isso o que ocorre. O Brasil tem atualmente 142 mil arquitetos. Ainda que uma parte deles não exerça a profissão, há excelentes nomes que podem agregar valor às obras sem precisar importar especialistas”, defende Sérgio Parada.
Entrevistado
Arquiteto Sérgio Roberto Parada, conselheiro do CAU-DF (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal)
Contatos
sparada@sergioparada.com
www.sergioparada.com.br
Créditos Fotos: Divulgação/Fermín Vázquez Arquitetos/CAU-BR
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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