Desabamentos em edificações: como prever riscos e garantir a segurança estrutural

Apesar dos avanços normativos e tecnológicos, falhas de projeto, execução e manutenção estão entre as principais causas de colapso estrutural

Os desabamentos continuam entre as ocorrências mais graves da construção civil, gerando impactos humanos, ambientais e econômicos que podem se estender por décadas. Embora estruturas bem projetadas apresentem, em condições normais, um risco extremamente baixo de falhas, esse cenário se altera significativamente diante de uso inadequado, erros de execução ou ausência de manutenção adequada.

Segundo o engenheiro Gilberto Luiz, especialista em patologia de obras, os desabamentos podem ocorrer sempre que o limite de resistência se iguala às solicitações, situação que representa o ponto de ruptura de qualquer sistema estrutural.

O engenheiro Henrique Palumbo, por sua vez, aponta para os sinais de alerta que muitas vezes aparecem antes do colapso. Trincas, recalques diferenciais, fissuras e corrosão de armaduras são alguns dos indícios de que a estrutura já apresenta manifestações patológicas relevantes. “A sobrecarga indevida, como adição de pavimentos sem reforço ou remoção de elementos estruturais em reformas, pode levar ao aumento excessivo das solicitações e comprometer a estabilidade global”, alerta.

Trincas, recalques diferenciais, fissuras e corrosão de armaduras são alguns dos indícios de que a estrutura já apresenta manifestações patológicas relevantes
Crédito: Acervo Pessoal/Gilberto Luiz

As falhas de execução permanecem entre os fatores mais críticos, conforme destaca o engenheiro Gustavo Selig, CEO do Grupo Hestia. Ele reforça que nem mesmo um bom projeto é capaz de garantir segurança se a obra for mal executada, seja pelo uso de materiais inadequados, pela concretagem deficiente ou pela montagem incorreta das armaduras. “A falta de manutenção, somada a intervenções não acompanhadas por profissionais habilitados, completa o grupo de fatores que mais contribuem para desabamentos no Brasil”, aponta.


Como os riscos são calculados e controlados


A segurança estrutural é quantificada por métodos que buscam assegurar que as solicitações atuantes permaneçam sempre abaixo da capacidade resistente da estrutura. No Brasil, predomina o método determinístico, que estabelece margens de segurança por meio da majoração das cargas e da redução das resistências. “A segurança em projeto é alcançada a partir da administração prudente da diferença entre a resistência e a solicitação das estruturas, atendendo a critérios econômicos, sociais e culturais”, afirma Gilberto Luiz.

Há também metodologias mais recentes, como a análise probabilística, empregada em avaliações avançadas de confiabilidade. Selig observa que esse método representa o futuro, pois “permite uma avaliação mais precisa da probabilidade de falha, resultando em estruturas mais seguras e ao mesmo tempo mais econômicas”.

A etapa de projeto é determinante para o desempenho estrutural. Palumbo explica que é nesse momento que são definidos o sistema estrutural, a modelagem, o dimensionamento e o detalhamento de todos os elementos. Ele ressalta que a concepção preliminar envolve sondagem, definição das cargas atuantes e compatibilização com as demais áreas, além da emissão da ART que formaliza a responsabilidade técnica. Já na execução, o controle rigoroso da obra e o recebimento adequado de materiais garantem a conformidade com o projeto.

Para o engenheiro Sady Ivo Pezzi Júnior, especialista em gestão, engenharia e estratégia, os desabamentos são sempre resultado de uma cadeia de fatores que se acumulam ao longo do tempo. Ele reforça que a cultura da prevenção ainda precisa amadurecer no setor. “Os riscos de desabamento estão diretamente ligados ao não cumprimento dos projetos, às falhas de execução, ao uso de materiais fora das especificações e à ausência de manutenção periódica. São eventos evitáveis, desde que haja responsabilidade técnica em todas as fases, do estudo de solo à entrega da obra e manutenção ao longo dos anos”, informa.

No uso e operação, as inspeções periódicas são fundamentais. Palumbo recomenda intervalos de cinco anos para avaliações técnicas completas. Gilberto Luiz completa que o respeito ao manual do proprietário, às diretrizes da NBR 5674 e aos laudos necessários em reformas evita problemas cumulativos que, se ignorados, podem evoluir para colapso.

Normas, prevenção e os impactos de um colapso

As normas técnicas brasileiras desempenham papel fundamental na prevenção de desabamentos. Entre as principais referências estão a NBR 6118 para estruturas de concreto, a NBR 8800 para estruturas de aço e mistas, a NBR 7190 para estruturas de madeira e a NBR 6120 para cargas variáveis. Complementarmente, a NBR 8681 define critérios gerais de segurança, enquanto a NBR 15575 estabelece requisitos mínimo de desempenho das edificações habitacionais. São documentos que, quando seguidos rigorosamente, asseguram que a obra receba o tratamento técnico adequado desde a concepção até a manutenção. “Erros de projeto, embora menos frequentes devido ao avanço das normas técnicas e ao rigor dos profissionais envolvidos, ainda constituem uma ameaça potencial à segurança das construções. Equívocos na etapa de dimensionamento ou na consideração das cargas atuantes podem resultar em estruturas vulneráveis ao colapso”, informa Palumbo.

Os prejuízos decorrentes de um colapso estrutural atingem proporções amplas. Selig destaca que os impactos humanos são sempre os mais graves, com mortos, feridos e perdas emocionais profundas. Os danos financeiros também são expressivos. “Em 2023, o Brasil gastou mais de R$ 260 milhões apenas com prejuízos relacionados a desabamentos, sem considerar perdas indiretas como interdições, ações judiciais e desvalorização imobiliária”, avalia. Há também efeitos sobre a reputação de construtoras, profissionais e até de órgãos fiscalizadores.

Para Gilberto Luiz, um desabamento envolve prejuízos que podem incluir perdas de vidas, danos ambientais, financeiros e a perda de credibilidade dos construtores. Os especialistas concordam que a maior parte desses eventos poderia ser evitada com planejamento adequado, execução responsável e manutenção contínua.

Colapso pode ser evitado com planejamento adequado, execução responsável e manutenção contínua Crédito: Envato

Mais do que um problema técnico, o desabamento é um alerta sistêmico que reforça a necessidade de rigor, transparência e compromisso em todas as etapas da construção civil. Quando cada fase é conduzida com responsabilidade, os riscos são reduzidos e a segurança dos usuários é efetivamente preservada.

Entrevistados

Henrique Augusto Palumbo
é graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pós-graduado em Georreferenciamento (UFPR), Engenharia Ambiental (UFAM), Engenharia de Segurança de Barragens (IDD), associado ao Comitê Brasileiro de Barragens.

Gustavo Selig é graduado em Engenharia Civil pela PUC-PR, mestre em Administração de Empresas e Negócios pela FGV-PR. Cofundador e presidente do Grupo Hestia, atuando há mais de 30 anos no mercado imobiliário paranaense.

Gilberto Luiz é graduado em Engenharia Civil pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), especialista em Patologia nas Obras Civis e Engenharia de Estruturas, diretor técnico da empresa Ad Fiducia Avaliações e Perícias de Engenharia, professor de cursos de pós-graduação e extensão na área de ensaios tecnológicos, inspeção de estruturas e perícias de engenharia, membro do Instituto Catarinense de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape/SC).

Sady Ivo Pezzi Júnior é graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pós-graduação em Qualidade pelo Tecpar e MBA em Gestão de Marketing pela FAE. Reúne vasta experiência e especialização em áreas de negócios, comercial, marketing, finanças e estratégia. Atualmente, é Head Comercial e Marketing na Geplan Gerenciamento, professor e orientador de Pós-graduação em diversas universidades (PUC-PR, POSITIVO, UNINTER, ESIC, EBS, entre outras).

Contatos
henriqueapalumbo@gmail.com
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Jornalista responsável
Ana Carvalho
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