Cimento supergelado mantém prédios mais frios que o ar ambiente
Material combina baixa emissão de carbono e resfriamento radiativo passivo
Pesquisadores da Universidade do Sudeste da China conduziram estudos na Universidade de Purdue (EUA) para desenvolver um novo tipo de cimento com propriedades fotônicas avançadas. Este material inovador é capaz de reduzir significativamente a temperatura superficial e, consequentemente, o consumo energético de edificações.
O chamado “supercool cement” (ou, em tradução livre, cimento “supergelado”) reflete até 96,2% da radiação solar incidente e apresenta emissividade infravermelha de 96%, atingindo temperaturas até 5,4 °C abaixo da do ar ambiente sem qualquer fonte de energia ativa.
O estudo, publicado na revista Science Advances (2025), propõe uma solução que une desempenho térmico, viabilidade estrutural e menor impacto ambiental — fatores críticos no contexto da descarbonização do setor da construção civil.
Mecanismo fotônico de resfriamento

Crédito: Envato
O desempenho térmico do material é resultado de uma estrutura fotônica heterogênea, formada pela autoformação de cristais de etringita durante o processo de hidratação do cimento. “Esses cristais se distribuem em uma matriz de aluminossilicatos de cálcio, criando uma topologia óptica capaz de espalhar fortemente a luz solar (especialmente nas faixas de 0,3 a 2,5 µm) e emitir radiação térmica na janela atmosférica (8–13 µm), promovendo o chamado resfriamento radiativo passivo”, informam os pesquisadores no estudo, que foi liderado pelo professor Wei She.
Ao contrário de revestimentos com pigmentos ou aditivos refletivos, o cimento supergelado não depende de camadas superficiais: suas propriedades ópticas estão integradas à microestrutura. “Essa característica garante durabilidade superior e manutenção da refletância mesmo após longos períodos de exposição solar e abrasão”, aponta o estudo.
Resultados experimentais
Nos testes conduzidos em ambiente externo, sob irradiância solar de 850 W/m², as amostras apresentaram:
- Refletância solar média (ρs): 96,2%
- Emissividade térmica (ε): 96%
- Variação de temperatura (ΔT) entre a superfície e o ar ambiente: -5,4 °C
- ΔT em relação ao cimento Portland comum: -26 °C
Após 1.080 horas de envelhecimento acelerado por radiação UV e 50 ciclos de congelamento-descongelamento, o material manteve sua refletância acima de 95% e não apresentou microfissuração nem perda de resistência mecânica.
Além disso, a superfície côncava obtida naturalmente durante o processo de moldagem contribui para o aumento da refletância difusa e reduz a acumulação de partículas sólidas, conferindo características anfifóbicas (capacidade de repelir simultaneamente água e óleo) e propriedade autolimpante.
Formulação e processo de fabricação
De acordo com o estudo publicado na revista Science Advances, o cimento supergelado é obtido por um processo de calcinação otimizado, tornando sua fabricação aproximadamente 25% menos intensiva em carbono em comparação ao cimento Portland convencional. “A composição utiliza clínqueres de baixo teor de cálcio, com substituição parcial por compostos ricos em alumínio, silício e enxofre”, explicam os pesquisadores
Durante a cura, ocorre a nucleação espontânea de etringita em escala nanométrica, cuja distribuição espacial determina o comportamento óptico. Os pesquisadores destacam que o processo é compatível com as linhas industriais existentes, podendo ser adaptado para produção de pré-fabricados, painéis e revestimentos estruturais.
Análise de ciclo de vida (LCA)
Modelagens de Análise de Ciclo de Vida orientadas por aprendizado de máquina indicam que o uso do cimento supergelado pode gerar redução de até 2.867 kg CO₂ por tonelada de material ao longo de 70 anos, considerando tanto a menor intensidade de carbono do processo produtivo quanto a economia de energia em climatização.
“Em cenários urbanos de alta insolação, como Niamey (Níger) e Chongqing (China), o balanço energético e de emissões se torna negativo, ou seja, o material compensa mais carbono do que emite durante todo o ciclo de vida da edificação”, aponta o estudo.
Potencial de aplicação
O estudo sugere que o cimento pode ser utilizado tanto em estruturas aparentes quanto em revestimentos externos e coberturas, sem necessidade de manutenção específica. Além da coloração branca original, os pesquisadores desenvolveram pigmentações seletivas (amarela, verde e vermelha) com refletância acima de 90%, permitindo aplicações arquitetônicas diversas sem comprometer o desempenho térmico.
Fonte
Estudo “Scalable metasurface-enhanced supercool cement”, da revista Science Advances, liderado pelo professor Wei She.
Contato:
weishe@seu.edu.cn
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
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