Quais os impactos do Tarifaço de Trump para a construção civil brasileira?

Novas tarifas nos EUA podem impactar orçamentos e viabilidade de projetos populares

Decisões econômicas dos Estados Unidos acabam impactando os canteiros de obra no Brasil.
Crédito: Envato

No dia 12 de março de 2025, passou a valer nos Estados Unidos a taxação de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. A nova tarifa afeta diretamente o setor siderúrgico de importantes parceiros comerciais dos EUA, como Canadá e México. O Brasil, segundo maior exportador de aço para o mercado norte-americano, também será atingido pela medida. Qual será o impacto para a construção civil do Brasil?

Renato Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), acredita que esta questão da guerra tarifária gera uma incerteza muito grande. “Ainda não temos a dimensão do que pode ocorrer. O aço consumido aqui no Brasil não pode ser importado da China. Lá, o vergalhão utilizado é o CA40 e as nossas normas exigem o CA50 – trata-se de uma característica técnica diferente. O que está acontecendo, muito provavelmente, é uma sobra de produtos chineses. Na nossa opinião, isso vai afetar mais o varejo do que a construção civil. Nós nos preocupamos mais com a subida do dólar do que com esta questão tarifária. De toda a forma, é uma incerteza que se gera no mercado e que não sabemos como isso vai se desdobrar”, pontuou durante a coletiva de imprensa da CBIC.

Segundo Ieda Vasconcelos, economista chefe da CBIC e do Sinduscon-MG, a preocupação maior é com a incerteza que ela estabelece nos investimentos – especialmente nos produtivos (aqueles que visam melhorar a capacidade de produção de uma empresa ou de um setor da economia, como máquinas, equipamentos e construção de instalações) – que já estão prejudicados com o patamar de alta taxa de juros. “O nível de incerteza não é só no Brasil, isso gera uma incerteza com relação à economia global como um todo. E o menor crescimento do mundo, conforme projetado pelo FMI, impacta todos, inclusive o Brasil. O que preocupa com relação a isso é o efeito que ela pode causar no crescimento da economia mundial e isso afetar a economia brasileira”, destaca. 

Para Celso Zaffarani, fundador da Zaffarani Design Build, mesmo que não pareça à primeira vista, as decisões econômicas dos Estados Unidos acabam impactando os canteiros de obra por aqui. “Como empresário da construção civil, vejo com preocupação o modo como o aumento das tarifas e a valorização do dólar afetam diretamente o custo dos materiais que usamos diariamente. Quando o governo americano impõe tarifas sobre matérias-primas como aço, alumínio ou cobre, o efeito se espalha pelo mundo. Aqui no Brasil, esses insumos sobem de preço, mesmo quando são produzidos localmente, porque fazem parte de uma cadeia global. Isso pressiona os orçamentos, especialmente em obras com margens mais ajustadas e cronogramas rígidos”, explica.

Já Milton Bigucci Junior, diretor técnico da construtora MBigucci, acredita que o momento atual é de incerteza. “É difícil prever o cenário a médio e longo prazo, uma vez que as taxas ainda podem sofrer alterações. O Brasil, na verdade, é um dos maiores exportadores de aço para os EUA. Com a taxação — atualmente em 25% para aço e alumínio, e 10% para outros insumos — pode haver uma redução nas exportações e, consequentemente, um aumento da oferta no mercado interno, o que poderia até baratear alguns produtos da construção civil. Mas, a princípio, a expectativa é de que o mercado, de forma geral, se mantenha estável por enquanto”, prevê.

Impactos para as construtoras

Na opinião de Zaffarani, o impacto já é evidente no dia a dia das construtoras. “Estamos vendo orçamentos sendo revisados com muito mais frequência e decisões estratégicas sendo tomadas com base na volatilidade dos preços dos insumos. A imprevisibilidade dos custos tem levado até à reavaliação ou ao adiamento de projetos”, destaca.

Bigucci Junior, por sua vez, aponta que, no caso de sua construtora, a MBigucci, os impactos ainda não foram sentidos, uma vez que não depende de produtos importados para suas obras. “Mas o clima, no geral, ainda é de incerteza”, enfatiza.

Consequências

Com relação à expectativa de demanda de imóveis, assim como em 2024, Ieda afirma que há uma projeção de que o mercado continuará se destacando neste ano.

Correia complementa: “O mercado imobiliário é muito mais em função do que se tem de crédito ao cliente, porque demanda existe bastante. O FGTS hoje vai aplicar R$ 127 bilhões – mais ou menos o que fez no ano passado – e a extensão do faixa 4, renda de R$ 8 mil a R$ 12 mil, vai aplicar mais R$ 30 bilhões. Então este segmento certamente estará abastecido e poderá comprar um imóvel. Agora aquele imóvel acima de R$ 500 mil, ele vai ser um pouco mais seletivo, na nossa opinião, porque você vai ter menos dinheiro de caderneta de poupança. No ano passado, nós tivemos R$ 184 bilhões, aproximadamente, e para este ano espera-se R$ 150 bilhões aplicados em poupança. Então, deverá ter menos oportunidade de crédito, porque os bancos serão mais seletivos. Mas ainda assim é um valor muito importante”.

Zaffarani acredita que o risco de repasse ao consumidor final é bastante concreto — e preocupante. “No caso de obras públicas ou projetos voltados à habitação popular, que operam com margens muito justas e regras rígidas de reajuste, os aumentos de custo nem sempre conseguem ser absorvidos. Isso pode levar, infelizmente, à suspensão de contratos, à desaceleração dos canteiros e até à inviabilidade de certas obras”, afirma.

Já no setor privado, existe, de fato, maior flexibilidade para repassar parte desses aumentos ao consumidor final. “No entanto, é um movimento delicado, pois o encarecimento da construção costuma vir acompanhado de crédito mais restrito e mais caro, o que reduz a capacidade de compra da população. Ou seja, o impacto acaba sendo duplo: a obra custa mais para ser feita e o cliente tem mais dificuldade para financiá-la”, comenta Zaffarani.

Quando se trata de empreendimentos voltados à população de menor renda, essa equação se torna ainda mais sensível. “A elasticidade de preço é alta, e qualquer variação significativa pode comprometer a viabilidade do projeto. Por isso, o setor como um todo precisa buscar soluções criativas e sustentáveis para mitigar esses efeitos — e garantir que o acesso à moradia continue sendo possível para quem mais precisa”, pondera Zaffarani.

De acordo com Bigucci Junior, sempre existe o risco de repasse de preços aos consumidores finais, para mais ou para menos, conforme a oferta e a demanda no mercado de materiais de construção. “Entretanto, o momento ainda é de incerteza e, por enquanto, segue estável”, justifica.

Impactos do dólar na construção civil

Outro fator a ser considerado é que, com o dólar mais alto, tudo o que depende de importação — de equipamentos a componentes técnicos — fica mais caro. “Isso nos obriga a rever estratégias, antecipar compras e agir com muito mais cautela. Não é só uma questão de custo, mas de garantir que a obra continue, que o cliente não seja impactado e que a entrega mantenha o padrão de qualidade que defendemos. Além disso, lidamos com tarifas voláteis impostas pelo governo norte-americano e com toda a evolução dessa situação, o que gera um clima constante de incerteza. Essa instabilidade afeta diretamente os custos e a composição de preços, exigindo ainda mais planejamento e resiliência das empresas do setor”, opina Zaffarani.

Estratégias para mitigar os impactos

Zaffarani comenta que está atualmente executando uma obra cujo projeto vem dos Estados Unidos. “Os materiais de acabamento especificados são de origem italiana, espanhola, alemã e também americana, e estavam inicialmente previstos para serem adquiridos por meio de representantes nos Estados Unidos. Para manter os preços orçados e reduzir os impactos causados pelas tarifas e custos adicionais, adotamos uma mudança estratégica: estamos realizando a importação direta dos fabricantes europeus, eliminando a intermediação dos representantes norte-americanos. Essa decisão tem nos permitido maior controle sobre os custos e os prazos de entrega. Além disso, incluímos a importação direta de peças sob medida, como um lustre feito sob encomenda na China, o que também contribui para manter a previsibilidade orçamentária da obra”, relata.

Bigucci Junior destaca que, por enquanto, não houve grandes alterações que exigissem renegociações ou antecipação de compras.

Entrevistados

Renato Correia é presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Ieda Vasconcelos, economista chefe da CBIC e do Sinduscon-MG.

Celso Zaffarani é CEO da Zaffarani Construtora, uma empresa especializada no desenvolvimento de empreendimentos de alto padrão, com um olhar inovador para o mercado imobiliário de luxo. Com expertise em projetos diferenciados, a construtora tem acompanhado de perto a transformação dos shoppings centers em hubs multifuncionais, um fenômeno que tem impactado diretamente a valorização imobiliária em seu entorno.

Milton Bigucci Junior é diretor técnico da MBigucci e presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC.

Contatos

CBIC – ascom@cbic.org.br

Celso Zaffarani – Assessoria de imprensa: abigail.reis@baronesarp.com.br

Milton Bigucci Junior – Assessoria de imprensa: imprensa@mbigucci.com.br

A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.



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