5 problemas comuns de estanqueidade em paredes de concreto e como resolver
Curso da Comunidade da Construção de Goiânia apresenta dicas para lidar com esta questão
As paredes de concreto geralmente apresentam algumas questões bem mais específicas do que a concretagem de uma laje, devido à posição vertical. Para entender como lidar com este procedimento, a Comunidade da Construção de Goiânia promoveu o curso “Cuidados na Estanqueidade de Fachadas e Execução de Revestimentos Internos – Sistemas de Paredes de Concreto”. Nielsen Dias Alves, consultor e gerente técnico da MM Engenharia e Consultoria, foi o responsável por ministrar o curso.
Hoje, com a norma NBR 16055 – Paredes de Concreto Moldada no Local (que foi lançada em 2012 e atualizada em 2021), existem critérios bem específicos para a construção de paredes de concreto. “Esta norma traz muito mais responsabilidade e critério nas nossas obras. Para as construtoras, a norma sugere que é preciso garantir a estanqueidade de fachadas e pisos molháveis por pelo menos três anos. O sistema de parede de concreto só tem a pintura em cima ou uma pintura com regularização, que é muito fininha. Tem 3 ou 4 cm para tirar aquele ‘abaulado’. Hoje, utilizamos muito mais inspeções da fachada antes da pintura ou antes da aplicação da camada de regularização, usando a técnica da termografia ”, aponta Alves.
Veja alguns problemas comuns de estanqueidade de concreto e como resolvê-los:
- Uso de desmoldante inadequado
Alves relembrou o caso de uma obra em que o desmoldante gerou problemas em uma parede. “Quando ele é aplicado na vertical, é mais complicado. Em uma ocasião, ao fazer o teste com um produto, o desmoldante desceu completamente. Uma vez que a forma metálica é muito lisa, se não tiver um produto com uma viscosidade adequada, ele desliza e fica concentrado na parte de baixo. Isso não permite uma ligação adequada entre esta parede e minha base. É importante sempre testar”, lembra Alves.
De acordo com Alves, o uso de um desmoldante inadequado gera infiltrações e fissuras enormes no encontro da parede com a base.
- Infiltração de água pela região da interface do Radier
Para evitar infiltração de água pela região da interface do Radier com a parede externa, tem sido aplicada uma argamassa polimérica na região. “Em algumas obras, é possível fazer um chanfro na região para não empoçar água. Desta forma, a água bate e escorre. Além disso, ela tem que impermeabilizar. Também é feito o uso de uma argamassa polimérica. Dessa forma, evita que a água entre, uma vez que é comum ter uma fissura na região. No entanto, em algumas a argamassa polimérica sofreu fissuras, uma vez que ela é rígida e se houver uma movimentação grande, haverá uma fissuração,”, explica Alves.
Algo que tem se usado bastante para evitar esse problema é a membrana acrílica flexível. “É preciso aplicar um material que suporte a movimentação dessa fissura. Na maioria das obras que eu acompanho hoje, tem-se usado a argamassa polimérica, já que é uma região que sofre bastante impacto durante a obra e pode rasgar. Por isso, é usado bastante a membrana na interface das juntas, mas na parte de baixo, tem-se usado mais a argamassa polimérica”, aponta Alves.
- Concreto com trabalhabilidade inadequada
Segundo Alves, o ideal é que seja utilizado um concreto autoadensável nestas paredes porque elas são muito finas e densamente armadas, com muita ferragem para aquela espessura. “Se eu não usar um concreto autoadensável, eu não consigo vibrar. Com isso, não é possível garantir que o concreto vai adensar perfeitamente. É uma condição fundamental para uma qualidade desejada. Muitas vezes, a obra vai tentar utilizar um concreto com slump menor, por ser muito mais barato. O concreto autoadensável é mais caro por ter um traço especial, mais cimento, muito mais aditivos e cuidado com a segregação dele”, expõe Alves.
Alves exemplificou com um caso em que foi usado um concreto com slump 17,5 cm, em que as quinas ficaram com aspecto inadequado.
A norma brasileira 15.823 – Concreto autoadensável traz alguns critérios interessantes sobre o espalhamento do concreto:
Além de ser autoadensável, o concreto também precisa ser autonivelante. Uma forma de verificar isso é fazendo testes com uma caixa L ou o anel J. “É preciso pedir para a concreteira fazer todos estes ensaios, não somente o slump flow”, alerta Alves.
- Junta fria ou junta de concretagem
Na opinião de Alves, este é um grande gargalo nas obras. Alves recomenda que o mais adequado é executar a laje e as paredes ao mesmo tempo, evitando as juntas frias. “No encontro das duas, muitas vezes há um ressalto da laje. Com isso, há uma massa corrida ou uma argamassa de regularização com espessura diferente e isso pode gerar um problema. Tem uma espessura mais fina na laje e uma mais grossa na parede e há risco de fissura neste ponto. Hoje há um cuidado enorme nessa região. Em 2010, não havia um tratamento específico, era só uma massa no local. Só que começou a ter vários problemas – tanto na região de encontro como também nas juntas frias de concretagem. Hoje, as membranas acrílicas flexíveis usadas para evitar este tipo de questão ficaram mais acessíveis. Aqui no Brasil, devido à grande variação térmica, este tipo de tratamento é o mais comum, já que materiais mais rígidos não funcionam”, esclarece Alves.
Se houver alguma questão na obra que impeça fazer estes dois processos de forma conjunta, Alves recomenda fazer uma lavagem prévia do concreto antigo antes da aplicação do novo, buscando retirar o resto de materiais e a nata do cimento. Isso deve ser feito para que haja a aderência correta.
- Região das janelas
Alves menciona que esta área é a que tem mais problemas de estanqueidade. “Geralmente, elas são causadas por falta de reforço ou posicionamento errado do mesmo. Também pode acontecer por falha na concretagem dos requadros, peitoril e pingadeira. Outra questão é falta de caimento nas pingadeiras e peitoris. Para retirar a fôrma, o movimento é ao contrário. Também há a falha da vedação na esquadria”, expõe Alves.
Se for o caso de fissuras passantes nos cantos das janelas, a solução é reforçar esta região. “Com o pacômetro, que é um detector de metais, é possível identificar onde estão as ferragens e colocar os reforços. No pós obra, a membrana acrílica também pode ser utilizada para corrigir isso. No entanto, ela cria um ressalto. Para acabar com esse problema, é possível utilizar uma argamassa de regularização para uniformizar esta altura”, pontua Alves.
Fonte
Nielsen Dias Alves é consultor e gerente técnico da MM Engenharia e Consultoria.
Contato
marcosmaia@consultoriamm.eng.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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