Construção civil será protagonista na Rio+20

Conferência da ONU, que acontece em junho, servirá para que setor mostre avanços ecoeficientes, principalmente em sua indústria cimenteira.

Conferência da ONU, que acontece em junho, servirá para que setor mostre avanços ecoeficientes, principalmente em sua indústria cimenteira

Por: Altair Santos

Em junho, na cidade do Rio de Janeiro, acontece a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – a Rio+20. A construção civil estará no centro dos debates. No caso do Brasil, o setor terá bons exemplos a mostrar. A indústria cimenteira nacional, considerada a mais ecoeficiente do planeta, levará à Rio+20, junto com outros organismos como a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), o projeto Construção Sustentável. Ele engloba um conjunto de ações do setor para racionalizar a construção e diminuir perdas.

Mario Willian Esper: da Eco92 à Rio+20, indústria cimenteira nacional tornou sua produção sustentável.

O processo de elaboração do projeto já dura 3 anos e tem o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de bancos multilaterais.  A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) também integra a elaboração do plano, como revela o gerente de relações institucionais da ABCP, Mario William Esper, na entrevista a seguir:

Em junho, ocorre a Rio+20. O que a indústria cimenteira nacional irá apresentar no evento, haja vista que ela é considerada a mais ecoeficiente do planeta, em comparação a outros países?
Será destacado, entre os avanços tecnológicos que se refletem na preservação ambiental, o papel fundamental da indústria de cimento na destinação final de resíduos industriais, que, até pouco tempo, iam para os aterros industriais e são hoje coprocessados em fornos de cimento. O parque industrial nacional de produção de cimento se caracteriza pelo avanço tecnológico, merecendo destaque, inclusive, se comparado aos melhores do mundo. O impulso para esses avanços veio da automação do processo e da busca constante pela redução do consumo de energia térmica e elétrica. Hoje, incluímos nos processos produtivos vários tipos de resíduos como matéria-prima ou combustível alternativo, eliminando, assim, o contraditório ambiental gerado por uma produção industrial em franca e bem vinda ascensão.

Como estão hoje os indicadores de sustentabilidade de produção de cimento no Brasil?
É preciso dividir essa resposta em quatro partes:

Energia
No Brasil, a indústria do cimento possui um parque industrial moderno e eficiente, com instalações que operam com baixo consumo energético. Praticamente todo o cimento no país é produzido por via seca, processo industrial que garante a diminuição do uso de combustíveis em até 50% em relação a outros processos. Os fornos via seca, no Brasil, são responsáveis por 99% da produção de cimento, enquanto, em escala mundial, esses fornos, de acordo com dados do CSI, representaram somente 81% em 2009. Como resultado dessa modernização tecnológica, estudo elaborado pela IEA (International Energy Agency) analisando o potencial de redução de consumo energético dos principais países produtores de cimento, identificou o Brasil como tendo um dos menores potenciais de redução, considerando as melhores tecnologias existentes.

Água
Na produção de cimento, a água é utilizada nas torres de arrefecimento e injeção nos moinhos para resfriamento do material, representando um consumo de 100 litros por tonelada de cimento. A água empregada para resfriamento dos gases é absorvida no processo e liberada na forma de vapor, sem nenhum contaminante. Já aquela utilizada para resfriar equipamentos, passa por separadores de óleo e é reaproveitada. A água consumida na maioria das fábricas é praticamente 100% recirculada, não havendo, portanto, a geração de efluentes líquidos industriais.

Coprocessamento
Em fornos devidamente licenciados para essa finalidade, são utilizados resíduos sólidos industriais e urbanos como substitutos de materiais combustíveis ou matérias-primas, no processo de produção. Atualmente, existem no país 37 plantas licenciadas para realizar o coprocessamento. A indústria de cimento coprocessa cerca de 1 milhão de toneladas por ano. No período de 1991 a 2010, foram coprocessados 7 milhões de toneladas de resíduos. A expectativa é de que esse volume caia, em breve, para 2,5 milhões de tonelada por ano. Somente em 2010, estima-se, foram coprocessadas 183 mil toneladas de pneus usados, o equivalente a 36 milhões de pneus que, enfileirados, iriam do Rio de Janeiro a Tóquio. No período de 2003 a 2008, foram coprocessados aproximadamente 1 milhão toneladas de pneus, equivalente a 210 milhões de pneus usados.

Emissão de CO²
A indústria do cimento no Brasil possui um parque industrial moderno e eficiente, com unidades que operam com baixo consumo de combustíveis e, consequentemente, uma menor emissão de CO², quando comparada a outros países. A crescente utilização, desde longa data, de adições ao cimento, no Brasil, tem representado uma das mais eficazes medidas de controle e redução das emissões de CO² da indústria. Levantamento da CSI (Cement Sustainability Initiative) coloca o Brasil como referência internacional na busca por cimentos com menor emissão. O Brasil também é o país que mais utiliza biomassa (considerada carbono neutra) na produção de cimento, também conforme levantamento do CSI, com cerca de 9% de participação na sua matriz energética.

Para a Rio+20, organismos ligados à construção civil elaboram o projeto Construção Sustentável, que engloba um conjunto de ações do setor para racionalizar a construção e diminuir perdas. A ABCP participa deste projeto?
Sim, a ABCP participa do projeto como representante da indústria cimenteira brasileira.

Quais propostas a ABCP pretende acrescentar no projeto Construção Sustentável a ser apresentado na Rio+20?
A ABCP apresentará ações desenvolvidas pela indústria cimenteira e os desafios de tornar o setor cada vez mais sustentável.

Antes da Rio+20, deverá ocorrer um pré-evento denominado “Setor Industrial e a Rio+20″. Já se sabe quais linhas serão abordadas no encontro?
Serão abordados cases do setor que podem ser tomados como exemplo de ecoeficiência, seja na diminuição do consumo de energia e da emissão de CO², seja na destinação correta dos resíduos industriais por meio do coprocessamento. Serão abordadas as iniciativas da indústria como um todo, que têm o objetivo de contribuir com o crescimento do país de forma sustentável.

A tendência é que a construção civil esteja no centro dos debates da Rio+20?
Sim, pois o aumento da demanda deste setor, devido à realização dos megaeventos esportivos mais importantes do mundo e ao avanço dos programas do governo federal – Minha Casa, Minha Vida e obras do PAC, além do advento do bicentenário da independência do Brasil, que será comemorado em 2022 -, gera a necessidade de uma produção que atenda esse crescimento e os investimentos necessários em infraestrutura. Portanto, a construção civil deve ser uma pauta bastante discutida durante o evento.

É possível que a partir da Rio+20 se fortaleça a ideia de que é preciso industrializar a construção civil, principalmente no Brasil?
A tendência de se pensar em sistemas construtivos industrializados já vem se desenvolvendo há algum tempo. Exemplo disso são as obras do PAC, que impulsionaram o Brasil a desenvolver e a criar a consciência da necessidade de se pensar processos produtivos que deem conta da escassez de mão de obra e da necessidade de rapidez na execução das obras.

Há gargalos no país que impedem processos mais sustentáveis na construção civil? Caso sim, quais são eles?
Sim, exemplo disso é que o governo federal lançou em 3 de abril a segunda etapa do programa Brasil Maior. Trata-se de um conjunto de medidas de incentivo à indústria nacional. No caso da construção civil, o objetivo do programa é tornar o setor mais competitivo, visando minimizar os gargalos do setor, como: capacitação da mão de obra, burocracia cartorária, inovação tecnológica, gestão da tecnologia da informação, normalização e padronização de materiais e adoção de sistemas construtivos industrializados entre outros.

Da Eco92 à Rio+20, quais evoluções são as mais evidentes, em termos de sustentabilidade, na construção civil brasileira?
Há 20 anos, as ações da indústria cimenteira brasileira, visando a ecoeficiência, estavam no estágio inicial. Hoje, as iniciativas estão consolidadas e garantem uma produção sustentável. No que diz respeito à indústria de cimento, houve uma evolução muito grande tanto na diminuição das emissões de CO² quanto na utilização do coprocessamento para eliminar resíduos industriais e passivos ambientais. Já no que diz respeito à construção civil a ao desenvolvimento de sistemas construtivos e produtos sustentáveis, a ABCP busca competitividade, sem tirar o foco da construção sustentável. Exemplo disso é que a ABCP tem desenvolvido soluções como os pavimentos permeáveis, que permitem a infiltração de água na sua estrutura e funcionam como um sistema de drenagem sustentável. Desta forma, a ABCP contribui para a sustentabilidade da construção civil ajudando a desenvolver sistemas construtivos que sejam mais competitivos, gerem menos entulho e causem menos danos ao meio ambiente.

A correta destinação de resíduos sólidos da construção deverá ter uma atenção especial na Rio+20?
Sim, a iniciativa impacta na sustentabilidade da construção civil e de diversos outros setores da economia. A gestão de resíduos sólidos terá grande destaque durante o evento, seja no campo da inovação e da gestão, seja no desenvolvimento da consciência da sociedade em relação ao tema.

Entrevistado
Mario William Esper, gerente de relações institucionais da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Currículo

– Possui graduação e mestrado em engenharia civil pela Poli-USP
– Construiu carreira sólida ao longo de 38 anos de atividade no setor
– Atua na Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) desde 1974
– Atualmente é responsável pela área de relações institucionais da ABCP e integrante de diversas entidades ligadas à indústria da construção, como: Departamento da Indústria da Construção e Departamento de Competividade e Tecnologia, ambos da Fiesp
– Além disso, integra o Comitê Brasileiro de Normalização (CBN) e é membro do Conselho Curador do FGTS
Contato: mario.william@abcp.org.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330


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