Engenharia brasileira já realizou grandes obras, mas recentemente há pouco investimento no setor de túneis. Evento faz alerta para essa situação
Por: Altair Santos
Entre 20 e 22 de março, acontece em São Paulo o 3º Congresso Brasileiro de Túneis e Estruturas Subterrâneas. O evento é considerado uma espécie de divisor de águas para o setor. Na década passada, houve pouco investimento nesta área, apesar de a engenharia brasileira ter obras relevantes e reconhecidas internacionalmente. Por isso, o objetivo do encontro é promover intercâmbio e debater 11 temas considerados fundamentais para impulsionar novos projetos e construções.
Para Tarcisio Barreto Celestino, presidente do Comitê Brasileiro de Túneis e um dos organizadores do encontro, nesta área a engenharia brasileira não está mais entre as melhores do mundo. “Já fomos melhores do que somos hoje. Em algumas áreas há o que melhorar, inclusive às obras relacionadas a túneis convencionais”, diz o especialista, afirmando que atualmente não há nenhuma construção de vulto no país. “Nós já fizemos a usina hidrelétrica subterrânea de Serra da Mesa, que é uma obra inquestionável. Também tem a caverna da usina Paulo Afonso IV, feita há mais de 30 anos e viabilizada por um projeto nacional, mas atualmente não há nenhuma que impressione”, completa.
Além de novas tecnologias, o tema estocagem subterrânea será um dos principais do congresso. “É inconcebível que o Brasil até hoje não tenha nada de estocagem subterrânea, apesar de ter tecnologia. Nos países nórdicos, todo o petróleo deles é estocado em subterrâneo, porque é mais barato e mais seguro. Por isso, teremos uma mesa redonda sobre o assunto”, revela Tarcisio Barreto Celestino.
Outro assunto a ser destacado no 3º Congresso Brasileiro de Túneis e Estruturas Subterrâneas serão os túneis imersos. “Finalmente o Estado de São Paulo contratou um projeto para construir o túnel Santos-Guarujá. Vai ser o primeiro no Brasil, quando na realidade essa é uma técnica que existe há mais de 100 anos. Argentina e Cuba já têm obras de túneis imersos, mas só agora vamos construir uma aqui no Brasil”, comenta o presidente do Comitê Brasileiro de Túneis. O túnel Santos-Guarujá deve ficar pronto em 2016 e vai custar R$ 1,3 bilhão.
Trabalhos de 14 países serão analisados no evento, com destaque para aqueles considerados donos das melhores tecnologias em construção de túneis, como Noruega, Suécia, Finlândia, Áustria e Suíça. Segundo Tarcisio Barreto Celestino, será a oportunidade para que o universo acadêmico possa ajudar a impulsionar esse setor da engenharia. Atualmente, apenas quatro universidades dedicam cursos de pós-graduação e doutorado em obras subterrâneas: a USP, em São Carlos, a UnB, a UFRJ e a PUC-RJ. “Profissionais nós temos, mas faltam obras”, avalia o especialista.
Ainda de acordo com Tarcisio Barreto Celestino, o estímulo a esse tipo de construção é bom também para o setor de cimento e concreto. “O básico de uma estrutura de suporte, de um túnel, de uma obra subterrânea, é o concreto e o aço. A cada quilômetro de túnel, são consumidos 10.000 m³ de concreto, em média. Ou seja, são obras que estimulam a cadeia produtiva da construção civil”, finaliza.
Serviço
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Entrevistado
Tarcisio Barreto Celestino, presidente do Comitê Brasileiro de Túneis
Currículo
– Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1972)
– Tem mestrado em Engenharia Civil – University of California, Berkeley (1978) e doutorado em Engenharia Civil – University of California, Berkeley (1981)
– Atualmente é professor doutor da Universidade de São Paulo e gerente de engenharia civil da Themag Engenharia
– É presidente do Comitê Brasileiro de Túneis, Coordenador do Grupo de Trabalho de Concreto Projetado da International Tunnelling Association e consultor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
– Foi professor convidado do Programa de Mestrado em Obras Subterrâneas do IHE, em Delft, na Holanda
– Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Mecânicas das Rochas, atuando principalmente nos seguintes temas: túneis, mecânica das rochas, concreto projetado, barragens e aplicações de métodos numéricos.
Contato: tbcelest@usp.br
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