Artefatos de concreto vibroprensado: saiba como fazer
Tecnologia é a mais utilizada no mundo para fabricar artefatos, mas cimento de boa qualidade e máquinas calibradas são imprescindíveis
Tecnologia é a mais utilizada no mundo para fabricar artefatos, mas cimento de boa qualidade e máquinas calibradas são imprescindíveis
O processo vibroprensado é o mais utilizado no mundo para a fabricação de artefatos de concreto. A tecnologia resulta em melhor desempenho do produto e mais produtividade. Além disso, as vibroprensas permitem a produção de uma grande família de produtos. Mas é preciso atenção à calibragem da máquina de vibrocompressão, que é o coração do processo produtivo. Outros cuidados estão relacionados ao preparo do concreto, passando pela granulometria, a qualidade do cimento e os ensaios de resistência à compressão.
Engenheiro civil com 35 anos de experiência em produtos vibroprensados, Idário Fernandes já proferiu mais de 250 cursos e palestras no Brasil e no Mercosul sobre cimento, concreto e artefatos. Autor do livro “Blocos e Pavers – Produção e Controle de Qualidade”, o especialista está no 59º Congresso Brasileiro do Concreto, promovido pelo IBRACON, e que acontece em Bento Gonçalves-RS, de 31 de outubro a 3 de novembro de 2017. Sua palestra vai tratar de concreto vibroprensado. Antes, ele detalha a tecnologia na entrevista a seguir. Confira:
O processo vibroprensado ainda é o mais utilizado no mundo para a fabricação de artefatos de concreto?
Sim, é o mais utilizado no mundo. São conhecidos como artefatos de concreto os produtos cimentícios de pequeno porte, feitos com Cimento Portland, agregados, água, aditivos e, opcionalmente, adições, independentemente do método empregado, seja ele o do concreto plástico, extrusado ou vibroprensado. São exemplos de artefatos de concreto vibroprensados os blocos, os blocos intertravados, tubos, cobogós, vasos, balaústres, entre outros. De concreto plástico, os principais artefatos são os pisos e revestimentos cimentícios. Do processo extrusado, alguns modelos de pisos e as telhas de concreto, que na verdade são telhas de argamassa. Destes, com certeza, os produtos obtidos no processo vibroprensado são maioria no mundo.
As outras tecnologias conseguem ser competitivas sob o ponto de vista mercadológico?
Sim, elas conseguem o seu lugar ao sol porque agregam valor devido, sobretudo, à melhor aparência do produto, em virtude do acabamento proporcionado pelos moldes de silicone, poliuretano, fiberglass, plástico ou aço. Um piso cimentício, seja ele elevado, fulget (cimento e pedriscos), levigado (antiderrapante) e atérmico (não transmite calor nem frio), ou mesmo o intertravado feito em forminha de plástico, é mais bonito que o produto vibroprensado e o mercado valoriza e compra beleza. Muito embora seja possível fazer um intertravado dormido de alta resistência no quesito concreto, ele sofre nos quesitos formato e produtividade, devido à necessária concavidade da peça para desforma e as poucas possibilidades de automação do processo. Mesmo com estas dificuldades, o processo vibroprensado é um segmento que cresce a cada dia, sobretudo ao baixo investimento para se iniciar um negócio.
O que é mais relevante para se produzir artefatos de concreto com qualidade: uma vibroprensa bem calibrada, concreto com granulometria adequada ou um bom cimento?
Todos são muito importantes. É um conjunto. Faltou um quarto item muito importante, que é o conhecimento do processo. Mas se tiver que eleger um, com certeza será o cimento. Com uma supermáquina e um superagregado não se faz um bom produto se o cimento não for bom. Já se o cimento for de qualidade, ele pode suprir a deficiência dos outros itens. Porém, com ônus, que cairá no custo do produto, pois as deficiências serão pagas com o maior consumo do aglomerante.
A mão de obra que atua nas fábricas de artefatos está bem capacitada ou ainda precisa se adequar aos novos tempos?
É um círculo vicioso. A oferta é muito maior que a demanda. Logo não se tem um preço justo pelo produto. Com preço baixo a margem é baixa, e não tendo margem não tem como se manter ou investir em treinamento de mão de obra especializada. Isto gera uma rotatividade grande de pessoal. Alguns vendedores/instaladores de máquinas não prestam o devido treinamento aos seus clientes, porque se enquadram nos critérios citados. Cerca de 20% das recomendações dos meus relatórios de consultoria dizem respeito a alterações ou melhorias nos equipamentos, inclusive em alguns equipamentos importados. Já a ABCP (www.abcp.org.br) oferece cursos para aperfeiçoamento da mão de obra de produção de artefatos de concreto.
Há uma família grande de artefatos de concreto, mas o principal continua sendo o bloco de concreto. Com a chegada da Norma de Desempenho, esse produto já está adaptado às novas exigências do mercado?
O bloco em si ainda não. Mas, com a integração do revestimento e uso de cores claras, que refletem a luz, o sistema atende a ABNT NBR 15575 – Norma de Desempenho. O bloco de concreto de hoje é praticamente o mesmo produto de quando o sistema chegou ao Brasil, na década de 1960. Pouco evoluiu, mas isto não é um problema do Brasil. Ocorre em outros lugares também. Em países muito frios o bloco ganhou recheio de EPS (isopor) ou paredes mais espessas e maiores vãos, com bolsões de ar para isolamento térmico. Já estão em andamento na ABCP esforços em busca de alternativas para que o bloco melhore seu desempenho térmico e acústico. O sistema carece também de uma atuação forte da interface entre o produtor e o usuário, a fim de acabar com cortes das peças, elementos compensadores. É preciso divulgar o bloco elétrico, com encaixe da caixinha do interruptor; o bloco hidráulico, para evitar o corte da parede; os blocos em ângulo, para sair do quadrado, ou seja, tem campo para evoluir e tornar o sistema ainda mais atraente. Isto facilitaria a vida do produtor, que teria menos componentes e menor investimento em moldes, além do produto ficar mais competitivo, por ser mais simples de aplicar.
Com relação aos artefatos permeáveis, como está o mercado e qual a qualidade dos produtos disponíveis?
O piso drenante, seja ele em formato de bloco intertravado ou de placas, vem ganhando significativa fatia no segmento de calçamento e é uma excelente ajuda para diminuir os efeitos das enchentes. O artefato evoluiu muito e tem excelente aceitação no mercado graças ao trabalho da ABCP, que designou profissionais competentes para dedicação com foco neste produto. Falta maior consciência do poder público em exigir um percentual de área pavimentada em piso drenante nas novas edificações e em áreas públicas, além do incentivo aos munícipes para trocarem suas calçadas impermeabilizadas por essa inteligente e ecológica forma de calçamento.
As indústrias de artefatos se preocupam com ensaios de resistência à compressão, e outros ensaios, como deveriam se preocupar?
Existem três grupos:
1. O que possui laboratório próprio e faz uso disso como ferramenta para ajustar custos, evitando enviar ao mercado produtos com resistência muito acima do exigido por norma ou abaixo do que foi vendido.
2. O grupo que faz ensaios esporádicos, ou quando é argumento de venda, pois o cliente exige.
3. O grupo que não faz ensaios e vende para quem prefere pagar barato, fazendo vista grossa para as especificações técnicas do produto.
Particularmente, no segmento de pisos cimentícios e de telhas, este cenário é menos preocupante, pois eles atuam em segmentos mais elitizados e mais exigentes.
O que as indústrias de artefatos de concreto estão buscando em termos de inovação e sustentabilidade?
No segmento concreto seco ou, como dizem os americanos, “semi dry concrete”, além do piso drenante, evoluímos pouco. No segmento concreto plástico ou dormido temos o avanço dos revestimentos cimentícios e dos cobogós. No extrusado, as telhas cresceram em tamanho, diminuindo o número de peças e peso por m².
Comparativamente ao mercado internacional, como o senhor qualificaria a indústria de artefatos de concreto no Brasil?
Se compararmos com países de primeiro mundo, temos quilômetros a percorrer. Eles utilizam muito o intertravado mesclado, intertravado dupla capa – combinação de dois ou mais formatos -, paginação inteligente e perfeita harmonia com a jardinagem, o que mantém o piso limpinho. Se compararmos com alguns de nossos vizinhos temos produtos, equipamentos, tecnologia e normas superiores. Servimos inclusive de referência a eles. O problema, diria, é que temos normalização adequada, mas não temos a responsabilidade em cumpri-la ou a coragem de exigi-la.
No início desta década houve um grande crescimento de pequenas indústrias de artefatos de concreto no Brasil. Provavelmente, estimuladas pelo bom momento que a construção civil viveu até 2014. A pergunta é: as que sobreviveram estão conseguindo produzir artefatos de qualidade?
Aí temos dois cenários: empresas que têm lastro, que não dependem exclusivamente daquele negócio, e que optaram por manter a qualidade e apostar no “compra quem concorda em pagar o custo de um bom produto”. Por outro lado, há empresas que não possuem outra fonte de renda, entraram numa guerra de preço absurda, às vezes com produtos vendidos a preço de custo para manter o negócio rodando. Nestas, infelizmente, a qualidade tem deixado a desejar.
Nas suas consultorias, quais os erros mais comuns que o senhor detecta nas fábricas de artefatos?
Os principais são cinco:
1. Alto desvio padrão, provocado pelo desconhecimento do problema da dispersão de massa (peso) na bandeja, resultante da diferença de massa alimentada nas diferentes cavidades do molde.
2. Desconhecimento da influência da variação da umidade na compactação e na resistência do produto.
3. Desconhecimento de métodos expeditos e baratos para um controle de qualidade “just in time” com a produção. É uma inocência esperar o laudo do laboratório para saber que o produto necessita de ajustes.
4. Ausência de qualquer processo de cura dos produtos. Alguns acreditam que para curar basta colocar o produto dentro de um compartimento sem portas, com grandes aberturas no teto ou paredes.
5. Desconhecimento dos recursos e dos princípios de funcionamento dos equipamentos. Tem máquina que faz 800 ciclos em 7 horas e outra, da mesma marca e modelo, em outra empresa, que produzem 1.600 ciclos no mesmo período.
A indústria de vibroprensas nacional já está no mesmo patamar das máquinas produzidas fora do país?
Infelizmente ainda não. Das seis maiores empresas de máquinas que existiam no país há seis anos, quatro praticamente desapareceram por conta do mercado extremamente recessivo. Surgiram novas e boas opções, mas de pequeno porte para se adaptarem a um mercado retraído. Elas possuem desempenho proporcional ao investimento quando comparadas com as estrangeiras, porém com custo unitário de produto maior, devido ao emprego de muita mão de obra (pouca automação) emprego de mais cimento na mistura, devido à pouca capacidade de prensagem, e alto índice de paradas para manutenção ou reparos, devido à idade de desenvolvimento ainda precoce.
Entrevistado
Engenheiro civil Idário Fernandes, consultor em tecnologia de concreto e sistemas construtivos e dono da Doutorbloco Consultoria em Concreto
Contatos
idario@doutorbloco.com.br
www.doutorbloco.com.br
Crédito Fotos: Doutorbloco
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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