Pesquisa tenta criar “filtro solar” para o concreto
Universidade do Reino Unido trabalha para extrair nanopartículas que, misturadas ao cimento, protegem as construções
Fibras extraídas de cenouras, e transformadas em nanopartículas, têm sido agregadas ao concreto em pesquisa desenvolvida na Universidade de Lancaster, no Reino Unido. A constatação é que os efeitos causados no material são semelhantes aos que protetores solares à base do legume propiciam à pele humana. Ou seja, protegem o concreto dos raios UV (ultravioleta). O objetivo do estudo, que tem prazo até 2020 para ser concluído, é chegar a um aditivo natural para o concreto.
O estudo revela que as nanopartículas atuam como “filtro solar” e ajudam a proteger o concreto principalmente nas primeiras idades do material, quando ele está mais exposto a fissuras provocadas por retração de origem térmica. “A capacidade de resistência mecânica do concreto apresenta significativa evolução”, diz relatório preliminar, já que a pesquisa terá mais um ano para chegar às conclusões finais. Em 2019, a pretensão dos pesquisadores é testar nanopartículas extraídas de outros legumes para comparar os resultados obtidos com a cenoura.
As primeiras impressões revelam que as nanopartículas à base de cenoura trabalham tanto para estimular a reatividade do hidrato de silicato de cálcio como para prevenir contra rachaduras. O estudo está a cargo do pesquisador Mohamed Saafi, professor do departamento de engenharia civil da Universidade de Lancaster. “Os compósitos cimentícios que testamos apresentaram microestruturas mais densas, o que é importante para evitar a corrosão e aumentar a vida útil dos materiais”, diz.
Estudo também quer chegar a uma tinta que proteja melhor fachadas e estruturas à base de cimento
Os elementos de concreto produzidos nos laboratórios na Universidade de Lancaster utilizam Cimento Portland comum. No estudo, os pesquisadores detectaram que a flexibilidade do concreto melhorou com a aplicação das nanofibras vegetais. A constatação é de que o material tem desempenho semelhante aos que utilizam fibra de carbono. “Produzimos vigas de concreto capazes de resistir a forças potencialmente prejudiciais quando submetidas a uma carga de flexão”, explica Mohamed Saafi.
Os próximos passos da pesquisa serão no sentido de descobrir o volume ideal de nanopartículas por m³ de concreto, a fim de que possa ser testado o fck (resistência à compressão) do material. Para os pesquisadores, essa etapa será muito importante, pois pode significar a aprovação do compósito para uso em grandes estruturas, como pontes e viadutos. “Ter esses dados será a fronteira entre uma mera pesquisa de laboratório e a aplicação prática de nossa pesquisa”, afirma o coordenador do estudo.
Paralelamente aos testes em concreto, o departamento de engenharia civil da Universidade de Lancaster também pesquisa sobre a aplicação das nanopartículas na composição de tintas para revestimentos à base de cimento. A intenção é criar um material que proteja as estruturas e fachadas das ações das intempéries e também das ações dos raios UV e que, ao mesmo tempo, cause menos danos ambientais, substituindo elementos noviços das tintas por componentes naturais.
Entrevistado
Reportagem com base em relatório preliminar a da pesquisa, publicado pela Universidade de Lancaster
Contato: engineering@lancaster.ac.uk
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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