Neuroarquitetura busca melhorar a produtividade e o bem-estar
Mudanças nos ambientes provocam estímulos diretos no comportamento
O ambiente físico impacta diretamente no comportamento humano, provocando estímulos variados de acordo com cada espaço. E esse é o objetivo da neuroarquitetura, o de decorar e estruturar cada cômodo de acordo com as necessidades de cada local, com base em estudos científicos, e melhorar desde a produtividade no trabalho até a noite de sono em casa.
O Massa Cinzenta conversou com a neurocientista Geissy Araújo, pós-doutora em Neurociências pelo Instituto do Cérebro da UFRN, e a arquiteta e urbanista Rafaela Lopes, pós-graduada em Neurociências e Comportamento na PUC/SP, sobre o crescimento da neuroarquitetura no Brasil e os principais elementos utilizados nas mudanças de ambientes.
As especialistas, que trabalham juntas em projetos neuroarquitetônicos, também falaram sobre como a pandemia fez com que as pessoas buscassem a modificação dos espaços residenciais, não apenas para facilitar o home office, mas para trazer mais conforto e a sensação de identidade.
Pela experiência e observação de vocês, a aplicação da neuroarquitetura é cada vez mais crescente no Brasil?
Geissy e Rafaela: Cada vez mais a neurociência está sendo aplicada a projetos arquitetônicos com o intuito de melhorar a qualidade de vida e bem-estar dos seres humanos. Apesar de ser um campo novo no Brasil, a neuroarquitetura possui anos de pesquisa a aplicação ao redor do mundo.
É interessante observar que uma equipe multiprofissional passa a se unir com um propósito de utilizar o melhor da ciência e aproximar esses saberes de forma prática na vida das pessoas. Desse modo, observamos um grande crescimento na busca de projetos que utilizam a neurociência aplicada à arquitetura, o que acaba representando um avanço importante na integração e relação das pessoas com o ambiente que vivem em busca de mais qualidade e conforto.
Podemos dizer que os principais elementos utilizados nos ambientes são relacionados a cores, espaços verdes, iluminação e sons?
Geissy e Rafaela: Sim, a biofilia é o campo de estudo que aproxima elementos da natureza aos espaços residenciais, visando o bem-estar e conforto humano. Desse modo, além de plantas vivas e ornamentais, busca-se inserir elementos com textura, cor, densidade, ajustar luz e inserir sons que nos aproximem ao máximo da natureza.
Nosso sistema nervoso capta essas informações e, de certo modo, se regula para reduzir liberação de hormônios relacionados a estados mais reativos como ansiedade e estresse. Além disso, um projeto neuroarquitetônico é pensado de modo a utilizar o máximo de luz natural, favorecendo a regulação do ciclo sono-vigília, concentração e foco durante períodos de trabalho em home office.
Finalmente, os espaços são pensados de acordo com seus objetivos, tendo como prioridade o conforto e a funcionalidade juntamente com a integração com elementos da natureza.
A busca pela neuroarquitetura aumentou depois da pandemia?
Geissy e Rafaela: Com a pandemia e as recomendações de distanciamento físico, fomos obrigados a habitar espaços que antes eram ocupados apenas em momentos de descanso após um dia de trabalho. Tendíamos a passar o dia inteiro fora de casa e retornar apenas para dormir, descansar para retomar a rotina no dia seguinte.
Nos primeiros meses, toda a falta de informação acerca da Covid nos manteve em casa e nos deparamos com a necessidade de modificação do nosso espaço residencial, não apenas para adaptação ao home office, mas também para trazer mais conforto e identidade. Com esse movimento, muitos elementos que já sabemos por meio das neurociências que impactam o nosso bem-estar foram inseridos nos mais diversos cômodos.
Observamos o aumento de espaços verdes, com plantas naturais em casa, a utilização de materiais que trazem uma maior sensação de conforto aos sentidos, com uma iluminação mais adequada a uma leitura de qualidade, com menor impacto ao ciclo de sono-vigília (luzes branco quente/amarelas). Além disso, a liberação de espaço, retirando excessos de elementos que causam sensação de aperto/claustrofobia, também foi um processo observado na busca por modificações.
Mudança de coloração das paredes, com tons mais claros que remetem a uma sensação de bem-estar e favorecem a luminosidade do ambiente. De modo geral, a pandemia promoveu, portanto, uma transformação da casa em lar, aumentando o vínculo afetivo das pessoas com suas casas.
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
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