Laudo sobre desabamento de sacadas em prédio de Belém ainda não foi concluído
Polícia Civil aguarda resultado da perícia; engenheiro Paulo Helene explica possíveis causas
No dia 13 de maio, foi registrado o desabamento de 13 sacadas do edifício residencial Cristo Rei, no bairro da Cremação, em Belém. Não houve feridos. O trabalho pericial foi realizado por peritos criminais no Núcleo de Engenharia Aplicada (NEA), da Polícia Científica do Pará (Pcepa), mas o laudo ainda não foi concluído.
A Polícia Civil do Pará informou “que o caso segue em investigação por meio da Seccional da Cremação” e que “a planta do imóvel foi recebida e encaminhada para a Polícia Científica”. A nota termina dizendo que a Polícia aguarda o resultado da perícia para complementar as averiguações.
Na ocasião do desabamento, equipes dos Bombeiros e da Polícia Científica disseram que a suspeita inicial era de que uma infiltração possa ter contribuído para a queda – e também de que o prédio, construído na década de 1980, não tenha passado por manutenção com regularidade.
Conversamos com o engenheiro civil Paulo Helene, diretor-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto), para entender mais sobre o assunto. Ele falou sobre esse “efeito dominó” provocado pela queda das sacadas, sobre as possíveis causas desse tipo de acidente e como evitá-los.
Pela sua experiência, quais podem ter sido as causas para que as 13 sacadas do prédio tenham desabado ao mesmo tempo?
Como ocorreu décadas depois de construído, a principal hipótese é corrosão de armadura na sacada mais alta (cobertura). Caindo uma sobre as outras, todas as demais, abaixo dela, colapsam, pois o peso de uma sacada é muito superior à capacidade dela, que é dimensionada apenas para o peso de pessoas, cerca de 200 a 250 kg por m². O material pesa na ordem de 500 kg por m².
Como agravante, pode ter sido mal construída com armaduras superiores mal posicionadas, mas isto é agravante. O determinante é corrosão localizada das armaduras junto ao apoio, na face superior da laje de engastamento, que se inicia com uma fissura pouco visível que só um especialista descobre e conhece.
Em uma reportagem anterior, falamos sobre como os acidentes antigos são determinantes para que se evite tragédias futuras. Nesse caso, pode-se dizer que foi um acontecimento totalmente evitável?
Sim, é um caso clássico e super COMUM. Seria evitado com inspeções prévias de manutenção, como recomendam as normas, a cada 2 a 5 anos.
Quais são os principais aspectos que devem ser levados em conta na construção de sacadas seguras?
Tenho um artigo técnico publicado sobre o tema: projeto adequado e principalmente execução (posicionamento da armadura) correta. Hoje, além de armadura na face superior para resistir aos esforços de momento e cisalhamento [ação de uma força na direção transversal ao seu eixo], recomenda-se armar a face inferior da laje ou viga com armadura suficiente para suportar o peso total da sacada. Assim, caso venha a falhar nas armaduras superiores por corrosão (grande risco usual), as armaduras da face inferior impedem o desabamento da sacada sobre outras sacadas e sobre pessoas. A falha fica isolada.
Há muitos casos de queda ou problema com sacadas? É algo que acontece mais do que deveria?
Há muitos e muitos casos. Recife, Porto Alegre, Salvador, Nova York e Buenos Aires, só para lembrar de cabeça, têm exigências severas das prefeituras locais. Regras duras e inspeções com ART a cada 2 anos! O Síndico e a Administradora podem ser responsabilizados criminalmente caso não cumpram a ABNT NBR 16747 de Inspeção Predial.
Fontes
Polícia Civil do Pará
Paulo Helene, diretor-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto)
Jornalista responsável
Fabiana Seragusa
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