Como o metaverso pode ser utilizado na construção civil?
A virtualização de obras permite compreender o projeto, corrigir problemas e analisar histórico
Recentemente, o Facebook anunciou uma mudança no nome da empresa, que passou a se chamar Meta. Essa alteração veio acompanhada de um anúncio de que, a partir de agora, a companhia será cada vez mais focada em metaverso, um ambiente virtual imersivo, coletivo e hiper-realista, onde as pessoas poderão conviver, trabalhar e se relacionar.
“Trata-se da união do mundo físico e digital, permitindo a combinação da realidade virtual (VR) e aumentada (AR) em uma realidade estendida (XR), em ambientes colaborativos mediados por interface 3D, com transações descentralizadas em blockchain”, explica Guilherme Rosa, head do iCON Hub, braço de tecnologia e inovação do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP).
E como essa tecnologia poderia impactar no setor de construção civil? Já existem iniciativas nesse sentido? “Tudo relacionado ao metaverso é ainda muito incipiente. Não obstante, o hype que tem gerado entre os mais antenados às tendências. Trata-se de um conceito idealizado há anos, mas que vem ganhando viabilidade por conta do estágio de desenvolvimento de tecnologias – aplicativos, dispositivos, ferramentas, infraestrutura – que estão sendo combinadas para criar as experiências imersivas do metaverso”, afirma Rosa.
Para Diego Faria, gerente de serviços profissionais da FF Solutions, se tomarmos um conceito de ambiente virtual focado na interação dos usuários, é possível dizer que a criação de modelos tridimensionais que viabilizem a aproximação de stakeholders para discussão de soluções técnicas, já pode ser considerado um metaverso. “Esse conceito pode ser escalado para além de um empreendimento único, podendo-se criar uma rede de ativos virtuais interconectados representando áreas cada vez maiores dentro de uma cidade ou país. A virtualização da construção já vem sendo aplicada amplamente em diversos tipos de empreendimento, industriais, de infraestrutura e imobiliários, sendo possível até criar salas digitais, com uso de óculos de realidade virtual, para uma discussão imersiva e colaborativa”, opina Faria.
Vantagens do metaverso na construção civil
Em primeiro lugar, a virtualização do empreendimento a ser construído permite que os stakeholders compreendam melhor a intenção do projeto, antecipem e corrijam potenciais problemas, além de analisar e simular as melhores condições para sua operação.
“Isso tudo pode ser realizado nesse metaverso do empreendimento, nas diferentes fases do ciclo de vida. Contudo, acredito que as maiores vantagens virão da ampliação do uso de gêmeos digitais em níveis mais aprofundados, que permitam análise de todo o histórico de operação do empreendimento para otimização do seu uso, manutenção preditiva, criação de alertas, entre outros”, aponta Faria.
Metaverso em diferentes fases da construção civil
O conceito de metaverso pode impactar diversos momentos do ciclo da construção civil:
Fase conceitual e de projeto
Em um primeiro momento, numa fase conceitual, é possível estudar e comunicar melhor a intenção de projeto, segundo Faria. Em seguida, na fase de projeto, é possível melhorar a compatibilização multidisciplinar e produzir entregáveis precisos.
Ainda, o uso de dispositivos 3D permitirá acessar e construir em tempo real os modelos, visualizar dados e gerir o projeto em um ambiente de interação colaborativa e remota.
“Imagine que equipes espalhadas pelo mundo poderão realizar uma prototipação imersiva, fazendo revisões do projeto e interagindo com as próprias mãos, tornando o processo muito mais rápido e barato. A visualização das camadas do projeto em BIM, que também ganharão suas versões imersivas, enquanto as opções de acabamento podem ser muito mais facilmente testadas e escolhidas pelo cliente em um ambiente simulando o real. Tudo isso muda as expectativas para a apresentação dos projetos, que passam a ser também imersivas”, comenta Rosa.
Experiência do cliente
Para Rosa, é neste ponto que fica evidente o potencial desta tecnologia para a experiência do cliente em marketing e vendas, pois permite a criação de uma experiência imersiva para o lançamento, venda e personalização dos empreendimentos.
“A decoração do imóvel pode ser realizada no tour virtual em que o piso, os móveis e os acabamentos podem ser visualizados, escolhidos e comprados na hora”, pontua Rosa.
Obras & Pós-obras
Na fase de obras, é possível simular o processo executivo para evitar gargalos e acompanhar o andamento das atividades, segundo Faria.
Finalmente, na fase de pós-obra, é possível criar um gêmeo digital do ativo construído. “Ele deve conter todas as informações necessárias para sua operação e manutenção, incluindo o uso de dispositivos IoT (Internet of Things, ou internet das coisas) e até AI (Artificial Intelligence, ou inteligência artificial)”, destaca Faria.
Criação de ativos
Um outro aspecto a ser explorado é o da criação de ativos – os assets – que são elementos que podem ser vendidos dentro dos metaversos, como móveis, imóveis, terrenos e lojas.
“Aqui é importante que se diga que não há um único metaverso, mas metaversos. Dentro das plataformas de cada metaverso, é possível criar e transacionar esses ativos. Entre os mais comentados estão os terrenos, ou seja, um mercado imobiliário dentro do metaverso. Esses pedaços de solo virtual ficam dispostos em mapas digitais divididos em lotes e custam dinheiro criptomoedas, têm registro de propriedade e estão sujeitos à valorização ou desvalorização com o tempo. Cada terreno do metaverso é negociado como um token não fungível (NFT), que representa um item exclusivo, que pode ou não ser digital. Em princípio, os negócios do mercado de terrenos do metaverso não têm relação direta com o mercado imobiliário do mundo real, a não ser quando utilizado para os objetivos promocionais de marketing e vendas, mencionados anteriormente”, pontua Rosa.
Transações
Há ainda algumas aplicações de blockchain como uma das chaves habilitadoras do metaverso. “Trata-se de uma tecnologia descentralizada que permite fazer transações sem que haja uma instituição ou unidade central fazendo o intermédio desses valores. Nessas transações, são utilizadas as criptomoedas, como o bitcoin, por exemplo, que podem representar itens como roupas, objetos de valor, ingressos, ações de participação em empresas, terrenos, dentre muitas outras possibilidades. Também pode ser utilizado na gestão financeira e comercial, como para o rastreamento de materiais e suprimentos desde a origem até a chegada, e nas transações de compra e venda de apartamentos, com a redução de custos e maior agilidade na transferência de propriedade”, expõe Rosa.
Metaverso e a metodologia BIM
Todos os pontos comentados acima passam pela premissa da criação de modelos virtuais do empreendimento, que podem ser criados com processos e ferramentas baseadas na metodologia BIM.
“Sendo assim, o BIM é uma porta de entrada para criação do metaverso da construção civil. Naturalmente, é necessário que o nível de maturidade BIM do mercado como um todo continue avançando para que aplicações mais complexas sejam possíveis. Por exemplo, é preciso estabelecer diretrizes claras para produção desses modelos inteligentes para que atinjam seus objetivos, visto que existe uma gama muito grande de potenciais aplicações”, conclui Faria.
Entrevistado
Guilherme Rosa é head do iCON Hub, braço de tecnologia e inovação do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP)
Diego Faria é gerente de serviços profissionais da FF Solutions, empresa que oferece soluções Inovadoras atuando em parceria com os maiores desenvolvedores de softwares e hardwares: Autodesk, Google, Oracle, ESRI e Adobe. Atua nos mercados de Arquitetura, Engenharia, Construção, GIS e Plantas Industriais
Contatos
guilherme@iconhub.com.
brdiego.faria@ff.solutions
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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