Avaliação da Eletrobras segue em xeque

Privatização tem a etapa de estudos técnicos aprovados pelo TCU, mas ainda é criticada
17 de fevereiro de 2022

Avaliação da Eletrobras segue em xeque

Avaliação da Eletrobras segue em xeque 1024 683 Cimento Itambé
Vista aérea do sistema elétrico de Foz do Iguaçu que ilustra investimentos não contabilizados na privatização da Eletrobras
Crédito: José Fernando Ogura/ANPR

A privatização da Eletrobras teve um novo capítulo no último dia 15 de fevereiro, quando a área técnica do TCU (Tribunal de Contas da União) analisou a primeira parte da privatização da Eletrobras (ELET6 ; ELET3), referente à outorga (valor da taxa que precisa ser paga à União), que foi aprovada por seis votos contra um. O trâmite ainda não acabou, inclui pelo menos duas etapas importantes, dentre as quais um segundo aval do TCU. Na visão de quem acompanha o setor, as críticas convergem de que houve erro na avaliação da Eletrobras, que reduziu o valor em contratos em R$ 46 bilhões.

O placar final do TCU votou pela continuidade do processo de desestatização, com apenas Vital do Rêgo sendo divergente, enquanto seguiram o ministro-relator, Aroldo Cedraz, os ministros Raimundo Carreiro, Benjamin Zymler, Walton Alencar Rodrigues, Augusto Nardes e Jorge Oliveira. Segundo Vital do Rêgo, se o governo considerasse o componente potência, os valores dos contratos seriam de R$ 113 bilhões. O governo quer privatizar a Eletrobras por R$ 67 bilhões. Para o engenheiro mecânico e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR), Ricardo Vidinich, de forma bem resumida, o grande problema no valor está no fato do governo desconsiderar o patrimônio existente entre o custo das obras, desapropriação e indenização de terras já pagos pelos consumidores. “Só está sendo contabilizada a manutenção e troca de equipamentos analógicos por digitais, a chamada repotencialização das máquinas”, pondera. “É importante levar em consideração que essas barragens e os terrenos vão durar por centenas de anos. Vai muito concreto nas barragens de cada Usina.

Ricardo Vidinich é Conselheiro do Crea-PR, foi representante do Crea-PR no Conselho de Consumidores da Copel Crédito: divulgação/CREA-PR

Para exemplificar, em Itaipu foram aplicados 12,7 milhões de metros cúbicos de concreto e em Belo Monte foram 3 milhões de metros cúbicos”, ressalta. Importante que essas barragens e os terrenos vão durar por centenas de anos.
Ele também observa que “a privatização não gera quilowatt a mais de energia nova”. “A retirada do regime de cotas e transformação em preços de mercado cria essa distorção que, mais uma vez, prejudica o consumidor, a exemplo do que observamos ao longo de toda a crise hídrica”, constata.

De acordo com os esclarecimentos do ministro Vital do Rêgo, a modelagem apresentada pelo governo “não precifica a potência”. Isso faz com que a modelagem de garantia física fique defasada na desestatização da Eletrobras: “ao desconsiderar o componente potência, desconsidera-se o potencial de arrecadação por meio de sua venda”, de modo que o valor adicionado dos contratos (VAC) pode estar sendo indevidamente subavaliado. Além do impacto de não precificar a potência, na ordem de R$ 46 bilhões, o erro avaliado no risco hidrológico e a diminuição dos descontos acertados pelo governo fariam o valor do VAC chegar a R$ 130,4 bilhões, o que renderia ao Tesouro Nacional R$ 57,2 bilhões, quase o dobro do que foi apresentado pelo projeto, e R$ 63,7 bilhões destinados à CDE. O governo apresentou VAC de R$ 67,05 bilhões, dos quais R$ 32 bilhões para CDE e R$ 25 bilhões para o Tesouro Nacional.

Próxima semana

Antes de retornar aos ministros, o assunto vai ser discutido no próximo dia 22 de fevereiro em Assembleia Geral Extraordinária (AGE), convocada pela Eletrobras. No encontro, os acionistas da estatal precisam aprovar a emissão de novas ações da empresa na Bolsa brasileira e em Nova York, conforme prevê o plano de desestatização; aprovar a reestruturação societária da Eletrobras; autorizar o conselho de administração a definir, negociar e aprovar os termos das ofertas. Isso também é fundamental para que a privatização ocorra. Na visão do presidente da Associação Brasileira de PCHs e CGHs (ABRAPCH), Paulo Arbex, os questionamentos podem até atrasar o processo, mas ele acredita que a desestatização será concluída em meados de 2022.

Confira também: ABRAPCH aguarda desenrolar dos leilões para comemorar mudanças

Entrevistados
Ricardo Vidinich é engenheiro mecânico e Conselheiro do Crea-PR, foi representante do Crea-PR no Conselho de Consumidores da Copel
Paulo Arbex – presidente da ABRAPCH

Contatos
https://www.crea-pr.org.br/ws/fale-conosco
https://abrapch.org.br/contato/

Jornalista responsável
Magaléa Mazziotti – MTB 4407/PR

17 de fevereiro de 2022

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