"Doença da pressa" contamina profissionais

11 de agosto de 2009

"Doença da pressa" contamina profissionais

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Consultor empresarial ressalta que trabalho e descanso precisam estar em equilíbrio

Humberto César Costa de Souza: trabalho deve se guiar pela matriz GUT (Gravidade, Urgência e Tendência)

Humberto César Costa de Souza

Um dos atuais desafios dos profissionais é gerir o tempo. O que se impõe é aumentar a produtividade sem que isso interfira na vida pessoal. Mais que uma arte, operar a gestão do tempo requer organização. Como fazê-lo? O consultor empresarial Humberto César Costa de Souza, que há 10 anos ministra cursos sobre gestão do tempo, revela que os profissionais adquiriram a “doença da pressa” e perderam a noção do tempo que devem dedicar ao trabalho. Pior: passaram a fazer mau uso da tecnologia, sem conseguir a almejada qualidade de vida. É o que ele explica na entrevista a seguir. Confira:

Os recursos tecnológicos, que em tese surgiram para dar mais tempo, hoje parecem ter transformado a vida dos profissionais em um caos. Por que isso ocorre?
Infelizmente, grande parte da população está sofrendo da “doença da pressa”. O que isso significa: em vez de usar os recursos tecnológicos para ganhar tempo e melhorar a qualidade de vida, o profissional reage abruptamente e, muitas vezes, passa a acumular atividades. Quer um exemplo: surge uma mensagem no celular. Em vez de terminar o que está fazendo, e depois responder, a pessoa interrompe uma tarefa que às vezes é mais importante para priorizar a mensagem. Isso é anular o ganho proporcionado pela tecnologia.

As pessoas, de fato, estão trabalhando mais ou essa é uma falsa impressão e o que ocorre é que elas não estão sabendo aproveitar as horas de folga?
Acredito que muitas pessoas se desacostumaram com as “horas de folga”. Esse período foi contaminado pelas atividades de trabalho. Há pessoas que se sentem envergonhadas de dizer “eu não estou fazendo nada”. Não importa se é domingo, feriado ou fora do horário de trabalho normal, elas se sentem na obrigação de ter uma atividade produtiva.

Durante a idade profissional existe uma faixa etária que é mais vulnerável ao trabalho excessivo ou todos são afetados indiscriminadamente?
Normalmente, os profissionais em início de carreira são mais vulneráveis ao trabalho excessivo, por quererem mostrar serviço e subir mais rápido nas organizações. No outro extremo, os profissionais em vias de se aposentar também tendem a trabalhar mais. Por dois motivos: medo da aposentadoria, onde eles imaginam que vão passar muito tempo sem atividade, ou para tentar demonstrar que ainda são úteis para a organização. Profissionais com a carreira mais estabilizada tendem a não abusar do horário de trabalho.

Os novos profissionais que estão surgindo não estariam vindo com uma concepção de tempo diferente de outros que estão no meio da carreira, por exemplo?
Novos profissionais estão vindo com a ideia de dar uma carga maior de trabalho no início da carreira para subir rápido nas organizações. Contudo, se as organizações não satisfazem suas necessidades, eles inicialmente diminuem o ritmo e depois mudam de emprego. Nisso eles diferem dos profissionais mais antigos, que normalmente se dedicavam a construir a carreira já desde cedo numa mesma empresa.

O profissional não estaria vivendo um dilema: se trabalhar pouco pode ficar sem recursos para sua qualidade de vida; se trabalhar muito, fica sem componentes fundamentais para a qualidade de vida, como lazer e família. Onde está a equação ideal?
O segredo está no equilíbrio: estabelecer um planejamento adequado e aplicar, por exemplo, em um plano de previdência desde cedo (a partir dos 23 anos). Não precisa ser uma quantia exagerada, mas sim uma que possa dar tranqüilidade no futuro. O que não recomendo é se privar de todo e qualquer lazer hoje, somente pensando no futuro. É preciso que trabalho e descanso estejam em equilíbrio na vida.

Algumas empresas, para gerar qualidade de vida aos seus funcionários, criaram sistema de trabalho em que os empregados poderiam trabalhar de casa ou sem cumprir um horário rígido. Resultado: muitas delas voltaram atrás e readotaram o horário de trabalho. O que ocorreu de errado nestes casos?
O que faltou, nestes casos, foi um planejamento adequado. Nem todas as pessoas gostam de trabalhar em casa, sem um certo padrão de controle. Além disso, não é qualquer atividade que pode ser executada de forma mais eficaz fora do ambiente de trabalho. Mas o que ocorreu é que houve a adoção de um modismo sem um amadurecimento do conceito à realidade brasileira. Vale mencionar o equilíbrio nas ações: se, por alguma razão, um profissional precisa ficar em casa para dar algum tipo de assistência maior à família, por que não fazê-lo? O erro, a meu ver, está em se implantar indiscriminadamente a medida e também em não estabelecer, num acordo, a forma de verificação dos resultados esperados do processo.

O quanto nesta questão da gestão de tempo é culpa do profissional e o quanto é culpa da empresa?
No meu entender, a maior culpa é do profissional. Se ele dá espaço em sua rotina, a empresa ocupa este espaço. Ele tem que aprender a dizer não, a demonstrar que para tudo existe um limite. Caberia à empresa também não abusar ou querer ocupar todo o espaço. O diálogo, como se vê, é indispensável.

Questões regionais afetam na gestão de tempo do profissional? Um exemplo: diz-se que os nordestinos são mais donos de seu tempo, enquanto o pessoal do Sul/Sudeste corre contra o tempo.
Deste ponto posso falar com total conhecimento de causa, pois sou baiano e vivi na Bahia por muitos anos. Realmente, no Nordeste, em razão principalmente do clima extremamente quente, as pessoas tem que ter um ritmo mais lento de trabalho, o que não significa necessariamente que produzam menos. Na verdade, eles se acostumaram a ter o seu tempo e só quem estranha isso é o pessoal do sul que vai para lá.

Uma pessoa que trabalha em ritmo alucinado e, de repente, é forçada a parar abruptamente, seja por questão de saúde ou por ter sido demitido, como deve encarar essa situação?
Dependendo do motivo, pode ser um baque muito grande e a família precisa dar apoio e também fazer com que a pessoa tenha atividades que possam suprir esta falta, como um curso que preencha parte daquele tempo perdido. Se o problema for saúde, o cuidado tem que ser maior e as atividades devem ser muito bem dosadas para evitar estresse.

A velha canção do Geraldo Vandré (Pra não dizer que não falei das flores) diz “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Esse poderia também ser o lema de quem quer gerir bem seu tempo?
Não acho isso. Às vezes, deixar para depois nem sempre é ruim. Quando trabalhava em empresa, na ânsia de entregar logo um trabalho, fazia na hora. Daí, as orientações mudavam um pouco e tinha de refazer. O que recomendo sempre é usar a matriz GUT, que avalia a Gravidade, a Urgência e a Tendência para determinar o quão rápido o trabalho precisa ser feito. Vale lembrar que esta música foi composta no auge da ditadura militar, nos final dos anos 60, em um outro contexto social, o que não é o nosso caso agora.

Entrevistado: Humberto César Costa de Souza: humberto.c.souza@terra.com.br

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação

11 de agosto de 2009

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