Estruturas mistas deram velocidade às obras de alguns estádios, e ganharam visibilidade. Meta do setor, agora, é ampliar projetos para edifícios
Por: Altair Santos
A Copa do Mundo escalou para o jogo da construção civil as chamadas estruturas mistas ou híbridas, onde aço e concreto se unem para dar agilidade à obra. As reformas de estádios como Maracanã, Mineirão e Castelão se beneficiaram deste modelo, que também é aplicado em construções de edifícios com andares múltiplos, predominantemente com mais de 30 pavimentos, assim como em obras de shopping centers, centros de logística e indústrias.
Segundo o especialista neste tipo de sistema construtivo, o engenheiro civil Alexandre Vasconcellos, os ganhos de produtividade e o retorno sobre o investimento compensam o custo, que é mais caro do que a alvenaria convencional e os pré-fabricados de concreto, independentemente do tipo da obra. “Se compararmos apenas as estruturas de um edifício, sempre uma estrutura mista ou de aço terá um preço maior. Mas o uso assegura diminuição do custo de fundação, diminuição das despesas indiretas, redução dos riscos operacionais e antecipação de prazo. Pode-se afirmar que a cada mês de antecipação de prazo, há um retorno de 2% sobre o custo do edifício”, afirma.
Foram essas vantagens, aliadas à necessidade de aliviar a carga sobre as estruturas antigas de concreto, que levaram os engenheiros e projetistas a optar pelo uso de estruturas mistas nas novas arquibancadas do Maracanã. Além disso, o sistema de amortecimento inovador implantado no estádio exigia essa solução. Ocorre que a estrutura metálica se apoia sobre o contraforte que circunda o complexo e sustenta as peças pré-fabricadas de concreto que formam a arquibancada inferior do Maracanã. Assim, o palco da final da Copa do Mundo de 2014 conseguiu ser remodelado internamente sem que a arquitetura externa, que é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) sofresse alteração.
Apesar de agregar tecnologia, as estruturas mistas têm sido absorvidas lentamente pelo mercado brasileiro. Dos edifícios construídos no país, menos de 1% utilizam esse sistema construtivo. Para Alexandre Vasconcellos, uma das razões é que existem poucos engenheiros civis que sabem projetar e construir com estruturas em aço e concreto. “Há escassez e, sem dúvida, isso prejudica a evolução das estruturas mistas. Entretanto, como são poucas obras que utilizam esse sistema, poucos se habilitam em estudar o assunto. É um círculo vicioso”, diz, afirmando que para a atual demanda há fabricantes suficientes para atendê-la. “Se o market share (participação no mercado) das estruturas mistas e de aço para edificações passar para 2%, não teremos capacidade de atendimento”, completa.
Uma possibilidade desse setor se expandir está na nova tendência da construção civil brasileira, de projetar e erguer arranha-céus. “Quanto mais alto o edifício, quanto maiores os vãos, mais indicada tornam-se as estruturas de aço e mistas. O tempo de construção também é um fator determinante. Quanto mais alto o edifício, mais rápido e seguro será construí-lo em estrutura mista ou de aço“, explica Alexandre Vasconcellos, citando que, atualmente, os edifícios New Century e Centro Empresarial do Aço, em São Paulo, e o Centro Empresarial Senado, no Rio de Janeiro, são modelos no Brasil para quem constrói com aço e concreto.
Saiba mais sobre as estruturas mistas de aço e concreto.
Entrevistado
Engenheiro civil Alexandre Luiz Vasconcellos, diretor da Método Engenharia e Construção Ltda. – empresa especializada em estruturas para edifícios de múltiplos andares no Brasil
Contato: alvasconcellos@bol.com.br
Crédito foto: Divulgação/Odebrecht/WTorre