Sustentabilidade surpreendeu engenharia brasileira

12 de novembro de 2015

Sustentabilidade surpreendeu engenharia brasileira

Sustentabilidade surpreendeu engenharia brasileira 412 435 Cimento Itambé

Na mais recente edição da Feicon Batimat NE, André Montenegro de Holanda, presidente do Sinduscon-CE, tocou em temas polêmicos do setor

Por: Altair Santos

Na Feicon Batimat Nordeste, que aconteceu de 21 a 23 de outubro, um dos seminários que mais concentrou as atenções foi o que tratou dos rumos da engenharia e da arquitetura no país. Ele atraiu, além de engenheiros civis e arquitetos, projetistas, construtores, professores, peritos e responsáveis por controle e qualidade. A questão central concentrou-se nas novas demandas que se impõem aos profissionais, como construção sustentável, Norma de Desempenho, novos sistemas construtivos, produtividade, mecanização do canteiro de obras, BIM e outras inovações que redefinem as profissões. Usando-as como referência, o engenheiro civil e presidente do Sinduscon-CE, André Montenegro de Holanda, foi taxativo: os conceitos de sustentabilidade estão obrigando a engenharia a se reinventar. Confira a entrevista:

André Montenegro de Holanda: “Nossa engenharia precisa se reinventar”

André Montenegro de Holanda: “Nossa engenharia precisa se reinventar”

Recentemente, o senhor palestrou na Feicon Batimat Nordeste sobre os novos rumos da engenharia. Que rumos seriam esses?
A nossa engenharia precisa se reinventar. Nós tivemos um grande boom nos últimos anos e descobrimos que a nossa engenharia está defasada no comparativo com países mais desenvolvidos, principalmente no que se refere à produtividade. Precisamos reinventar também a forma de financiamento de imóveis. Não podemos ficar alicerçados apenas nos financiamentos da Caixa (Econômica Federal), que dependem da poupança. Como a poupança no momento está ruim, reflete no financiamento.

As mudanças que se impõem à engenharia se dão, principalmente, em quais aspectos?
Nos aspectos de grande produtividade, na implantação de novas tecnologias construtivas, novos materiais, materiais inovadores e treinamento de mão de obra. Nossa mão de obra é muito desqualificada para enfrentar esses desafios. E volto a bater nesta tecla: buscar novas formas de financiamento do mercado imobiliário. Precisamos testar novas fórmulas, verificar modelos de outros países para implantar aqui.

Tecnicamente, com o surgimento de novas tecnologias, produtos e sistemas, construir tende a ficar mais caro ou mais barato no futuro?
Com certeza, mais barato, pois vai aumentar a produtividade. Precisamos de novos equipamentos também para construir com velocidade. Além disso, é fundamental treinar a mão de obra e adequá-la às novas tecnologias.

A engenharia tem sempre um aspecto social embutido, pois envolve oferecer bem-estar e qualidade de vida às pessoas. O senhor entende que os engenheiros têm consciência deste papel ou a corrida pela obra lucrativa ofuscou isso?
Hoje em dia, o que acontece: as empresas que não pensam em sustentabilidade ambiental acabam surpreendidas, ou seja, empresas que não atendem esses quesitos estão fadadas a não ter seus projetos aprovados. Tem que preparar os engenheiros e os arquitetos a pensar em como fazer, quais materiais usar e como aplicá-los. Essa consciência está mudando, por que se trata de um valor intangível para o cliente. Ele vê com bons olhos as empresas que adotam essas boas práticas.

Sob o aspecto de formação acadêmica, a engenharia também se impõe descobrir novos rumos?
Não tenho dúvidas. Mesmo porque, é preciso concentrar o foco na sustentabilidade. A construção civil ainda consome muito material, muita energia, quando a demanda atual pode construir com energia renovável e fazer reúso da água – hoje bens escassos. Há dez anos, tínhamos grande desperdício de materiais. Com as novas técnicas, com o reaproveitamento de materiais, com a reciclagem, com o reúso, com técnicas que geram menos resíduos, o desperdício diminuiu consideravelmente. Isso precisa ser assimilado pelos acadêmicos.

Qual o papel dos Sinduscon’s espalhados pelo país à frente desta transformação?
Os Sinduscon’s são instituições representativas do setor da construção frente aos mais diversos organismos públicos. Eles discutem leis, discutem planos diretores e promovem o entendimento entre as empresas, além de fomentar pesquisas e dar treinamento, como ensinar os engenheiros a serem gestores. Então, os Sinduscon’s estão muitos fortes, tanto na defesa do setor quanto no treinamento, além de contribuir com a sociedade em algumas campanhas, mostrando que o organismo extrapola a atuação meramente para seus associados.

O senhor avalia que a operação Lava-Jato deve influenciar na forma como a engenharia passará a se relacionar com o poder público?
A Operação Lava-Jato é uma operação muito interessante, mas na verdade a operação nada mais é que uma operação que busca a ética dentro do setor, dentro dos relacionamentos do poder público com a iniciativa privada. Acredito que ela vem realmente trazer uma esperança para que as coisas caminhem como têm que caminhar: eticamente, com preços justos, com a sociedade ganhando, as empresas ganhando. Ela vem fazer um contraponto ao que estava acontecendo.

O senhor é a favor de que o mercado de engenharia no Brasil se abra para empresas estrangeiras?
Eu acho que com o mundo globalizado a gente ganha. Vem empresas de fora compartilhar tecnologias, e vice-versa. Não sou contrário à abertura, desde que seja em condições iguais. Não gosto de reserva de mercado, não.

A reserva de mercado das grandes obras nacionais para empresas brasileiras não compromete a concorrência e a possibilidade do país absorver novas tecnologias construtivas?
Concordo. É igual à época em que o governo brasileiro, na época do Collor (ex-presidente Fernando Collor) chamava os nossos carros de carroças. Depois passamos a construir carros com novas tecnologias, passamos a exportar e concorrer lá fora. Então, se trouxermos empresas para cá, com novas tecnologias, isso pode se repetir na construção civil.

De que forma a atual crise que o Brasil vive vai afetar os rumos da engenharia nacional?
É interessante, porque numa época de crise as pessoas que não baixam a cabeça, que enfrentam a crise de cabeça erguida, e que vão atrás de soluções alternativas, encontram soluções de baixo custo, buscam novas formas de financiamento, pesquisam, repensam suas empresas, fazem diferente, saem da zona de conforto e enfrentam a crise.

Entrevistado
Engenheiro civil e presidente do Sinduscon-CE, André Montenegro de Holanda
Contato: andremontenegro@morefacil.com.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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