Na Europa, o tema é sensível à indústria da construção civil, pois existem metas a serem alcançadas até 2030, e que se tornarão mais exigentes em 2050. Por isso, já existem ensaios comprovadamente eficazes que permitem ao concreto captar CO₂. O problema é que há um limite para essa captação, pois o excesso de CO₂ numa estrutura tende a levar à carbonatação das armaduras, o que é considerado uma patologia do concreto. Segundo relata Carmem Andrade, hoje a resposta mais viável para esse problema é o uso de armaduras em aço inoxidável. Porém, o custo da obra encarece significativamente. Atualmente, esse é o foco da pesquisadora: desenvolver uma armadura imune à carbonatação e que possa caber no orçamento das construções.
Indústria do cimento minimiza emissão de CO₂ com o uso de cinzas volantes e escórias de alto-forno
Enquanto o resultado dos estudos não permite à indústria do aço fornecer um material compatível com concretos que retêm CO₂, a indústria cimenteira faz a sua parte: reduz a emissão de CO₂ com o uso de cinzas volantes e escórias de alto-forno na produção de cimento. A Europa também começou a testar o uso de concreto reciclado na fabricação de novos cimentos, como explica Carmem Andrade. “O processo que usa restos de demolição na industrialização do cimento já se mostra viável e revela a eficácia da economia circular. Tem também os cimentos com escórias de alto-forno e pozolanas, que emitem menos CO₂. Agora, o próximo passo é chegarmos a uma armadura resistente à carbonatação”, diz.
Coparticipante da palestra virtual promovida pelo CICS-USP, o professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, e também da Universidade Federal de Paraíba (UFPB), Gibson Rocha Meira, avalia que é possível as pesquisas chegarem a armaduras resistentes à carbonatação. “O processo de corrosão por carbonatação se dá através da infiltração do CO₂ na armadura. É uma patologia menos agressiva que o ataque por cloretos, e que depende muito das características microambientais. Se houver baixa umidade no ar, a armadura vai durar por um tempo significativo, mesmo sob efeito da carbonatação. Há casos em que, ao longo de 60 anos, houve redução mínima da cessão da armadura, com variações de 1% a 2%, independentemente da espessura. Então, há sim como a pesquisa desenvolver armaduras imunes”, avalia.
Entrevistado
Reportagem com base no webinar “Captura de carbono no concreto e a durabilidade das armaduras”, promovido pelo Centro de Inovação em Construção Sustentável (CICS-USP) com a engenheira química Carmen Andrade Perdrix e com o engenheiro civil Gibson Rocha Meira
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Jornalista responsável:
Altair Santos MTB 2330