Censo mostra por que faltam engenheiros no Brasil

6 de fevereiro de 2013

Censo mostra por que faltam engenheiros no Brasil

Censo mostra por que faltam engenheiros no Brasil 1024 683 Cimento Itambé

IBGE revela que, apesar da demanda e da boa oferta salarial, há menos estudantes do ensino médio optando por cursos de engenharia

Por: Altair Santos

Resultado parcial do censo demográfico de 2010, divulgado no final de 2012 pelo IBGE, comprova que o despertar para a engenharia é um fenômeno recente entre os jovens. Até meados da década passada, o interesse pelas engenharias, incluindo a civil, havia caído 20% em relação aos números mostrados no censo de 2000. Isso explica por que faltam engenheiros atualmente no país.

Daniela Ribeiro, da Robert Half: cursos de engenharia precisam ser mais divulgados.

A formação hoje responde por 7,9% das pessoas matriculadas no nível superior. Há vinte anos, era 9,6%. Para educadores, o quadro só será revertido se o governo estimular a profissão já no ensino médio, principalmente tornando a matemática mais palatável. Atualmente, o déficit no Brasil é de 150 mil engenheiros. Com a demanda aquecida, em cinco anos esse déficit pode duplicar.

Para estancá-lo, seria preciso que pelo menos 15% das pessoas matriculadas nas universidades estivessem estudando engenharia. Mas, além disso, há um outro complicador. No caso específico da engenharia civil, muitos dos que se formam não se dirigem à área técnica e preferem ir para o mercado financeiro. “Esse é um dos principais fatores que causam essa sensação de escassez de mão de obra técnica”, aponta Daniela Ribeiro, da consultoria Robert Half, especializada em recrutamento de engenheiros.

De acordo com a headhunter, o perfil analítico de um engenheiro, aliado a especializações como mestrado e doutorado, o torna muito valorizado para outros mercados que não seja, especificamente, a construção civil. O resultado é que construtoras e empresas ligadas ao setor de óleo e gás – as que mais recrutam engenheiros atualmente – buscam compensar esse déficit fora do país. “Profissionais portugueses, cujos diplomas são reconhecidos no Brasil, têm encontrado um mercado bastante promissor aqui”, explica Daniela Ribeiro.

A especialista avalia que a profissão de engenharia deveria ser mais divulgada, principalmente no ensino médio. “Mostrar a grande quantidade de opções de trabalho para engenheiros é uma alternativa para aumentar o interesse pela profissão. Além disso, mesclar um pouco as disciplinas do curso com aulas mais dinâmicas e atualizadas também ajudaria a conter a evasão”, analisa. Outro ponto destacado é a base matemática dos alunos que optam por engenharia. “Nem todas as escolas, sejam públicas ou privadas, despertam esse interesse nos estudantes, que não tendo uma boa base matemática acabam fugindo de cursos de engenharia“, completa.

Estudantes de engenharia civil: os que se formam, são assediados pelo setor financeiro.

Salário inflacionado

Em 2012, o piso salarial do engenheiro civil fechou em R$ 5.573,00 por 6 horas de trabalho, segundo a lei 4.950-A. No entanto, boa parte das empresas que contratam estão pagando mais. “A escassez de engenheiros mais técnicos inflaciona os salários e as empresas têm tentando driblar esses altos salários oferecendo benefícios e outros fatores motivacionais, com a intenção de atrair e reter esses profissionais. Mas é bom que se frise que a maioria dos engenheiros entrevistados pela Robert Half, apesar de salário ser um fator fundamental, relatam que oportunidade de crescimento, bom ambiente de trabalho e autonomia no ambiente de trabalho são tão importantes quanto salário”, diz Daniela Ribeiro.

Por conta destas oportunidades, e do aquecimento do mercado de construção em todo o país, os engenheiros estão descobrindo novos nichos profissionais, que não estejam necessariamente na região sudeste – a que ainda mais emprega. No sul, a região metropolitana de Curitiba, Joinville, as cidades no entorno de Porto Alegre e Caxias do Sul chegam a ter vagas excedentes. No nordeste, o polo petroquímico de Camaçari-BA e a região de Recife também clamam por engenheiros. A situação é igual na Zona Franca de Manaus. “Avaliamos que trata-se de uma profissão que se manterá aquecida por muito tempo no Brasil”, declara a headhunter da Robert Half. As vagas estão aí, quem se habilita?

Entrevistada
Daniela Ribeiro, senior division manager das divisões de engenharia, marketing e vendas da Robert Half
Currículo

– Daniela Ribeiro é graduada em engenharia mecânica pela Escola de Engenharia Mauá
– Iniciou a carreira na Visteon Sistemas Automotivos, onde trabalhou durante 5 anos, inicialmente na área de cotações de novos negócios. Passou por compras e posteriormente atuou como engenheira de qualidade de fornecedores
– Durante 3 anos e meio atuou como Engenheira de Produtos na General Motors do Brasil, com foco em projetos de exportação e importação
– Em 2008, iniciou a carreira de headhunter atuando na área de engenharia da Robert Half
– Atualmente exerce o cargo de senior division manager das divisões de engenharia e marketing & vendas para São Paulo
Contato: daniela.ribeiro@roberthalf.com.br
Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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