Setor não para de gerar vagas, mas tem dificuldades para contratar. Motivos: mão de obra encareceu e não consegue se renovar
Por: Altair Santos
O setor de construção civil gerou 222 mil postos de trabalho no país em 2011. O segmento fechou o ano passado tendo 2,7 milhões com carteira assinada – número 7,5% maior que o registrado no fim de 2010, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Outro dado importante refere-se aos ganhos em produtividade dos trabalhadores. Desde 2008, a hora-salário de um operário vem aumentando, em média, 1,38% ao ano. Comparativamente, no mesmo período a hora-salário do setor de serviços cresceu 0,38%. É o que revela a pesquisa “Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O estudo mostra ainda que o custo com a mão de obra, principalmente a que atua diretamente no canteiro de obras, tem encarecido significativamente. Há um motivo primordial para isso: a dificuldade em atrair os jovens para a construção civil. Apesar do impulso salarial no setor, trabalhadores entre 18 e 29 anos têm buscado mercados que ainda pagam mais. Nessa faixa etária, até 2009, havia 36,5% de trabalhadores na construção civil. Atualmente, o percentual caiu para 29,2%. “Os jovens brasileiros têm optado por começar a trabalhar mais tarde e escolhido ocupações menos braçais e mais qualificadas que as oferecidas tradicionalmente no setor da construção”, explica o economista Marcelo Neri, coordenador do Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da FGV, e que coordenou o estudo.
Diante deste cenário, Neri avalia que a construção civil corre o risco de sofrer um apagão da mão de obra. A tese vem de encontro aos dados trazidos pelo mais recente relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) denominado “Sondagem da Indústria da Construção”. No documento, divulgado em 2011, 68,1% dos grandes empresários do setor reclamam da dificuldade de encontrar trabalhadores capacitados. O levantamento revela também que 40,4% dos contratantes apontam o alto custo da mão de obra como um dos seus três maiores problemas da construção civil atualmente.
Para reverter esse quadro, o estudo “Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil” sugere que a construção civil reveja seus padrões produtivos. Primeiro, investindo em novas tecnologias; segundo, apostando cada vez mais na qualificação dos trabalhadores do setor. Neste quesito, apesar de todos os esforços, a construção civil ainda ocupa as últimas colocações no ranking de trabalhadores com cursos profissionalizantes. Na indústria automobilística, por exemplo, 45,71% dos contratados passaram pelos bancos escolares para aprender algum tipo de especialização. Na construção civil, esse percentual é de 17,80% – à frente apenas do setor agrícola.
Alta rotatividade
A pesquisa da FGV mostra que, entre os que buscam alguma qualificação, boa parte participa de cursos básicos de curta duração. Apenas 3,5% se matriculam no ensino médio técnico e 0,11% cursam graduação tecnológica. Isso remete a outro problema da construção civil: a alta rotatividade no canteiro de obras. De acordo com a pesquisa “Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil”, de 100 trabalhadores ocupados no setor 8 saem depois de um mês de contrato. É uma taxa quase 30% maior que a registrada em outras áreas da economia, onde a fuga de mão de obra após um mês é de 5,3 para cada 100 contratados.
Trata-se de uma rotatividade que, segundo o relatório “Sondagem da Indústria da Construção”, desestimula 56% das construtoras a investir em capacitação. Para se evitar um círculo vicioso que alimente a tese de apagão na mão de obra da construção civil, o trabalho da FGV conclui que o quadro só será revertido com o combate à terceirização, a oferta de planos de carreira nos canteiros de obras e o investimento maciço em qualificação.
Veja a pesquisa completa da FGV: Clique aqui
Entrevistado
Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas
Contato: cps@fgv.br
Créditos foto: Divulgação / FGV / Agência Fiep