Raro, trabalhador da construção custa mais caro

28 de março de 2012

Raro, trabalhador da construção custa mais caro

Raro, trabalhador da construção custa mais caro 150 150 Cimento Itambé

Setor não para de gerar vagas, mas tem dificuldades para contratar. Motivos: mão de obra encareceu e não consegue se renovar

Por: Altair Santos

O setor de construção civil gerou 222 mil postos de trabalho no país em 2011. O segmento fechou o ano passado tendo 2,7 milhões com carteira assinada – número 7,5% maior que o registrado no fim de 2010, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Outro dado importante refere-se aos ganhos em produtividade dos trabalhadores. Desde 2008, a hora-salário de um operário vem aumentando, em média, 1,38% ao ano. Comparativamente, no mesmo período a hora-salário do setor de serviços cresceu 0,38%. É o que revela a pesquisa “Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Marcelo Neri, da FGV: construção civil corre o risco de sofrer um apagão da mão de obra.

O estudo mostra ainda que o custo com a mão de obra, principalmente a que atua diretamente no canteiro de obras, tem encarecido significativamente. Há um motivo primordial para isso: a dificuldade em atrair os jovens para a construção civil.  Apesar do impulso salarial no setor, trabalhadores entre 18 e 29 anos têm buscado mercados que ainda pagam mais. Nessa faixa etária, até 2009, havia 36,5% de trabalhadores na construção civil. Atualmente, o percentual caiu para 29,2%. “Os jovens brasileiros têm optado por começar a trabalhar mais tarde e escolhido ocupações menos braçais e mais qualificadas que as oferecidas tradicionalmente no setor da construção”, explica o economista Marcelo Neri, coordenador do Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da FGV, e que coordenou o estudo.

Diante deste cenário, Neri avalia que a construção civil corre o risco de sofrer um apagão da mão de obra. A tese vem de encontro aos dados trazidos pelo mais recente relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) denominado “Sondagem da Indústria da Construção”. No documento, divulgado em 2011, 68,1% dos grandes empresários do setor reclamam da dificuldade de encontrar trabalhadores capacitados. O levantamento revela também que 40,4% dos contratantes apontam o alto custo da mão de obra como um dos seus três maiores problemas da construção civil atualmente.

Para reverter esse quadro, o estudo “Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil” sugere que a construção civil reveja seus padrões produtivos. Primeiro, investindo em novas tecnologias; segundo, apostando cada vez mais na qualificação dos trabalhadores do setor. Neste quesito, apesar de todos os esforços, a construção civil ainda ocupa as últimas colocações no ranking de trabalhadores com cursos profissionalizantes. Na indústria automobilística, por exemplo, 45,71% dos contratados passaram pelos bancos escolares para aprender algum tipo de especialização. Na construção civil, esse percentual é de 17,80% – à frente apenas do setor agrícola.

Alta rotatividade

Renovação de trabalhadores na construção civil não consegue atrair os jovens.

A pesquisa da FGV mostra que, entre os que buscam alguma qualificação, boa parte participa de cursos básicos de curta duração. Apenas 3,5% se matriculam no ensino médio técnico e 0,11% cursam graduação tecnológica. Isso remete a outro problema da construção civil: a alta rotatividade no canteiro de obras. De acordo com a pesquisa “Trabalho, Educação e Juventude na Construção Civil”, de 100 trabalhadores ocupados no setor 8 saem depois de um mês de contrato. É uma taxa quase 30% maior que a registrada em outras áreas da economia, onde a fuga de mão de obra após um mês é de 5,3 para cada 100 contratados.
Trata-se de uma rotatividade que, segundo o relatório “Sondagem da Indústria da Construção”, desestimula 56% das construtoras a investir em capacitação. Para se evitar um círculo vicioso que alimente a tese de apagão na mão de obra da construção civil, o trabalho da FGV conclui que o quadro só será revertido com o combate à terceirização, a oferta de planos de carreira nos canteiros de obras e o investimento maciço em qualificação.

Veja a pesquisa completa da FGV: Clique aqui

Entrevistado
Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas
Contato:
cps@fgv.br

Créditos foto: Divulgação / FGV / Agência Fiep

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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