Quando ocorre o efeito Rüsch, as estruturas gritam

20 de dezembro de 2013

Quando ocorre o efeito Rüsch, as estruturas gritam

Quando ocorre o efeito Rüsch, as estruturas gritam 600 397 Cimento Itambé

Alerta do professor Paulo Helene foi dado em recente palestra no Clube da Engenharia do Rio de Janeiro, e acontece quando o concreto perde resistência

Por: Altair Santos

O item 8.2.10.1 da ABNT NBR 6118 – Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento – trata do denominado efeito Rüsch. Ele é representado por um coeficiente de segurança (0,85) e que está associado à redução da resistência do concreto devido ao efeito deletério das cargas de longa duração. Como ensina o professor Antonio C.R. Laranjeiras, a grandeza do efeito Rüsch depende da maturidade do concreto onde a carga de longa duração é aplicada. Quanto mais tempo de cura, maior tende a ser o coeficiente e, consequentemente, maior a resistência do material à compressão.

Paulo Helene: estruturas sinalizam que há problema

Foi essa análise técnica que pautou a palestra que o professor Paulo Helene concedeu recentemente no Clube de Engenharia do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Nela, o especialista mostrou como são feitas as avaliações de resistência do concreto em estruturas, com o objetivo de verificação da segurança. Helene selecionou casos em que estruturas exibiram evidências claras de desgaste. “Há relatos de que as estruturas chegam a emitir sons, ou seja, elas literalmente gritam para demonstrar o risco”, afirmou. Por isso, o engenheiro civil ressaltou a importância das leis sobre vistoria de edificações que têm sido aprovadas no Brasil. “Elas precisam melhorar em alguns pontos, mas incentivá-las é o nosso papel”, disse.

Paulo Helene recheou sua palestra de exemplos em que o coeficiente de segurança do efeito Rüsch não foi respeitado e resultou em desabamento de estruturas. Para ele, neste caso é preciso preparo dos profissionais envolvidos com a construção de edificações. “Consultores, projetistas, controladores, construtores, fiscais, todos estão sujeitos a falhas, e não só a falhas, mas à omissão e ao despreparo. Isso acontece em todas as profissões, mas no caso da engenharia pode causar danos sérios”, destacou o professor da EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).

Na palestra, o especialista citou alguns equívocos construtivos que resultaram em desabamentos e em perdas de vidas. Em um deles, a estrutura de um prédio ruiu porque, no lugar de uma laje estrutural, existia uma laje falsa que não aguentou o peso. “Havia sido feita uma vistoria um ano antes, quando ocorreu um desabamento parcial, mas ninguém avisou a vistoria desta falha construtiva”, explicou. Em outro caso, as portas de um edifício passaram a não fechar mais. Motivo: problemas estruturais fizeram com que as paredes mudassem de forma e travassem as portas. “Num caso como esse, o risco é quase iminente. Quando acontece, a recomendação é sair imediatamente do local”, alertou Paulo Helene.

O professor abordou também casos de um problema que tem sido recorrente no Brasil: a queda de marquises. Citou que Rio de Janeiro e Porto Alegre são as cidades com maior número de registros de problemas estruturais neste tipo de obra e lembrou que “salvar” estruturas de concreto nem sempre é possível. “Recuperar estruturas de concreto é muito complicado pela dificuldade de escorá-las. Por isso, em alguns casos, é melhor refazê-las”, concluiu.

Entrevistado
Paulo Roberto do Lago Helene, mestre e doutor em engenharia civil, palestrante especialista em patologias do concreto e professor da EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo)
Contatos
paulo.helene@poli.usp.br
paulo.helene@concretophd.com.br

Crédito Foto:Fernando Alvim/Clube da Engenharia

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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