Para CBIC, construção civil precisa driblar fadiga

21 de agosto de 2013

Para CBIC, construção civil precisa driblar fadiga

Para CBIC, construção civil precisa driblar fadiga 633 599 Cimento Itambé

Com base em dados da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) organismo sugere mais produtividade e menos burocracia para o setor

Por: Altair Santos

A mais recente Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) – estudo produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – mostra que o período de 2007 a 2011 pode ser interpretado como a “fase de ouro” da construção civil no país. Impulsionado por crédito intenso, programas governamentais e isenções fiscais, o setor acostumou-se a crescer acima do PIB nacional. Para que esse cenário se perenize, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) avalia que novos movimentos precisam ser dados. Entre eles, focar na inovação e na industrialização, para elevar a produtividade e reduzir custos, e combater a burocracia. São ações que evitarão que o crescimento da construção civil entre em um processo de fadiga, como avalia o vice-presidente da CBIC, José Carlos Rodrigues Martins, na entrevista a seguir:

José Carlos Rodrigues Martins, vice-presidente da CBIC: período entre 2007 e 2011 foi a fase de ouro da construção civil.

A mais recente edição da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) mostra que o setor teve crescimento pujante de 2007 a 2011. As perspectivas seguem otimistas para o próximo período de 4 anos?
Até 2004, o setor da construção viveu um longo período de baixo crescimento e poucos investimentos, o que produziu um significativo déficit nas áreas habitacional e de infraestrutura. Essa situação foi resultado de um ambiente macroeconômico de instabilidade e dificuldade de planejar em prazos mais longos. Com a estabilidade macroeconômica alcançada a partir do Plano Real e com a melhora do ambiente regulatório, a partir da Lei do Patrimônio de Afetação (lei 10.931, de 2004) a indústria da construção encontrou as condições necessárias para avançar, associado à percepção do governo federal da importância estratégica para estimular os investimentos, a geração de empregos e renda. São exemplos de ações concretas o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) marcos do retorno do setor público como planejador e indutor dos investimentos. Entretanto, este ciclo de crescimento mais pujante começa a demonstrar fadiga e exige novas ações, com foco na inovação e industrialização de produtos e processos que permitam elevar a produtividade, reduzir custos e tornar os negócios (a decisão de investir) mais rápida e segura (redução de burocracias e procedimentos do “antigo modelo”) para todos os agentes econômicos envolvidos. Assim, a construção ainda deverá ser um dos vetores do crescimento brasileiro, pois a sua importância não foi reduzida, ao contrário, a necessidade de elevar os investimentos e manter os avanços sociais leva a concluir que o setor permanecerá se desenvolvendo, entretanto em ritmo mais lento até que se instalem as bases do novo modelo, que deverá elevar novamente a atividade e firmar um patamar mais elevado para o setor.

O período 2007-2011 tende a entrar para a história como a fase de ouro da construção civil brasileira?
Certamente foi um período importante, pois recolocou a construção como protagonista do desenvolvimento econômico. O Brasil voltou a investir e a planejar, sem perder o foco na inclusão social produtiva, que caracteriza a formalização.

Ampla oferta de financiamento para habitação, liberação de recursos pelo BNDES e desoneração do IPI de insumos da construção são apontados como as principais alavancas para os bons resultados mostrados na PAIC. Esses pilares devem continuar sustentáveis?
Sim, o financiamento habitacional permanece registrando sucessivos recordes, os saldos de poupança crescentes e a aprovação de projetos de construção continuam ocorrendo. Em se tratando das desonerações, são importantes, pois representam recursos que permanecem no setor produtivo e contribuem para manter a atividade econômica. Entretanto, é importante destacar que cada vez mais estas desonerações precisam ser realizadas com cautela, pois o espaço fiscal do governo se mostra cada vez mais limitado. Desta forma, as desonerações sobre o produto final tendem a ser mais efetivas, pois são integralmente repassadas ao consumidor. Um exemplo claro foi a recente redução do RET (Regime Especial de Tributação) de 6% para 4%, na faixa 2 do MCMV, e de 4% para 1% na primeira faixa do programa.

A PAIC revelou também que aumentou a concentração de obras em torno de um grupo de construtoras, tanto as que atuam no setor habitacional quanto as que atuam em infraestrutura. Isso é bom ou ruim para o setor?
É necessário esclarecer bem essa questão, para não gerar dúvidas. Em nenhum momento a PAIC demonstra que a construção é um setor concentrado. Ao contrário. Os índices de concentração da construção são bem menores do que outros segmentos da indústria. O que a PAIC revelou é que, em virtude de crescimento de obras de infraestrutura, o índice de concentração dessas obras passou de 0,26 em 2007 para 0,29 em 2011. O de obras habitacionais, por sua vez, passou de 0,09 para 0,12. Esses aumentos aconteceram em virtude dos programas de incentivos a esses segmentos (PAC e PMCMV). Mas, mesmo assim, são índices baixos, demonstrando que a construção não é um setor que possui concentração industrial. Ela está muito distante disso. Deve-se lembrar que o grau máximo de concentração é 1. Particularmente, em relação à divisão de obras de infraestrutura, que apresentou a maior concentração em todos os índices, isso acontece porque as empresas deste setor geralmente fazem obras de grande porte, necessitando de maiores volumes de investimentos em máquinas e equipamentos, sendo assim, mais intensivas em capital. Outro importante dado que mostra a desconcentração do setor é a indicação feita pela Caixa Econômica Federal de que 13% das obras do Minha Casa, Minha Vida foram feitas pelas grandes construtoras. A maioria dos empreendimentos (87%) foi tocada por pequenas e médias empresas.

Por outro lado, a PAIC revelou que entre 2007 e 2011 o número de empresas ativas do setor quase duplicou. Isso pode mostrar que também aumentou a terceirização no setor?
O que aconteceu neste período, na verdade, foi um significativo aumento da formalização de empresas, empregados e empreendimentos que se tornaram visíveis não apenas pela melhoria das condições de operação, mas também para ter acesso às novas oportunidades que surgiram neste período (crédito, políticas de inovação, compras públicas entre outros).

A pesquisa detectou também um crescimento relevante na construção de edifícios. A verticalização das edificações será uma tendência a partir de agora?
Sem dúvida. A escassez de terras urbanizadas nas regiões metropolitanas tem, naturalmente, impulsionado um movimento de verticalização das cidades. Esse fenômeno não é novo, mas tem sido intensificado nas últimas décadas. Essa é uma saída para oferecer serviços públicos, emprego, moradia a populações cada vez maiores, otimizando a infraestrutura já disponível nas nossas cidades.

Em termos de regiões do país, o sudeste ainda lidera o volume de obras, mas o nordeste teve crescimento acentuado. Essa tendência pode se perenizar?
Muitos economistas avaliam que o Nordeste deve continuar crescendo em um ritmo superior ao do PIB brasileiro. As expectativas de investimento na região comprovam isso. Além disso, as carências de infraestrutura e o déficit habitacional, que ainda é expressivo na região, fazem crer que o setor da construção deve continuar experimentando um ritmo de crescimento significativo nos próximos anos para fazer frente a esses gargalos.

A alta do dólar, que o Brasil experimenta, pode influenciar de que forma o desempenho da construção civil?
O aumento do dólar deve ser avaliado no contexto da conjuntura econômica como um todo, pois essa conjuntura influencia diretamente o desempenho dos setores produtivos. Neste contexto, uma das preocupações com essa alta passa pelo impacto que ela pode proporcionar na taxa de inflação. É justamente a inflação um dos fatores que têm gerado maior preocupação no cenário nacional. A estabilidade dos preços é essencial para o cenário macroeconômico nacional, que tem demonstrado dificuldades de acelerar o seu ritmo de crescimento. É bom lembrar que a estabilidade monetária é indispensável para a confiança empresarial que, por sua vez, reflete positivamente nos investimentos que necessariamente passam pelo setor de construção.

Qual análise geral que a CBIC faz dos dados trazidos pela PAIC?
A Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) revela, de forma mais desagregada, como foi o desempenho do setor da construção civil. A última pesquisa realizada, que traz os resultados do ano 2011, demonstra que, naquele ano, o setor sofreu influência positiva de fatores como a maior oferta de crédito imobiliário, o aumento dos desembolsos para obras de infraestrutura do BNDES, do aumento do emprego e da renda, além, é claro, do incremento do consumo das famílias. Também influenciou o desempenho setorial a desoneração do IPI de vários insumos da construção, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa Minha Casa, Minha Vida. É bom lembrar que naquele ano o setor registrou expansão de 3,6% superior ao desempenho do país, que foi 2,7%. A PAIC, sem dúvidas, é mais um instrumento que evidencia a importância da construção para o desenvolvimento da economia nacional.

Confira a íntegra da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC)

Entrevistado
José Carlos Rodrigues Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Currículo
– José Carlos Rodrigues Martins é graduado em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1977
– Foi presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR) no período de 1998 a 2001 e vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (SindusCon-PR) de 2001 a 2004
– Entre 2010 e 2012 exerceu a presidência do Comitê Nacional de Desenvolvimento Tecnológico da Habitação (CTECH) do Ministério das Cidades
– É vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção desde 2001
Contatos: www.cbic.org.br / comunica@cbic.org.br
Créditos foto: Erivelton Viana / CBIC

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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