“Obras a jato” viram tendência na engenharia mundial

7 de agosto de 2013

“Obras a jato” viram tendência na engenharia mundial

“Obras a jato” viram tendência na engenharia mundial 800 597 Cimento Itambé

Depois da China, EUA investem maciçamente em construções modulares. No Brasil, falta de mão de obra especializada é um dos empecilhos à tecnologia

Por: Altair Santos

Vídeos de prédios chineses construídos em quinze, dez e até em seis dias estão entre os mais visitados no Youtube (acesse imagens ao final da reportagem). Tratam-se de projetos que exploram ao máximo o conceito de construção modular e que só se viabilizam por causa do emprego de mão de obra altamente especializada e de processos industrializados. Pela velocidade com que conseguem ser concluídos, esses modelos passaram a despertar o interesse da engenharia mundial, e cuja tecnologia começa a ser copiada em países como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos.

Engenheiros Theodoro Diniz, Raphael Rocha e Bruno Pylro (da esq. para a dir.): na CME, eles buscam consolidar tecnologia no Brasil.

Um exemplo é o condomínio que será inaugurado em setembro nos EUA. Projetado pelo escritório de arquitetura Gluck+, o prédio residencial está cumprindo à risca um cronograma de dez meses. Com sete andares e 28 apartamentos, o complexo erguido em Manhattan teve as fundações e o primeiro pavimento executados convencionalmente, em concreto moldado in loco. Os demais andares são compostos por 56 blocos pré-fabricados construídos na Pensilvânia, cada um com 45 metros de comprimento e configurados para se encaixar um a um, formando o edifício. Esta etapa levou 90 dias para ser concluída.

Ainda que não sejam erguidas na mesma velocidade dos edifícios chineses, essas “obras a jato” projetadas no ocidente se valem da construção modular e, consequentemente, das estruturas mistas de aço e concreto para ganhar tempo, reduzir o emprego de mão de obra e economizar recursos. Apesar das vantagens da tecnologia, no Brasil ela ainda é minimamente consumida. Poucas empresas nacionais detêm esse conhecimento. Uma delas é a CME – Construções Modulares Especiais Ltda. -, onde atuam o arquiteto Bruno Pylro e os engenheiros Raphael Rocha e Theodoro Diniz. Na entrevista a seguir, eles explicam como funciona o sistema construtivo que dominam. Confira:

Recentemente veio a notícia de que em Nova York um edifício de apartamentos está em construção baseado em módulos. Isso pode significar uma tendência da arquitetura daqui para frente?
Bruno Pylro – A modulação na construção civil já é desenvolvida no mundo desde o fim da segunda guerra. A ideia surgiu da necessidade de dar velocidade à reconstrução da Europa, então destruída pelo conflito. Atualmente, com a busca de soluções ágeis para novas construções, esse sistema está ganhando novo impulso. Vários países já o utilizam em larga escala. No Brasil, infelizmente, ainda encontra muita desconfiança. Um dos motivos é que poucas faculdades do país abrangem essa disciplina. Outra crença é a de que o projeto modular limita soluções, o que definitivamente é uma inverdade. Mas, pouco a pouco, as soluções de modularidade ganharão as pranchetas e os canteiros. Daí, os desperdícios da construção artesanal serão um passado difícil de se explicar.
As estruturas mistas de concreto e aço predominam na construção modular ou há outras opções?

Raphael Rocha – Embora haja alternativas, o concreto e o aço predominam o mercado modular brasileiro. Porém, infelizmente, ainda se vê como sinônimo de durabilidade e rigidez soluções artesanais que se tornam cada vez mais incompatíveis com as demandas de mercado. Alternativas novas, e tão ou mais eficientes, como os painéis Wall, Steel frame, placas cimenticias, perfis em PVC, painéis sanduíche compostos de EPS e PU e a própria estrutura metálica, permitem que sejam utilizadas das mais diferentes formas possíveis, possibilitando arranjos arquitetônicos ousados e modernos.

Hoje a construção civil brasileira já está sob regime da norma de desempenho. A construção modular atende a essa norma?
Raphael Rocha – A construção modular não difere dos outros modais de construção quando o assunto é norma de desempenho, pois a mesma não trata de sistemas construtivos ou materiais constituintes do edifício, e sim sobre o seu desempenho e comportamento global. A norma estabelece requisitos e critérios de desempenho, considerando as exigências do usuário, como segurança, habitabilidade, conforto térmico e acústico, manutenção, acessibilidade entre outros. Neste sentido, a construção modular atende plenamente as exigências normativas e dos usuários.

Prédio residencial em Nova York: construção modular permitiu erguer seis pavimentos em 90 dias.

Como as tecnologias modulares lidam com a demanda da sustentabilidade?
Bruno Pylro – O sistema construtivo modular busca ao máximo evitar o desperdício. Os projetos devem ser customizados, utilizando a modularidade de todas as peças previstas, evitando-se cortes comuns na construção convencional. O desperdício no canteiro de montagem de painéis não chega a 3% de inservíveis.

A construção modular demanda que tipo de mão de obra e em qual quantidade?
Raphael Rocha – Um dos maiores entraves da difusão do sistema construtivo modular atualmente no Brasil é a qualificação da mão de obra. Não adianta colocar um anúncio no jornal para se contratar um montador de painel. É uma profissão que simplesmente não existe. Atualmente busca-se a fidelização de mão de obra, através da qualificação e da excelência no processo construtivo. Há entendimento de que havendo mais mão de obra capacitada haverá também mais demanda para o mercado da construção modular.

Como a construção modular age em relação às peças úmidas (banheiro e cozinha) além de instalações hidráulicas de obra?
Raphael Rocha – Os ambientes molhados exigem atenção em qualquer tipo de construção e no sistema construtivo modular se diferem dos demais apenas pelo fato de possuírem shafts de acesso as instalações. Essas aberturas estrategicamente posicionadas permitem acesso facilitado para manutenção, sem que haja necessidade de “rasgar” a parede, promovendo o quebra-quebra. Basta utilizar a visita existente.

A cadeia produtiva da construção civil no Brasil está preparada para abastecer a construção modular?
Raphael Rocha – A cadeia produtiva brasileira, embora crescente, apresenta resultados bem abaixo das expectativas projetadas pelo setor. O potencial de crescimento esbarra principalmente pela falta de mão de obra qualificável somadas à cultura brasileira já enraizada no modo artesanal de construção, onde o saber prático, passado de pai para filho, e o saber técnico são demasiadamente convencionais. O fortalecimento do setor modular depende da melhoria da capacidade técnica, que tange a elaboração de projetos, e na sua maior valorização, tanto da parte do setor público como do privado, pois é por meio deles que se insere efetivamente a aplicação de produtos e processos na construção.

Quais os ganhos que a construção modular oferece em relação à construção convencional?
Theodoro Diniz – A industrialização dos processos construtivos permite inúmeras vantagens, das quais podemos destacar:

Tempo

A construção modular permite reduzir o prazo de entrega da edificação em até 1/3 quando comparado à construção convencional. Tal fato se fundamenta pela concomitância de atividades que são realizadas durante todo processo de implantação do empreendimento. Enquanto atividades civis de fundação e infraestrutura sanitária são executadas, os componentes estruturais e de vedação estão sendo fabricados paralelamente. No término da etapa civil, inicia-se imediatamente a montagem dos componentes da edificação. Os painéis são pré-dimensionados ainda na linha de produção visando a mínima intervenção possível in loco.

Qualidade

Os materiais utilizados na construção modular são pré-fabricados e industrializados. São produzidos através de uma linha de produção industrial, fabricados por equipamentos de última geração e submetidos a um rigoroso processo de qualidade antes de serem transportados e fornecidos para a obra.

Organização

Os insumos são fornecidos, organizados e protegidos, permitindo uma melhor distribuição no canteiro por tipo de materiais e por frente de serviço. O ganho de espaço é muito grande, pois assim que um insumo é usado, outro poderá tomar seu lugar no pátio, e assim sucessivamente. Isso garante menor área de canteiro e uma boa dinâmica para a obra.

Planejamento

Permite maior controle das etapas do projeto e aumenta a possibilidade de detalhar melhor os serviços. Isso melhora os índices de produtividade, facilitando o acompanhamento de cada etapa do empreendimento.

Velocidade

Como o conceito é a modularidade, este tipo de construção permite replicar os mesmos métodos utilizados de uma obra para a outra. Isso possibilita um processo de melhoramento contínuo. Construções com este conceito já saem do projeto com um nível muito alto de detalhamento, o que aumenta consideravelmente sua velocidade de execução. Elas também são mais adaptáveis a ferramentas 3D, que permitem antecipar possíveis gargalos construtivos, minimizando o inesperado e garantindo uma fluidez na execução do empreendimento.

Limpeza

Este é um dos principais conceitos. Estamos acostumados com muita poeira e resíduos espalhados por todos os lados. Na construção modular, encontramos o que chamamos de “chão de fábrica”: um espaço limpo, organizado e muito seguro.

Segurança

O método construtivo permite um ganho enorme no que tange à segurança do trabalho. Com um ambiente organizado e limpo, podemos realizar as tarefas minimizando cada vez mais o risco de acidentes. Neste processo, o mapeamento de risco é quase total.

Confira vídeos sobre as construções a jato na China:

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Entrevistados
Bruno Satler Pylro, Raphael Rocha Baptista de Oliveira e Theodoro Diniz, da CME – Construções Modulares Especiais Ltda
Currículos
– Bruno Satler Pylro é graduado em arquitetura pela UFMG (2008) e pós-graduado em engenharia de segurança do trabalho, pela UNA (2012)
– Raphael Rocha Baptista de Oliveira é graduado em engenharia de produção civil pela FEA-FUMEC e pós-graduado em gestão de negócios pela Fundação Dom Cabral
– Theodoro Diniz é graduado em engenheiro de produção civil FUMEC
Contato: www.cme.com.br
Créditos foto: Divulgação /CME / Gluck+

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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