ABNT NBR 6123 foi publicada em 1988. De lá para cá, Brasil passou a conviver com fenômenos meteorológicos que exigem sistemas mais eficientes
Por: Altair Santos
A ABNT NBR 6123 – Forças devidas ao vento em edificações – é reconhecida por projetistas e engenheiros como uma norma bem concebida. Tanto que foi publicada em 1988 e, desde então, passou apenas por um processo de revisão de texto. Seus conceitos se mantêm intactos e servindo de referência para projetos e ensaios em túneis de vento. “Apesar de ela ter uma edição já considerada antiga, é uma das mais completas do mundo. Mas, obviamente, precisa de atualização, agregando os conhecimentos que foram adquiridos nestes quase 30 anos”, cita o professor do departamento de engenharia civil e coordenador do Laboratório de Aerodinâmica das Construções (LAC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Acir Mércio Loredo Souza.
O especialista palestrou na edição 2016 do Concrete Show, realizado recentemente na cidade de São Paulo. Nomeado coordenador da comissão encarregada de revisar a ABNT NBR 6123, o professor da UFRGS cita que um dos pontos cruciais a ser analisado está relacionado às referências de velocidade dos ventos nas regiões brasileiras. “Existe um mapa que fornece as velocidades referenciais, mas ele é dos anos 1970. Atualmente, há mais informações para atualizar esse mapa, incluindo boas evidências técnicas”, diz Acir Mércio Loredo Souza. Mais especificamente, o que precisa ser atualizado são as chamadas isopletas, que definem as linhas de velocidade dos ventos, e que, no mapa, são medidas em metros por segundo (m/s). Suas linhas lembram as de um mapa topográfico.
Instalação será dia 6 de outubro
A atualização desses dados fornece subsídios mais precisos para calculistas e para os laboratórios que promovem ensaios em túneis de vento. Por isso, os engenheiros-projetistas têm tanto interesse na revisão da ABNT NBR 6123, cuja comissão será instalada oficialmente dia 6 de outubro e estará sob a supervisão do Comitê Brasileiro da Construção Civil, o CB-2. Já houve reuniões preliminares e Acir Mércio Loredo Souza afirma que o objetivo é fazer um trabalho criterioso para demonstrar que a velocidade dos ventos deve ser respeitada para se projetar edificações com segurança. O professor lembra ainda que, além da velocidade, a aerodinâmica dos prédios e as cargas de vento que eles irão receber são fundamentais para o sucesso do projeto.
Em sua palestra no Concrete Show, o especialista lembrou que as mudanças climáticas tornam o Brasil cada vez mais suscetível a ciclones extratropicais e a tormentas TS (Thunderstorms), que podem evoluir para tornados. Ele citou como exemplo o ciclone Catarina, que em 2004 atingiu os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e o fenômeno que atingiu Porto Alegre e a região metropolitana da capital gaúcha, em janeiro de 2016. Também relembrou o prédio de 37 pavimentos que estava em construção em Belém-PA, em 2011, e que sofreu colapso de suas estruturas por que não foi levado em consideração o carregamento do vento em seu projeto. “Esses novos parâmetros passam a exigir sistemas mais eficientes, não apenas para estruturas, mas para fachadas e esquadrias. O importante é que a maioria dos acidentes causados pelo vento pode ser prevenida já na fase de projeto”, garante.
Entrevistado
Acir Mércio Loredo Souza, mestre e doutor em engenharia, professor do departamento de engenharia civil e coordenador do LAC (Laboratório de Aerodinâmica das Construções da Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Contato
acir@ufrgs.br
Crédito Foto: Divulgação/Cia. Cimento Itambé