Inovação não é modismo, é prática

3 de junho de 2009

Inovação não é modismo, é prática

Inovação não é modismo, é prática 150 150 Cimento Itambé

Pesquisador aponta caminho para que empresas adotem conceito não apenas no discurso, mas no dia a dia

Inovação só traz luz se for inserida na cultura da empresa

Inovação só traz luz se for inserida na cultura da empresa

O que se debate hoje é a capacidade das corporações de promoverem empreendimentos inovadores. Mas o que vem a ser Inovação, de fato? Muitas empresas aderem ao conceito sem saber ao certo o que ele significa. Por outro lado, há companhias no caminho certo, como mostram números da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), com sede em Brasília. O grupo já agrega 6.300 empresas com perfil inovador.

Entre o conceito e a prática, porém, há um longo caminho a ser percorrido. É o que explica o gerente de projetos de pesquisa no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (LACTEC), professor Ricardo José Ferracin. Para ele, existe o modismo da Inovação e a questão cultural da Inovação. “A empresa precisa ter pessoas com capacidade inovadora para praticar a Inovação”, diz o pesquisador. Confira a entrevista:

O que vem a ser inovação, de fato?
A definição clássica é você inserir com êxito um produto no mercado. A questão da Inovação está diretamente relacionada ao consumo de um produto. Esta é a grande questão: impactar o mercado consumidor.

Então Inovação está diretamente relacionada ao sucesso?
Exatamente. A questão do sucesso é fundamental. Mas não é só isso. O produto precisa fazer sucesso e ter capacidade de sobrevivência. E é aí que a Inovação Tecnológica precisa atuar. A organização precisa estar inovando sempre, mesmo em cima de um produto já lançado, a fim de ele continuar existindo no mercado. A essência da inovação tecnológica é isso: se manter no mercado.

Hoje virou modismo falar em inovação. Mas quando uma empresa pode dizer que está, de fato, adotando medidas inovadoras?
Eu concordo com a tese do professor José Cláudio Sirineu Terra, da Unicamp (Universidade de Campinas). Ele diz que a empresa precisa criar condições de propiciar o ambiente inovador. Aí é que o conceito começa a se separar do modismo. Então, um processo inovador precisa de tempo. Veja o caso dos países desenvolvidos. Eles já fazem isso há muitos anos. Lá a Inovação já é uma questão cultural.

Quais as medidas básicas para se começar a entrar para o universo da Inovação?
O primeiro passo é a empresa ter pessoas capacitadas e com visão empreendedora. Aqui cabe a redundância de que a empresa precisa ter pessoas com capacidade inovadora para praticar a Inovação. É preciso criar um ambiente de pró-atividade e perceber que a inovação tecnológica está intrinsecamente ligada à questão da sobrevivência no mercado. Se a corporação não inova, não coloca produtos novos e bons no mercado, seu concorrente vai conseguir pôr e ele vai perder mercado.

Como uma empresa pode atrair seu quadro de funcionário para um projeto consistente de Inovação?
A regra comum é que a empresa precisa conhecer muito bem o seu negócio e ter uma política de recursos humanos sólida. Ela precisa responder as três perguntas básicas: o que quer produzir, como vai produzir e para onde quer ir? A partir daí, ela precisa ousar na contratação de bons profissionais. Mas não é só isso. Tem ainda a questão do ambiente. O ambiente saudável, onde as pessoas têm condições de expor suas idéias e canalizá-las é um fator extremamente importante. Então, ela precisa ser uma encubadora de ideias. Mas na prática, isso é muito complicado. Se a empresa entra no foco só de produção, ela não para para refletir o que está sendo feito. Na verdade, a questão da Inovação está muito associada à questão estratégica da organização.

A adoção do conceito Inovação dentro de uma corporação funciona, mais ou menos, como a adoção de normas ISO ou são coisas diferentes?
Elas são coisas opostas. Na verdade, a Inovação muitas vezes vem para quebrar paradigmas. É um processo de ruptura muitas vezes. As normas servem para equilibrar a organização, mas muitas vezes engessam o processo e não propiciam caminhos para a Inovação. Então, inovar é um processo de gestão muito complexo. Quem quer adotá-lo precisa fazê-lo com cabeça e prudência.

Há necessidade de as empresas terem gestores de Inovação se quiserem aderir ao conceito?
Eu acho que não. O que a empresa tem de procurar é o método. Ela precisa criar o ambiente cultural e descobrir o seu próprio processo de inovação. Imagine se ela contrata um gestor para se conhecer. Isso a levaria a adotar métodos de outras companhias e não é isso que a Inovação prega.

Como se formam hoje os profissionais de Inovação no Brasil?
Existem alguns cursos universitários que já têm a disciplina de Inovação Tecnológica. Os cursos de engenharia, em especial, passaram a adotar essa cadeira. Mas não há ainda, no Brasil, um curso específico de Inovação Tecnológica.

O Brasil vive hoje um ambiente favorável para a gestão de Inovação?
Não sei nem se é favorável ou não, mas ou o Brasil faz isso ou ele sucumbe. Para o país continuar se inserindo no mercado globalizado ele precisa se renovar.

No que a crise mundial pode ser boa para amplificar a idéia de Inovação?
Dizem que a necessidade é a mãe de todas as invenções. Num momento de crise você tem que otimizar processos, produtos, então é onde as ideias têm que aflorar mais. Isso é uma coisa normal do ser humano. Quando ele sai da zona de conforto tem de produzir mais.

Onde a Inovação encontra um ambiente mais propício: na iniciativa privada ou nos governos?
Se você pegar os países desenvolvidos, verá que a inovação tecnológica está na indústria. No Brasil, a pesquisa está quase que limitada às universidades, que em sua maioria são federais ou estaduais. Então o país tem um modelo mais estatal e que transfere pouca Inovação para a indústria. Tanto que todos os especialistas da área comentam que o Brasil ainda tem pouca inovação, quer dizer, tem pouca inovação tecnológica na indústria. Compare o Brasil e a Coreia do Sul, por exemplo. Nos anos 70, os dois países tinham praticamente a mesma estrutura. Hoje, a Coreia deu um salto em número de patentes que eles produzem anualmente. Lá já existe toda uma filosofia de inovação tecnológica nas indústrias.

Entrevistado:
Ricardo José Ferracin: rferracin@lactec.org.br

Texto complementar

O que é o LACTEC?

O LACTEC – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – é um centro de pesquisa tecnológica, sem fins lucrativos, auto-sustentável, que por meio de soluções tecnológicas contribui e promove o desenvolvimento econômico, científico e social, preservando e conservando o meio ambiente.

Como entidade auto-sustentável, o LACTEC obtém recursos pela venda de projetos de pesquisa e desenvolvimento e de outros serviços tecnológicos. É responsável por todas as suas despesas com recursos humanos, instalações e demais custos necessários para sua operação, não estando vinculado, financeiramente, a nenhuma empresa privada, nem órgão ou empresa pública.

Foi certificado em 2000, pelo Ministério da Justiça, através da Lei 9.790, como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), que lhe permite, dentre outros desenvolvimentos, o de parceria com o setor público através da dispensa do processo licitatório.

Sediado em Curitiba, o instituto tem se destacado no desenvolvimento, aperfeiçoamento e aplicação de soluções tecnológicas, contribuindo para o progresso científico, econômico e social do país.

Em mais de 50 anos de vida dedicados à ciência e tecnologia, o LACTEC formou valiosas equipes de pesquisadores e especialistas, que são responsáveis pelo funcionamento de modernas unidades laboratoriais.

Como centro de pesquisa independente e auto-sustentável, o LACTEC representa um núcleo de divulgação científica e de transferência de tecnologia, contando com a criatividade de mais de 500 colaboradores.

O resultado de todo este complexo conjunto de idéias, máquinas e homens pode ser observado nas recentes conquistas, entre prêmios e patentes, alcançadas nos últimos anos.

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação

3 de junho de 2009

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