Setores de mineração, papel e celulose, sucroenergético, siderurgia e petróleo e gás estão entre os mais competitivos do Brasil
Por: Altair Santos
Pesquisa coordenada pela Escola de Administração Pública e de Empresas da FGV (EBAPE) mostra que a indústria de base do país é a que mais investe em inovação. Neste grupo, destacam-se cinco segmentos: mineração, papel e celulose, sucroenergético (açúcar e etanol), siderurgia e petróleo e gás.
À frente do estudo, que durou dois anos para ser concluído (março de 2015 a março de 2017), o professor Paulo N. Figueiredo ressalta a importância de diagnosticar avanços industriais, a fim de mapear os setores em que o Brasil é mais competitivo. “Países que obtiveram aumento de produtividade conseguiram esse avanço implantando inovações tecnológicas em suas indústrias e empresas. É lá que se transforma conhecimento em riqueza, e é isso que a pesquisa buscou identificar, ou seja, onde está ocorrendo essa transformação”, diz.
A pesquisa envolveu interações diretas com mais de 100 stakeholders da indústria. Entre eles, gestores, engenheiros, pesquisadores, organismos governamentais, universidades e analistas. A interação conectou o estudo da EBAPE com as reais dificuldades da indústria brasileira. As perguntas feitas aos entrevistados relacionaram-se com demandas, questões prementes e problemas para aumentar a produtividade.
A baixa capacidade de competir foi apontada como um dos principais obstáculos. O problema, como explica Paulo N. Figueiredo, está no modelo como foi construída a economia nacional. “O Brasil é tipicamente uma economia de renda média, e que está estacionado nesta situação há quase 50 anos. Preso nesta armadilha, o país tem custo muito alto de produção, o que o impede de competir com economias avançadas. Para mudar esse cenário, é preciso transformar mais conhecimento em riqueza dentro dos ambientes produtivos, que são as indústrias e as empresas”, destaca.
Imitação criativa e P&D
O levantamento elencou três pontos principais: mecanismos de aprendizagem tecnológica, capacidades tecnológicas e competitividade. Entre estes itens, a capacidade tecnológica das empresas e indústrias avaliadas foi medida através do capital humano, do capital físico (máquinas e instrumentos para viabilizar os produtos) e capital organizacional. “Estudamos os impactos deste acúmulo tecnológico, e de que forma as empresas assimilam conhecimento para transformá-lo em capacidade tecnológica, atividades inovadoras e aumento de produtividade”, revela o professor da EBAPE.
A inovação industrial foi medida na pesquisa através de duas formas: a imitação criativa, que é quando produtos, serviços e conceitos já existentes são melhorados e adaptados para gerar mais produtividade na empresa, e a capacidade de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Isso mostrou que há uma enorme variabilidade entre indústrias do mesmo setor. “Algumas conseguem acumular capacidade tecnológica, e gerar impacto na produtividade; outras, não”, avalia Paulo N. Figueiredo.
Essa grande diferença – revela o estudo – se deve à forma como as empresas se relacionam com seus fornecedores, as universidades e os centros de pesquisa. Umas se fecham e outras estão constantemente conectadas com as inovações, retrata a pesquisa. “Neste ponto, o estudo desmistifica a ideia de que indústrias que trabalham com recursos naturais oferecem baixa oportunidade para inovação e desenvolvimento tecnológico. Pelo contrário, os setores de papel e celulose, sucroenergética (açúcar e etanol), mineração, siderurgia, e petróleo e gás oferecem enormes oportunidades para a inovação”, completa o coordenador da pesquisa.
Veja vídeo com resumo da pesquisa:
Clique aqui e confira a parte da pesquisa que analisa a área de mineração.
Entrevistado
Paulo N. Figueiredo, mestre em administração e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE) da Fundação Getulio Vargas (FGV)
Contato
paulo.figueiredo@fgv.br
Crédito Foto: Divulgação