Por que as incorporadoras saíram da Bolsa de Valores?

30 de agosto de 2017

Por que as incorporadoras saíram da Bolsa de Valores?

Por que as incorporadoras saíram da Bolsa de Valores? 150 150 Cimento Itambé

Entenda o que deu errado com as empresas que se aventuraram a colocar ações no mercado, mas não conseguiram dar retorno aos investidores

Por: Altair Santos

Entre 2005 e 2010, 27 empresas ligadas ao mercado imobiliário passaram a ofertar ações na Bolsa de Valores – as chamadas IPOs (Initial Public Offering [Oferta Pública Inicial]). Essa abertura aos investidores permitiu às incorporadoras captarem R$ 12 bilhões. O capital era suficiente para construir e oferecer financiamento a todas as faixas de renda que buscassem adquirir imóveis no Brasil. O cenário era tão favorável que algumas corporações do ramo triplicaram o tamanho. Parecia o cenário ideal, mas algo deu errado. Por quê?

Segundo o engenheiro civil Leonardo Nogueira Diniz, que entre 2011 e 2015 atuou como CEO da Rossi Residencial, as empresas do setor imobiliário que entraram na Bolsa de Valores tomaram decisões estratégicas equivocadas. Uma delas foi não procurar saber o perfil do investidor. “Os investidores queriam retorno rápido, em um setor em que o ciclo de maturação é de cinco anos. Quando as incorporadoras se depararam com essa incoerência, muitos já haviam fugido do investimento em ações no mercado imobiliário”, relata.

O especialista, que palestrou na edição 2017 do Concrete Show, realizado de 23 a 25 de agosto na cidade de São Paulo-SP, lembra ainda que outros erros impediram as empresas de dar retorno aos investidores. “Entre as medidas equivocadas, estão compras erradas de terrenos, expansão para mercados não tão maduros e a falta de cláusulas de barreira no setor. Como o mercado estava muito aquecido, qualquer um que tinha capital se tornou incorporador e construtor. Isso contaminou o mercado”, cita.

Com o fim das IPOs do mercado imobiliário no Brasil, as empresas passaram a trabalhar alavancadas, ou seja, sem capital começaram a buscar quem financiasse suas obras. “Boa parte deste dinheiro hoje, cerca de 80%, vem de bancos, poupança dos clientes e permuta por terrenos. O setor passou a se financiar muito com terceiros e a investir no imóvel na planta. O problema é que veio a crise e a demanda caiu. Daí, a regra dos imóveis na planta gerou uma explosão de distratos. Esse é o cenário atual do mercado imobiliário no Brasil”, descreve Leonardo Diniz.

Fim da aventura

Na análise do especialista, o momento do mercado imobiliário é para quem é do ramo. Por quatro motivos: os bancos restringiram os financiamentos, o desemprego e o risco de perda de emprego continuam altos, ainda existe uma alta taxa de imóveis estocados e os investidores fugiram do setor. O aspecto positivo, de acordo com Leonardo Diniz, é que as empresas amadureceram e passaram a entender melhor o consumidor. “Hoje, elas sabem que cada cidade é um mercado e que cada bairro é um mercado. Por isso, é preciso pensar em produtos diferenciados para o perfil de quem vai comprar imóvel”, avalia.

Outro ponto bem avaliado por Leonardo Diniz é que, com a baixa dos juros, o Brasil tende a ter dois mercados imobiliários futuramente. Um será o Minha Casa Minha Vida, para combater o déficit habitacional do país, e tendo a Caixa Econômica Federal como financiador e órgão regulador; o outro será gerido pelo mercado e pelos bancos privados, e que, dependendo da resposta, pode até estimular a volta das incorporadoras à Bolsa de Valores. Desta vez, sob uma nova realidade e com mais experiência.

Entrevistado
Engenheiro civil Leonardo Nogueira Diniz, sócio-fundador da Oakwood Real Estate, empresa de consultoria imobiliária (com base em palestra concedida no Concrete Show 2017)

Contatos
ldiniz@oakwood.com.br
www.oakwood.com.br

Crédito Fotos: Divulgação e Cia. de Cimento Itambé

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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