Implosão de obras exige tecnologia de ponta

13 de fevereiro de 2012

Implosão de obras exige tecnologia de ponta

Implosão de obras exige tecnologia de ponta 150 150 Cimento Itambé

Softwares, tipos variados de explosivos e itens de segurança estão entre as inovações que tornam o Brasil um dos países-referência neste setor

Por: Altair Santos

A propagação de obras pelo Brasil afora tem feito com que velhas estruturas deem lugar a novos empreendimentos. Com isso, aumentou a demanda por implosões. Ao contrário do que se possa imaginar, o procedimento requer tecnologia avançada. No país há poucas empresas especializadas. Entre elas a Fábio Bruno Construções, que recentemente ganhou o World Demolition Awards 2011 – espécie de Oscar da demolição.

Fábio Bruno: em 2011, implosão da arquibancada do Castelão rendeu prêmio internacional.

Engenheiro de minas, Fábio Bruno revela que as implosões necessitam de projetos tão intrínsecos quanto os da construção de uma obra. Atualmente, softwares já auxiliam nos cálculos para que a estrutura seja primeiro enfraquecida e depois implodida. Além disso,  o Brasil é considerado inovador em sistemas de segurança  para implosões. É o que pode ser conferido na entrevista a seguir :
Quando fala-se em implosão de uma obra, o leigo talvez não tenha noção da tecnologia embarcada num procedimento deste tipo.

Implodir exige um projeto tão ou mais preciso do que construir?
Com certeza. Primeiro, porque a implosão não pode dar errado. É necessário analisar todas as vigas, todos os pilares, todas as lajes, enfim, tudo o que tiver função estrutural. Além disso, antes da implosão, é preciso enfraquecer a estrutura a ponto de ela não cair antes do momento certo. Tem que ter um cálculo exato para poder enfraquecer a estrutura ao máximo para, depois, com a menor quantidade de pontos possíveis, detoná-la. É um cálculo que exige muita precisão.

Assim como há sistemas construtivos diferenciados, há modelos de implosão diferentes?
Sim. Um dos recursos é a darda hidráulica, que é feita sem explosivos. Mas mesmo com explosivos, existem vários tipos que podem ser usados. Alguns com velocidade maior ou menor. Outros com potência maior ou menor. Por exemplo, para destruir um pilar de ferro dá para usar um tipo de explosivo que chamamos de carga moldada. Já para destruir um pilar de concreto é preciso usar uma banana de dinamite normal.

Como funciona a darda hidráulica?
São feitos furos no concreto para a colocação de cunhas interligadas por mangueiras. Por meio de pressão, o concreto é expandido até romper. O problema deste procedimento é que parte do equipamento se perde na demolição, o que torna seu custo muito alto. Mas há locais, como Londres, onde é proibido usar explosivo para fazer demolições, que essa técnica é muito usada.

Quais as especialidades profissionais que são envolvidas quando se planeja uma implosão?
São duas engenharias: a de minas e a civil. O engenheiro de minas é especializado em explosivos e o engenheiro civil é especializado em estrutura. Sem as duas especialidades não há implosão.

Quais estudos são feitos para que a implosão ocorra sem erros?
Existe um software importado dos Estados Unidos que permite simular a implosão. Utilizamos o programa no estádio Castelão, em Fortaleza. Era preciso demolir parte da arquibancada, sem afetar a estrutura remanescente do estádio. A gente fez cinco ensaios diferentes de simulação para avaliar qual o tipo ideal de implosão.

Estrutura, materiais usados na obra, tipo de fundações e terrenos são relevantes para definir o modelo de implosão?
Sim. É importante saber onde o terreno está apoiado, principalmente por causa da vibração. Se o terreno está todo apoiado em rocha, a vibração será muito maior do que se estiver em solo, por exemplo. É importante avaliar onde o prédio está situado, para poder avaliar como eu faço para minimizar o efeito da vibração na implosão.

Quais materiais são usados nas implosões?
Existem carga moldada, darda hidráulica, bananas de dinamites, retardos e cordéis detonantes. O ativador da implosão também é importante. Ele pode ter uma iniciação elétrica, uma iniciação por estopim ou uma iniciação por brinel, que é um ativador espontâneo.

Em termos de tecnologia, houve evolução acentuada nos processos de implosão de uns tempos para cá?
O software que simula a implosão é um exemplo disto. Há muita troca de informação entre os especialistas em implosão do mundo todo. Anualmente nos reunimos em Amsterdam, na Holanda, para apresentar inovações.

O Brasil tem know-how próprio para implosões ou ainda importa tecnologia?
Importa e exporta também. A utilização de telas faixadeiras para proteger contra o lançamento de detritos é uma inovação nossa. Nos Estados Unidos e na Europa passaram a adotar a técnica que foi criada aqui no país.

Recentemente, o país tem realizado mais implosões. A que se deve isso?
Por esse conhecimento desenvolvido. Eu, por exemplo, já tenho mais de 30 implosões no Brasil, e todas com sucesso. Outro aspecto é que o país tem muitos prédios sem manutenção, e com mais de 50 anos. Com o crescimento da construção civil, eles estão sendo demolidos para ceder lugar a empreendimentos novos. Um exemplo foi o Hospital do Fundão, no Rio. O prédio tinha 52 anos e nunca havia recebido manutenção. Resultado: entrou em colapso e precisou ser implodido.

Em termos de logística, o que envolve uma implosão?
O primeiro item é o prazo. Tem que definir o dia da explosão, para que todos os organismos públicos – polícia, corpo de bombeiros, defesa civil e companhias de água, energia e gás – possam se programar. Também é necessário obter a licença dos explosivos e organizar a entrega de material explosivo, já que ele não pode ficar exposto na obra. Então, antes, é preciso definir quantos furos serão necessários para a implosão. Tudo isso leva cerca de 30 dias, pelo menos.

Implosão do hospital universitário do Fundão, no Rio: sem manutenção, prédio de 52 anos entrou em colapso.

Entrevistado
Fábio Bruno Pinto, diretor operacional da Fábio Bruno Construções
Currículo

– Graduado em engenharia de minas pela Universidade federal de Minas Gerais (UFMG) em 2000
– Tem MBA em Gestão Empresarial pela FGV, em 2005
– Possui especialização na utilização de explosivos pela Michigan Technological University
– Foi o único palestrante da América Latina no World Demolition Summit 2011, em Amsterdam
– É o único da América Latina a ser membro do “The Institute of Demolition Engineers” – IDE
– Sua empresa foi considerada a melhor em implosão de 2011, pelo World Demolition Awards 2011 (Explosion Demolition Awards)
– Possui mais de 30 implosões realizadas. Entre elas: estádio Castelão, antiga fábrica da Brahma no Sambódromo, antiga fábrica da CCPL, hospital universitário do Fundão (UFRJ) e presídio Frei Caneca.
Contato: fabio@fabiobruno.com  / http://www.fabiobruno.com/index.htm

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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