Iluminação natural

21 de dezembro de 2010

Iluminação natural

Iluminação natural 150 150 Cimento Itambé

Utilizar a luz solar diz respeito à eficiência energética, conforto visual e práticas sustentáveis

Por: Michel Mello

O planejamento das obras em arquitetura e engenharia contemporânea no Brasil precisa considerar os efeitos positivos da iluminação natural. Essa postura de relutância em projetistas se deve em parte à formação desses profissionais que vem de uma trajetória de ensino que pertence ao século passado. Não prevê, por exemplo, o advento das crises energéticas, a falta de investimentos nos setores de geração e distribuição de energia, a extrapolação dos recursos naturais.

Por não ter sido devidamente assimilada por teóricos, mestres e professores, ainda não foi transmitida aos canteiros de obras. Um reflexo disso é que apesar de toda a possibilidade de uso da luz solar, já que a iluminação natural é uma velha conhecida do homem – algo que remonta à pré-história do homem, ao tempo das grandes pirâmides, Stonehenge e outros megalitos – a grande preferência é por utilizar a iluminação artificial, que é mais cara e poluente.

Atualmente, no país, poucas são as edificações que se utilizam de claraboias, novas janelas, telhas transparentes e outras tecnologias que permitem a utilização da luz natural. A ruptura entre novo e velho em termos de edificações se dá de modo que nada do que diga respeito à funcionalidade do passado possa ser aproveitado pelo futuro. O conceito de modernidade exclui todo um passado baseado em estudo muito preciso sobre a trajetória dos corpos celestes.

Sigfrido F. C. G. Graziano Junior

Para o arquiteto e especialista em iluminação e conforto ambiental, Sigfrido Graziano Junior, “para a grande parte do nosso território, tropical, recomenda-se o uso da luz natural de forma indireta e difusa. A incidência direta nas superfícies envidraçadas pode trazer aumento de temperatura interna e é recomendável apenas nos locais onde há necessidade de ganho de calor, como em regiões frias do Brasil e locais de maior altitude. Existem atualmente vidros especiais com filtros que reduzem a carga térmica, mas também trazem redução da iluminação, tornando necessário o acionamento da luz artificial durante o dia. O que é um gasto de energia dispensável se a luz natural chegasse nos ambientes de forma adequada”.

Sobre iluminação natural, luz solar e novas tecnologias de conforto visual e térmico entrevistamos o arquiteto Sigfrido Graziano:

>> Como fazer para conscientizar os diferentes públicos e inserir o tópico: luz solar em obras de engenharia e arquitetura?
Sigfrido Graziano: Há diversos caminhos, que passam tanto pela conscientização como pela legislação e mercado. Pela legislação, existem normas – por ora recomendações – como o “Regulamento de Etiquetagem dos Edifícios”, do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), onde há incentivos para etiquetagem dos edifícios públicos, de prestação de serviços e que ainda é voluntário. Também há certificações como Selo da Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), ou Alta Qualidade Ambiental (AQUA), entre outros onde o uso da luz natural é um dos critérios a serem considerados. Aos poucos, os editais de projeto começam a exigir que as propostas tenham esses conceitos na sua elaboração até simulação computacional.

Os empreendedores já lançam edifícios que atendem aos requisitos de eficiência e sustentabilidade objetivando a valorização e também se observa que a venda de unidades com certificação é mais rápida, vantajosa e rentável. A conscientização começa pelo uso da luz como elemento de projeto e deve ser considerada desde a concepção da edificação e dos espaços. Isso faz parte da arquitetura bioclimática, eficiência energética e sustentabilidade. O corpo do projeto deve considerar todos esses aspectos.

>> Aspectos positivos da utilização da iluminação natural?
SG: Um argumento forte em prol da iluminação natural é a redução do consumo de energia. Ao se projetar adequadamente o uso da luz natural sem trazer aquecimento, atingimos dois aspectos principais:

– Elimina parte considerável da necessidade da iluminação artificial;
– Redução da necessidade de climatização em parte considerável do horário de uso do edifício.

Além disso, a radiação ultravioleta (UV), parte considerável da radiação solar, tem ação bactericida, que é recomendável para as áreas de longa permanência, como os dormitórios. Isso também é muito importante para hospitais e presídios, onde deve haver controle das doenças.

>> Quais são os benefícios sociais da iluminação natural dos ambientes?
SG: Há diversos benefícios quando esses conceitos são abordados no projeto como aspectos psicológicos e de qualidade visual. A característica de variação já é benéfica pelo acompanhamento do ciclo circadiano, ou seja, perceber a variação luminosa e cromática ao longo do dia.

A variação da luz também promove ajuste dos olhos, evitando a constância quando há apenas a iluminação artificial. O ambiente tem contato com o ambiente externo e isso é benéfico para sensação de pertencimento ao mundo, combatendo a claustrofobia. Também por isso diversos shoppings centers mais antigos já promoveram aberturas para o exterior.

>> De que trata a eficiência energética nos padrões de qualidade (ISO 14000)?
SG: A ISO 14000 é uma norma internacional que trata da gestão ambiental nas empresas. Muitas delas, para atender ao mercado globalizado, devem atender a essas normas internacionais e isso pode significar a sobrevivência da empresa. A certificação também traz necessidades de melhorias ano após ano. Assim, uma empresa certificada pela ISO 14000 em um ano deverá buscar melhorias em outro ano. O uso da luz natural e eficiência energética pode ser uma forma.

>> De que trata a redução de volumetria?
SG: Os planos diretores e códigos de obras definem áreas a serem ocupadas, taxas de ocupação, áreas verdes, áreas de preservação parcial. Muitas vezes há desrespeito desses conceitos, trazendo formação de verdadeiras barreiras para os ventos, para a luz natural e salubridade. É preciso observar que grandes volumes construídos podem trazer áreas urbanas mais escuras, sombreamentos excessivos, formação de áreas úmidas. O resultado pode ser áreas com micro-climas que tornam os ambientes dependentes de aparelhos de ar-condicionado constantemente ligados e luz artificial.

>> Quais os custos de manutenção com a luz artificial?
SG: A luz natural possibilita a desativação da luz artificial durante grande parte do dia, aumentando o período para troca de lâmpadas e reatores. Isso significa menos troca de equipamentos e profissionais para fazê-lo, menores interrupções, além é claro da economia na conta de energia.

A luz direta incide na prateleira de luz, ou lightshelf, que reflete para o teto e para o ambiente

>> O que são lightshelves?
SG: Há diversos elementos para bloqueio e redirecionamento da luz natural como brises, marquises, persianas, lightshelves (plural) e lightshelf (singular), que em inglês significam prateleiras ou estantes de luz. São alguns tipos de elementos de redirecionamento da luz natural. De forma indireta e difusa essa luz é benéfica, pois não traz a mesma carga térmica que ocorre quando há incidência solar nos vidros. Assim, a luz direta do sol pode incidir em elementos opacos e claros.

>> Pode quantificar a redução de custos em economia de energia elétrica em projetos?
SG:
Em estimativas realizadas, ao se adotar a luz natural para ambientes comerciais, há redução com a iluminação artificial e troca de lâmpadas em torno de R$ 15,00 por m² ao ano. Em termos de climatização é mais difícil e complexo chegar a um número, mas ao se reduzir a carga térmica, consequentemente há redução na necessidade de acionar os aparelhos de ar-condicionado.

>> Entrevistado
Sigfrido F. C. G. Graziano Junior
>> Currículo
– Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
– Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela UFSC.
– Mestre em Engenharia de Produção/Ergonomia – área de Conforto Ambiental – Iluminação, com trabalho sobre o uso da luz natural em projetos, pela UFSC.
– Atua como Arquiteto e Engenheiro de Segurança do Trabalho na Caixa Econômica Federal.
– Realiza projetos residenciais, comerciais e institucionais, presta consultoria em projetos de eficiência e sustentabilidade e já atuou como professor em cursos de graduação e pós-graduação.
>> Contato: arqsig@terra.com.br

Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content
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