Garagem vira patrimônio valioso nas grandes cidades

17 de maio de 2011

Garagem vira patrimônio valioso nas grandes cidades

Garagem vira patrimônio valioso nas grandes cidades 150 150 Cimento Itambé

Crescimento da frota nacional causa disputa intensa para estacionar veículos e desafia engenheiros e arquitetos

Por: Altair Santos

A cidade de São Paulo atingiu em abril de 2011 a marca de 7.012.795 veículos. São 5.124.568 de carros, 889.164 motos, triciclos e quadriciclos, 718.450 microonibus, caminhonetes e utilitários, 158.190 caminhões e 42.367 ônibus. Se todos resolvessem circular ao mesmo tempo pelos 17,4 mil quilômetros de ruas e avenidas da capital paulista causariam um colapso no trânsito. Enfileirados, precisariam de pelo menos 42 mil quilômetros para não se amontoarem. Diante destes números, a pergunta que se sobressai é: há lugar para guardar tantos veículos? Seguramente, não. Por isso, cada vez mais, as garagens têm se tornado um patrimônio valioso nas grandes cidades.

Eduardo Junqueira, do Instituto Ruaviva: edifícios-garagem no centro atraem congestionamento

Em municípios brasileiros com mais de 400 mil habitantes, o mercado imobiliário já registra uma inversão de valores. Os consumidores estão preferindo mais vagas de garagem que área útil. “O apartamento pode não ser tão grande, mas se oferecer duas ou três vagas a compra será concorrida. Hoje, dependendo da cidade, uma vaga extra de garagem valoriza o imóvel em até R$ 150 mil”, revela o arquiteto e consultor Eduardo Araújo Junqueira Reis, especialista em circulação urbana e diretor da ONG Ruaviva, Instituto da Mobilidade Sustentável. Por conta dessa necessidade de espaço para os veículos, construir prédios está cada vez mais desafiador para engenheiros e arquitetos.

Projetar garagens virou um jogo de xadrez para os profissionais da engenharia. Até por que, muitas vezes, o terreno onde será erguida uma edificação nova não tem tamanho suficiente para comportar um número máximo de vagas, que contemple todos os apartamentos. “Exige cálculos apurados, por que arquiteto e engenheiro têm de conseguir o número máximo de vagas sem uma atrapalhar a outra”, diz Eduardo Junqueira, citando que em alguns edifícios de São Paulo a solução arquitetônica encontrada tem sido construir garagens com o pé direito alto, o que permite a instalação de equipamentos hidráulicos (elevadores de veículos) que aproveitam o espaço aéreo do estacionamento.

Outra opção são os edifícios-garagem, que em algumas cidades fora do Brasil, como Paris, na França, estão veementemente proibidos de serem construídos. “Há décadas eles proíbem a construção de edifícios-garagem. A decisão é acertada, por eles concluírem que esse tipo de edificação atrai veículos e gera mais congestionamento”, afirma o arquiteto da ONG Ruaviva. “Essa é uma tendência que se propaga entre as prefeituras de cidades do primeiro mundo. Elas então reduzem as áreas de estacionamento nas regiões centrais, para forçar a utilização do transporte público”, completa.

Nem Curitiba escapa
Investir maciçamente em transporte público é a tese da qual compartilha Eduardo Junqueira, para que os espaços urbanos não se tornem reféns dos veículos. “Vai chegar um momento em que a própria situação física das cidades não vai permitir mais a circulação de automóveis. Aí a sociedade vai cair em si e verificar que é incompatível o número de veículos com a área urbana oferecida”, resume. Neste caso, nem Curitiba, que exportou ao mundo o modelo de transporte coletivo com base em corredores de ônibus, está conseguindo contornar o problema. A capital paranaense, segundo a mais recente estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nos dados disponibilizados pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), ocupa o topo do ranking do número de carros per capita.

Com 1,8 milhão de habitantes, Curitiba conta atualmente com uma frota de 1.210.507 automóveis – média de um carro para cada 1,53 pessoa. Entre as capitais, supera inclusive São Paulo, que tem um automóvel para cada 1,57 pessoa, e fica distante também das demais capitais da região Sul. Florianópolis, com 408.161 habitantes, tem 248.673 carros – um para cada 1,64 pessoa -, enquanto Porto Alegre tem um automóvel para cada 2,10 pessoas. Não é à toa que, em Curitiba, segundo dados do Secovi-PR (Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná), as assembleias de condomínio saltam de uma taxa de presença de 30% para 70% quando o assunto a ser debatido é vaga para veículos. O que move os condôminos é a disputa por espaço para estacionar os veículos – o desafio das grandes cidades brasileiras.

Capitais com mais automóveis por habitante*
Curitiba-PR: 1.851.215 habitantes. Frota de 1.210.507 – média de 1 carro para 1,53 habitante
Goiânia-GO: 1.281.975 habitantes. Frota de 827.077 – média de 1 carro para 1,55  habitante
São Paulo-SP: 11.037.593 habitantes. Frota de 7.012.795 – média de 1 carro para 1,57 habitante
Florianópolis-SC: 408.161 habitantes. Frota de 248.673 – média de 1 carro para 1,64 habitante
Palmas-TO: 188.645 habitantes. Frota de 99.785 – média de 1 carro para 1,89 habitante
Belo Horizonte-MG: 2.452.617 habitantes. Frota de 1.253.773 – média de 1 carro para 1,96 habitante
Vitória-ES: 320.156 habitantes. Frota de 156.933 – média de 1 carro para 2,04 habitantes
Campo Grande-MS: 755.107 habitantes. Frota de 368.760 – média de 1 carro para 2,05 habitantes
Porto Alegre-RS: 1.436.123 habitantes. Frota de 683.325 – média de 1 carro para 2,10 habitantes
Brasília-DF: 2.606.885 habitantes. Frota de 1.182.308 – média de 1 carro para 2,20 habitantes
Cuiabá-MT: 550.562 habitantes. Frota de 249.294 – média de 1 carro para 2,21 habitantes
Boa Vista-RR: 266.901 habitantes. Frota de 103.116 – média de 1 carro para 2,59 habitantes.
Porto Velho-RO: 382.829 habitantes. Frota de 142.848 – média de 1 carro para 2,68 habitantes.
Aracaju-SE: 544.039 habitantes. Frota de 193.347 – média de 1 carro para 2,81 habitantes.
Natal-RN: 806.203 habitantes. Frota de 262.143 – média de 1 carro para 3,08 habitantes.
Rio de Janeiro-RJ: 6.186.710 habitantes. Frota de 1.991.786 – média de 1 carro para 3,11 habitantes.
Rio Branco-AC: 305.954 habitantes. Frota de 97.893 – média de 1 carro para 3,13 habitantes.
Teresina-PI: 802.537 habitantes. Frota de 256.461 – média de 1 carro para 3,13 habitantes.
João Pessoa-PB: 702.235 habitantes. Frota de 212.713 – média de 1 carro para 3,30 habitantes.
Recife-PE: 1.561.659 habitantes. Frota de 465.038 – média de 1 carro para 3,36 habitantes.
Fortaleza-CE: 2.505.552 habitantes. Frota 666.372 – média de 1 carro para 3,76 habitantes.
Manaus-AM: 1.738.641 habitantes. Frota de 422.039 – média de 1 carro para 4,12 habitantes.
Macapá-AP: 366.484 habitantes. Frota de 85.442 – média de 1 carro para 4,29 habitantes.
São Luís-MA: 997.098 habitantes. Frota de 226.469 – média de 1 carro para 4,40 habitantes.
Maceió-AL: 936.314 habitantes. Frota de 192.582 – média de 1 carro para 4,86 habitantes.
Salvador-BA: 2.998.056 habitantes. Frota de 615.908 – média de 1 carro para 4,87 habitantes.
Belém-PA: 1.437.600 habitantes. Frota de 272.107 – média de 1 carro para 5,28 habitantes.

*Pesquisa IBGE, sobre dados de Denatran, de setembro de 2010

Entrevistado

Eduardo Araújo Junqueira Reis, arquiteto e urbanista ligado à ONG Ruaviva

Currículo
– Graduado em Arquitetura, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP)
– Possui mestrado em Engenharia Urbana, pela Universidade Federal de São Carlos (SP)
– Curso de aperfeiçoamento em 1983: La Sécurité des Piétons en Milieu Urbain, École Nationalle des Ponts et Chaussées, em Paris (França)
– Foi diretor de Trânsito da BHTRANS e da Secretaria de Transportes de Santo André (SP), onde coordenou programas de segurança e cidadania no trânsito
– Atualmente é consultor em trânsito e Diretor do RuaViva, Instituto da Mobilidade Sustentável

Contato: eduardo@ruaviva.org.br

Crédito foto: Divulgação/ Ruaviva

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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