Da régua de cálculo ao BIM, o que mudou na engenharia?

Professor Mario Franco conta como obras construídas há 60 anos ainda servem de referência, e de que forma a tecnologia influencia novos projetos
13 de dezembro de 2012

Da régua de cálculo ao BIM, o que mudou na engenharia?

Da régua de cálculo ao BIM, o que mudou na engenharia? 682 1024 Cimento Itambé

Uma das maiores autoridades em engenharia do Brasil, Mario Franco criou um museu particular onde é possível viajar ao longo de 60 anos na história das estruturas. Mesclando equipamentos primordiais, como a régua de cálculo, com seu vasto conhecimento, Franco, atualmente com 83 anos, traça uma linha do tempo que mostra ferramentas, metodologias e a evolução dos projetos que nortearam principalmente as construções de edifícios no país – desde a década de 1950 até os dias atuais.

Mário Franco: decano da engenharia civil brasileira.

Nos anos 1950, fazendo da régua de cálculo uma companheira inseparável, os projetistas se baseavam no Método de Cross para criar vigas contínuas e pórticos indeslocáveis e deslocáveis, e que se resolviam apenas com as quatro operações fundamentais. Foi assim que surgiram verdadeiras obras de arte, como o teatro Castro Alves, em Salvador, e o edifício Itália, em São Paulo, o qual foi concebido com pilares de 12 centímetros de espessura e tornou-se o primeiro do país a contar com degraus balanceados nas escadas.

Ao final dos anos 1960 surgiram as primeiras máquinas eletrônicas, que trouxeram incorporadas teclas que permitiam calcular a raiz quadrada. Ao preço de um carro popular da época, esses equipamentos foram os precursores dos computadores e começaram a decretar a aposentadoria da régua de cálculo. Um símbolo daquela época foi a Olivetti Programma 101, que possibilitou evoluções significativas nos projetos de lajes. “Surgiram os primeiros programas matriciais, sem contar que nessa época éramos muitos bons de matemática”, recorda Franco.

Toda essa “tecnologia” permitiu a criação de construções mais esbeltas. Em São Paulo, o escritório de Mario Franco – o JKMF – projetou um prédio-garagem de 90 metros de altura e 9 metros de largura. Também rendeu ao engenheiro estrutural um prêmio internacional, com a criação do edifício Peugeot, que seria construído em Buenos Aires, na Argentina, e se propunha a ser o maior do mundo em concreto armado. Infelizmente, o projeto não saiu do papel, mas abriu portas para novos avanços.

Com o surgimento de calculadoras eletrônicas, como a Contex, veio a oportunidade de projetar vigas contínuas e de se pensar na protensão de edifícios. Já entre o final dos anos 1960 e o início dos anos 1970, usando programas de análises matriciais que permitiam cálculos de meio elástico contínuo, surgiu a primeira construção industrial em pré-fabricado no Brasil. Foi a fábrica da Gessy Lever, em Indaiatuba-SP. “Ficou tão bom o projeto que os ingleses levaram a ideia para construir outras fábricas pelo mundo afora”, recorda Mario Franco.

A grande “evolução”, porém, ocorreu na década de 1980, quando a calculadora HP 9845, da Hewllet Packard, possibilitou projetar as primeiras vigas em Concreto de Alto Desempenho (CAD) e se pensar na estabilidade global dos edifícios usando o método P-Delta. O símbolo desta fase é o edifício do Citibank, com 93 metros de altura e 20 andares, considerado até hoje um dos marcos arquitetônicos da Avenida Paulista, em São Paulo. “Para projetar aquele edifício, também precisamos contar com a intuição”, releva Mario Franco.

Com a chegada dos anos 1990 vieram os PCs, os quais mergulharam a engenharia estrutural no que os especialistas chamam de “época gloriosa”. Pelo motivo de que os computadores permitiram a automatização dos projetos, acoplados a ensaios aerodinâmicos e análises de vibração. Conforme as máquinas foram evoluindo, vieram projetos de prédios mais complexos. “As ferramentas possibilitaram criar edifícios inteligentes, com integração interdisciplinar e focados na busca da qualidade total. Hoje, vivemos a era do BIM (Building Information Modeling) e da valorização da robustez. E o que é robustez? É a capacidade que uma estrutura tem de resistir ao imprevisível. É para isso que toda essa evolução nos trouxe”, finaliza Mario Franco.

Entrevistado
Mário Franco, engenheiro especializado em cálculos estruturais
Currículo
– Nascido em Livorno, Itália, em 1929, Mario Franco é graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP, em 1951, e tem doutorado pela mesma escola, em 1967
– Foi professor da FAU/USP entre 1971 e 1998
– É considerado uma das maiores autoridades em engenharia estrutural do país
– Desde 1952 comanda o escritório da KPMF, junto com seu sócio Julio Kassoy
Contato: jkmf@jkmf.com.br / http://www.jkmf.com.br

Créditos foto: Divulgação/ABECE

Jornalista responsável: Altair Santos - MTB 2330
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