Material submerso no ambiente marinho tem que estar preparado para sofrer uma série de agressões ao longo do seu tempo de vida
Por: Altair Santos
O concreto submerso no ambiente marinho tem que estar preparado para sofrer uma série de agressões ao longo do seu tempo de vida. Essa agressividade se potencializa em zonas sujeitas a ciclos de molhagem e secagem, como no caso de quebra-mares, pilares de ponte semissubmersos e outras estruturas. A variação das marés propicia manifestações patológicas, sendo que a mais frequente é a corrosão das armaduras, devido à carbonatação e ataque de cloretos presente na água do mar. A abrasão superficial do concreto também é comum, em casos de estruturas submetidas a impacto direto das ondas do mar e de embarcações.
Atualmente, as normas ABNT NBR 12655 – Concreto – Preparo, Controle e Recebimento – e ABNT NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento – classificam as regiões sujeitas a respingos ou variação de marés como de agressividade muito forte ou nível IV, com elevado risco de deterioração da estrutura, o que prescreve cobrimentos maiores, menor relação água/cimento e, consequentemente, maior resistência do concreto à compressão. Já as estruturas totalmente submersas não sofrem os mesmos problemas, por não terem ciclos secos e úmidos, e também por não haver presença de oxigênio.
Segundo o engenheiro civil Douglas de A. Couto, e especialista em manifestações patológicas em estruturas de concreto, além das recomendações das normas técnicas, as tecnologias atuais também permitem o uso de adições minerais, tipo sílica ativa e aditivos redutores de água, como alternativas extremamente viáveis para melhorar a compacidade do concreto. “Quando necessário, proteções superficiais podem ser aplicadas, como as bases poliuretano e poliuréia, por exemplo”, explica. Já quanto ao tipo de cimento a ser utilizado, ele recomenda verificar o tipo de peça estrutural e seu volume. “Em peças de grande volume, sugere-se o uso de cimentos tipo CP-III e CP-IV, devido ao seu baixo calor de hidratação, quando comparado aos outros tipos de cimento. Em geral, é preciso primeiramente se observar a disponibilidade dos cimentos na região da obra, e estudar a alternativa mais viável do ponto de vista técnico e econômico”, sugere.
Ações físicas
Além das ações químicas, as estruturas de concreto expostas à água do mar sofrem também com as ações físicas causadas pelas ondas e marés. “Os impactos são os piores possíveis. Além do ataque químico, o concreto sofre abrasão por causa das ondas. Em estruturas executadas com concreto de resistência inadequada, e com pouco cobrimento das armaduras, esses ciclos podem ocasionar o desplacamento do concreto, e iniciar o processo de corrosão das armaduras em pouco tempo, diminuindo drasticamente a vida útil da estrutura”, alerta Douglas de A. Couto.
O especialista afirma ainda que o concreto, se especificado, dosado e executado adequadamente para o fim ao qual se destina, pode, por si só, ser suficiente para garantir durabilidade a uma estrutura, seja ela qual for. No entanto, ele apoia o uso de aditivos cristalizantes, com o objetivo de diminuir a permeabilidade do material. “Em estruturas marítimas de concreto aparente ou similares, essa é uma alternativa interessante. Assim como as adições minerais pozolânicas, que melhoram muito o empacotamento das partículas no concreto, conferindo menor porosidade e, consequentemente, maior resistência às intempéries. No caso de estruturas sujeitas aos efeitos do mar, a utilização dessas adições também melhora muito o desempenho do concreto frente aos agentes agressivos”, conclui.
Entrevistado
Douglas de A. Couto, pesquisador de concretos de alta resistência em projetos estruturais
Currículo
– Douglas de A. Couto é graduado em engenharia civil pela Escola de Engenharia de Piracicaba (2009)
– Foi membro da equipe de pesquisa sobre concreto de alto desempenho da Escola de Engenharia de Piracicaba e segue como pesquisador de concretos de alta resistência, em projetos estruturais, reforço de estruturas de concreto, análise dinâmica de estruturas e estudo de manifestações patológicas
– Atualmente, é mestrando do programa de pós-graduação em engenharia civil do departamento de engenharia de estruturas e geotécnica da Escola Politécnica da USP
– É engenheiro civil associado à empresa PhD Engenharia Ltda. e diretor da empresa DCR Engenharia e Projetos Ltda., atuando nas áreas de projeto, patologia, inspeção, reforço e recuperação de estruturas de concreto
Contato: douglas.couto@concretophd.com.br
Créditos fotos: Divulgação