Concurso Habitação para Todos: Casas térreas

8 de dezembro de 2010

Concurso Habitação para Todos: Casas térreas

Concurso Habitação para Todos: Casas térreas 150 150 Cimento Itambé

Projeto vencedor na categoria enfocou a felicidade, o bem-estar na qualidade de vida dos moradores

Por: Michel Mello

Blocos modulares rompem a monotonia dos antigos conjuntos habitacionais e trazem mais alegria e bem-estar às HIS

O Concurso Nacional de Projeto de Arquitetura de Novas Tipologias para Habitação de Interesse Social Sustentáveis (HIS Sustentáveis), premiou em primeiro lugar na categoria de Unidade Unifamiliar Térrea, ou simplesmente casas térreas, o projeto número 03 da equipe do escritório 24.7 Arquitetura, de Campinas (SP). O grupo é formado pelos arquitetos Giuliano Pelaio, Gustavo Tenca e Inacio Cardona, que conversaram com o Massa Cinzenta.

Para o arquiteto Gustavo dos Santos Corrêa Tenca, um dos idealizadores do projeto, “o maior desafio foi a busca por uma solução lógica e racional capaz de demonstrar que a qualidade de uma habitação não deve corresponder apenas ao padrão econômico de uma determinada classe social, mas sim, aos conhecimentos técnicos do seu momento histórico, rompendo um paradigma antigo e dominante de que as casas populares devem ser marcadas pela simplicidade de suas construções”.

Esse concurso é fruto de uma parceria entre o Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção São Paulo (IAB-SP), e da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) e teve por objetivo fomentar a produção de projetos arquitetônicos em diferentes categorias habitacionais na esfera pública estadual.

Projeto

Detalhes da vista da fachada dupla da Unidade Unifamiliar Térrea a serem implantados em novos conjuntos habitacionais

Um dos diferenciais do conceito vencedor foi a concepção de um projeto bioclimático que, além de considerar a felicidade e o bem-estar dos futuros moradores, enfocou a qualidade de vida. Isto significa que, além de um bom sistema natural de ventilação dos edifícios, é necessária uma alta inércia térmica, ou seja, um pequeno efeito de estufa que ocorre no interior da residência através da radiação solar direta em áreas envidraçadas e de uma correta orientação para o norte.

O projeto se aproveita ao máximo dos recursos naturais, tais como o sol (para esquentar a casa), o vento (para refrescar e regularizar a alta umidade) e a água da chuva (para regar o jardim e descarga do banheiro).

Na parte externa foi utilizada uma pintura a base de cal virgem que permite a troca de calor através da própria alvenaria. Outro ponto importante é que foram utilizadas telhas termoacústicas do tipo sanduíche, aumentando o desempenho e o conforto para essas habitações.
 
O projeto consiste na idealização de uma casa compacta que possa dar mais liberdade aos seus moradores, inclusive, com espaços livres dentro de suas dependências sem deixar de lado a qualidade visual e volumétrica. A preocupação com a fachada, a identidade, a heterogeneidade e a descompactação do tradicional modelo da casa retangular foram pontos chaves na elaboração dessa proposta.

A modularidade imposta pelo sistema construtivo é visto como um fator muito positivo, já que se eliminam os resíduos sólidos da construção, otimizando o tempo de construção. De fato, o simples e tradicional método construtivo permite que os próprios usuários possam construir mais da metade da residência sem a mão de obra especializada.

Casa

A residência consiste em um conceito reduzido, que foi resolvido a partir de dois blocos estruturais lineares interligados por um terceiro bloco com funções distintas. Um módulo para os dormitórios e o banheiro, outro para a área de serviços (cozinha e lavanderia) e um terceiro – de ligação – que abriga a sala de refeições e a sala de estar.
 
Existem dois tamanhos de habitação. O primeiro, com dois quartos, foi pensado para abrigar quatro habitantes e tem 53,10 m² de área. E o outro, com três quartos, foi planejado para seis habitantes e possui área de 61, 65 m².

O concurso foi pensado para obras públicas executadas pela CDHU do estado de São Paulo. Um dos critérios estabelecidos é a taxação do metro quadrado. Para a categoria de casas térreas o valor do m² fica entre R$ 950,00 a R$ 1.150,00 Com isso os valores ficam:
a) 53,10 m² = R$ 56 mil no total; e
b) 61,65 m² = R$ 63 mil no total.

Os arquitetos Gustavo Tenca, Inacio Cardona e Giuliano Pelaio da equipe responsável pelo projeto: novos conceitos

Giuliano Pelaio, um dos arquitetos da equipe, garante que “o formato alongado e estreito visa garantir a iluminação e radiação direta total dos ambientes da casa, já que, de acordo com a inclinação do sol para a latitude das cidades do estado de São Paulo, o formato quadrado ou retangular de certas dimensões impossibilitaria o alcance da luz em toda a sua extensão. O mesmo terreno, com as mesmas dimensões, foi pensado para abrigar a casa de dois e três dormitórios, prevendo, assim, a expansão de mais um dormitório da menor habitação (53,10 m²), em caso de crescimento do número de integrantes da família”.

O conceito fundamental das residências parte de uma modulação simples de 0,90 m. Essa ideia surge a partir de um estudo sobre um denominador comum que pudesse atender tanto as necessidades da construção como as necessidades básicas de acessibilidade. As habitações foram construídas com blocos estruturais nos módulos de 0,90 m, o qual é usado quando se utilizam blocos estruturais de concreto da família 29 (29 x 14 cm). Além disso, a modulação de 0,90 m permite acessibilidade ao cadeirante, que pode realizar um deslocamento ideal no interior da residência.

Opinião dos moradores

Pelaio acrescenta: “Acreditamos que a qualidade dos espaços projetados influencia diretamente na qualidade de vida e bem-estar dos ocupantes e foi assim que procuramos trabalhar. Contamos com a opinião de moradores do atual sistema habitacional do CDHU e estivemos dispostos a ouvir e compreender a respeito das atuais carências, problemas, necessidades, preocupações e anseios, a fim de desenvolver um trabalho com a aprovação do usuário final”.

A equipe do projeto trabalhou em conjunto com a CDHU e aplicou questionários e entrevistas com moradores de outros conjuntos habitacionais do estado de São Paulo. Entre as várias questões colocadas pelos moradores estava a necessidade de segurança nas casas. “Uma demanda dos moradores é que o projeto fosse fechado com muros. Outro ponto curioso foi que muitos desses moradores apontaram a necessidade de ter uma lavanderia coberta para poderem lavar as roupas a noite”, destaca Tenca.

Layouts

Os moradores podem intervir e criar os mais diferentes tipos de layouts externos em suas residências de acordo com as necessidades de cada família. O mais importante é que, mesmo tendo a mesma concepção, cada casa pode ter uma identidade visual totalmente diferente. As fachadas podem ser facilmente modificadas, se alteradas as cores da caixa d’água e núcleo central e os elementos de fechamento frontal utilizados na frente da lavanderia. “Esses itens são suficientes para se conseguir diferenciar uma casa da outra, mudando o aspecto de que todas as casas são exatamente iguais”, afirma Gustavo Tenca.

Paradigmas e rompimentos

Inacio Cardona defende que, “o projeto também rompe como paradigma de que habitações de programas habitacionais precisam ser todas iguais de forma hegemônica. A ideia de rompimento da monotonia causada pela repetição em grande parte do atual sistema de habitação de interesse social no Brasil, nos fez pensar na possibilidade de diferentes identidades que as casas poderiam alcançar”.

É consenso entre os autores que “os atuais padrões de habitação popular são feitos de modo rápido e com má qualidade. Essas unidades habitacionais podem ter uma rápida construção, porém também podem ser sinônimo de baixa qualidade e baixo desempenho”, assegura Tenca.

Cardona acerta que, “os espaços podem ser iluminados naturalmente, com ventilação constante e pátios internos que procuram aumentar a qualidade de vida dos moradores. Desejamos que não exista a criação de guetos em periferias e sim a ocupação de vazios urbanos centrais, compactando as cidades”.

Pelaio defende “a minimização dos gastos com a manutenção das residências, por isso devemos escolher sempre materiais resistentes, de boa qualidade e de longa vida útil. E não pensar somente nos lucros oriundos da economia de materiais. Como é caso de muitos programas habitacionais que são feitos atualmente”.
Interessa? Confira a sequência dos projetos vencedores do Concurso Nacional de Projeto de Arquitetura de Novas Tipologias para Habitação de Interesse Social Sustentáveis (HIS Sustentáveis) nas próximas edições do Massa Cinzenta Itambé.

Deixe sua opinião sobre o projeto.

Veja também:
http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/concurso-habitacao-para-todos/

>> Entrevistados:

Gustavo Tenca
>> Currículo
– Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
– Cursou a Escuela Técnica Superior de Arquitectura da Universidad de Sevilla, em Sevilha, Espanha.

Giuliano Pelaio
>> Currículo
– Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-Campinas.
– Pós-graduado em Sistemas Tecnológicos e Sustentabilidade Aplicados ao Ambiente Construído pela Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG).
– Master em Arquitetura Sustentável na cidade de Valência, Espanha, pela Asociación Nacional para la Vivienda del Futuro (ANAVIF).

Inacio Cardona
>> Currículo

– Graduado em Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas.
– Cursou a School of Architecture da Oklahoma State University em Stillwater – OK, EUA.
>> Contato: 24.7arquitetura@gmail.com

Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content
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