Arquitetura Bioclimática vira referência para construções

23 de julho de 2009

Arquitetura Bioclimática vira referência para construções

Arquitetura Bioclimática vira referência para construções 150 150 Cimento Itambé

Conceitos que levam em consideração o clima e o ambiente ganham relevância na elaboração de obras

Marta Adriana Bustos Romero: Brasil é referência em Arquitetura Bioclimática graças à Norma ABNT do Zoneamento Bioclimático Brasileiro

Marta Adriana Bustos Romero

Construções que respeitam o meio onde estão inseridas, levando em consideração os aspectos climáticos e culturais. A isso se denomina Arquitetura Bioclimática. O conceito é relativamente novo e completou 10 anos em 2008.

Uma das principais referências mundiais é a revolução arquitetônica feita na região portuária de Lisboa (Portugal), para receber a Expo 1998. “Lá foram aproveitados princípios de uso das tecnologias passivas para a climatização dos edifícios do evento. As obras revitalizaram o local sem agredir a energia do ambiente. É, sem dúvida, um excelente exemplo de bioclimatismo”, explica a professora da UnB (Universidade de Brasília), Marta Adriana Bustos Romero.

Autora de uma coleção de livros sobre o assunto, a especialista defende que todo repertório do meio ambiente urbano (edifícios, vegetação, praças e mobiliário urbano) deve ser desenhado em combinação com o objetivo de satisfazer as exigências de conforto do homem e da interação social. “Em resumo, a concepção arquitetônica deve servir de mediadora entre o homem e o meio onde a obra é construída”, diz, citando que o Brasil é referência em Arquitetura Bioclimática graças à Norma ABNT do Zoneamento Bioclimático Brasileiro. “Ela balizou governos e organismos de classe e os fez interagirem sobre o tema, além de estimular certificações que colocam o país entre um dos que têm leis mais modernas sobre o assunto”, revelou.

Marta Adriana Bustos Romero cita alguns cases de construções grandiosas, mas que não se tornaram invasivas. Uma delas é o Shopping Galeria, em Campinas, cuja obra utilizou técnicas de acondicionamento ambiental passivo, sem o uso intensivo de ar condicionado. “Trata-se de um shopping aberto, com um tratamento paisagístico muito bem realizado”, diz. Ela também ressalta edificações que preservaram fachadas antigas como bons exemplos de Arquitetura Bioclimática: “Tudo o que preserva a cultura e faz parte da identidade do homem se entende como bioclimático”.

A tese defendida pela pesquisadora é que se todas as obras aplicassem conceitos bioclimáticos, levando em conta aspectos e critérios como localização, ventos, incidência de raios solares, vegetação e qualidade do ambiente construído, hoje não se falaria tanto em patologias da construção. “Infelizmente, algumas edificações já prontas, e doentes, estão buscando as respostas no bioclimatismo para se curarem. O custo desta recuperação é um desperdício, caso elas tivessem sido erguidas sob preceitos bioclimáticos”, atesta.

Bem nascidos
Para a professora da UnB, dois grandes projetos em andamento no Brasil, que são o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida e a construção de estádios para a Copa de 2014, estão bem nascidos sob o ponto de vista do bioclimatismo. “O projeto Minha Casa, Minha Vida prevê o uso da energia solar térmica em substituição aos chuveiros elétricos. Além disso, está prevista a aplicação de outras soluções sustentáveis como o reaproveitamento de água, sistemas de coleta e tratamento de esgoto e uso de madeira de origem certificada. Também, no programa, as tecnologias e materiais ambientalmente sustentáveis vão variar dependendo da região do país. Isso é propriamente arquitetura bioclimática”, comenta.

Sobre os estádios, Marta Adriana Bustos Romero afirma que o Brasil deve perseguir modelos de dois recentes acontecimentos esportivos: as Olimpíadas de Sidney, em 2000, na Austrália, e a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. “Esse dois eventos incorporaram os princípios do bioclimatismo e se aproximaram o máximo possível de construções sustentáveis. Cito o estádio de Allianz Arena, em Munique, como modelar. Ele faz a reutilização de águas pluviais, tem elementos zenitais bloqueadores do sol e painéis-membrana de ETFE (etileno-tetrafluoretileno), formando almofadas infladas resistentes a mudanças climáticas. Isso funciona como colchão de ar com propriedades de isolamento térmico, entre outros princípios”, diz, mostrando que tecnologia e Arquitetura Bioclimática são compatíveis, e não o contrário.

Entrevistada
Marta Adriana Bustos Romero: romero@unb.br
Graduação pela Universidad de Chile e pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1978), Especialização em Arquitetura na Escola de Engenharia, USP de São Carlos (1980). Mestrado em Planejamento Urbano pela Universidade de Brasília (1985) e Doutorado em Arquitetura – Universitat Politecnica de Catalunya (1993), Pós Doutorado em Lanscape Architecture na PSU (2001). Atualmente é professora Associada I da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo, atuando principalmente nos seguintes temas: sustentabilidade, bioclimatismo, desenho urbano, espaço público e arquitetura e clima. Líder do Grupo de Pesquisa “A Sustentabildade em Arquitetura e Urbanismo”, coordena o Laboratório de Sustentabilidade Aplicada – LaSUS. Coordena Curso de Especialização à Distancia, Lato Sensu “Reabilita – Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanistica”.
Autora das obras: Princípios Bioclimáticos para o Desenho Urbano,
Sistemas Construtivos, As Modalidades de Construção Tecnologicamente Significativas, Arquitetura Bioclimática dos Espaços Públicos e Reabilitação Ambiental Arquitetônica e Urbanística.

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação

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