Brasil tem safra recorde, que não consegue escoar por estradas esburacadas, ferrovias precárias e portos estatais que não funcionam
Por: Altair Santos
Pará, Mato Grosso, Tocantins, Rondônia, Acre, Goiás e Mato Grosso do Sul são hoje os condutores do agronegócio brasileiro. Estados localizados nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, boa parte do que produzem escoa pela rodovia conhecida como Cuiabá-Santarém (BR-163). São 1.770 quilômetros, dos quais 1/3 não tem pavimento e metade é mal sinalizada. Mesmo assim, só por transporte rodoviário é possível levar a safra de grãos aos terminais portuários, principalmente os de Santos-SP e Paranaguá-PR. As ferrovias existentes nestas regiões não se interligam com os portos.
As hidrovias também carecem de uma infraestrutura que permita a elas ser mais competitivas. Mesmo com toda a precariedade, levar a colheita pelas estradas é mais rápido e mais barato. Só que poderia ser muito mais rápido e muito mais barato, como explica o consultor Luís Antônio Fayet, especialista em agronegócios e logística. “Tivemos um grande crescimento do agronegócio, numa região que não tinha nada de infraestrutura. Nem porto, nem rodovia, nem ferrovia, nada. Isso determinou um grande atraso. Desde 2007 denuncio o risco de um apagão portuário, mas as autoridades federais foram omissas neste processo”, diz.
Fayet refere-se ao efeito cascata que os gargalos de infraestrutura causam. Como não há um sistema de armazenamento adequado, toda a safra escoa praticamente ao mesmo tempo para os portos, de onde são exportadas, causando congestionamentos nas estradas e demora no embarque dos navios. “No Brasil, há 50 anos éramos importadores de comida e hoje somos o segundo maior fornecedor deste mercado internacional. E vamos passar a ser o primeiro até o fim da década. Portanto, o agronegócio é o corpo e a alma da economia brasileira. A infraestrutura do país precisa acompanhar esse crescimento”, ressalta o consultor.
Ainda de acordo com o especialista, o governo federal está atacando agora um problema que tinha que ser enfrentado há dez anos. A assertiva do poder público, destaca Fayet, está em priorizar rodovias e ferrovias, criando um plano de concessões para esses dois modais. “Só que o governo cometeu o pecado de querer fazer tudo de uma vez só. A velocidade que o governo quer dar às licitações ferroviárias e rodoviárias prejudica a qualidade das implantações. As entidades do setor privado têm alertado o governo”, destaca, avaliando que, à reboque do crescimento do agronegócio, inevitavelmente a construção civil irá se beneficiar. “As grandes obras virão. É uma prioridade do país para sustentar o agronegócio“, afirma.
Só que enquanto a infraestrutura do país não se moderniza, pelo menos 20% da produção agrícola nacional se perde no trajeto entre a colheita e o porto – boa parte é resultado das péssimas condições das estradas sob o controle dos estados e do governo federal. Esse percentual representa um desperdício de cerca de 30 milhões de toneladas ou R$ 10 bilhões. Para enfrentar esse problema, Fayet defende que as distâncias precisam ser encurtadas. “As novas fronteiras precisam de novas oportunidades de escoamento, que não se limitem a Santos e Paranaguá”, finaliza.
Entrevistado
Luís Antônio Fayet, consultor em agronegócio e logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
Currículo
– Luís Antônio Fayet é graduado em economia. Atua como consultor em agronegócio e logística pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
– Foi presidente do Banco de Desenvolvimento do Estado do Paraná (Badep) e presidiu também o extinto Banestado, além de compor a diretoria de crédito rural do Banco do Brasil
Créditos fotos: Leandro J. Nascimento / Agrodebate / Divulgação